Na SPFW, alfaiataria vira roupa tanto para o escritório quanto para a balada
Igor Dadona e Gefferson Vila Nova reinventam costura clássica na semana de moda de São Paulo
Igor Dadona iniciou a quinta-feira (25) na São Paulo Fashion Week, ou SPFW, apresentando a coleção masculina “Colosso”. O designer mesclou a alfaiataria clássica com o desejo por uma festa elegante. Os modelos —todos com glíter prateado no rosto e joias cintilantes da Swarovski— usaram peças que misturam a seriedade e a elegância dos escritórios com o lúdico.
Camisas brancas decoradas com bolinhas pretas conviveram em harmonia na passarela com shorts, por exemplo. O vermelho exuberante de suéteres com um círculo aberto no peito e casacos de lã tweed ostentaram texturas vívidas e suéteres com abotoados brilhantes também apareceram.
As cores onipresentes foram preto, bege, branco, marrom, cáqui e cinza, e a vibe onipresente foi a da roupa versátil — seja no escritório, seja na pista de dança, a alfaiataria permanece elegante mesmo quando assume contornos lúdicos.
Se você ainda tem alguma dúvida a respeito da alfaiataria como “o” fio condutor das tendências atuais, a estreia de Gefferson Vila Nova poderia encerrá-la facilmente. O estilista galvanizou a plateia —que contou com a presença de Sabrina Sato na fila A— com uma coleção inspirada no paisagismo de Roberto Burle Marx e na arquitetura modernista de Oscar niemeyer.
As peças de alfaiataria seguem a linha minimalista e elegante do “quiet luxury”, em que branco, preto, azul marinho, creme e off white propõem relaxamento e casualidade em meio à natureza.
Calças ou shorts e regatas estilizadas com furos de diferentes dimensões ocuparam a passarela acompanhados de chapéus de palha, sandálias Havaianas e correntes decorando bolsos e cinturas.
Bolsos, aliás, também foram onipresentes, em ambos os lados do peitoral, em camisas de manga curta e longa, frequentemente com estampas de plantas. A textura dominante foi lisa, embora algumas peças de lã fina tenham comparecido, assim como as listras e o xadrez, usados ou não em sobreposições.
A fluidez, seja dos movimentos do corpo, seja de gênero, também foi contemplada. Ao fim do desfile, Vila Nova caminhou pela passarela sob o ruído estrondoso de aplausos de uma plateia conquistada.
Mais tarde, a coleção de Patricia Vieira —estilista especializada em couro cortado a laser e de aparência metalizada— foi incendiária, o que talvez explique a sala lotada e a disputa por lugares, mas não a entrada desorganizada.
Modelos brancas e negras, além de uma trans, uma grisalha e uma plus size, ao som de Mutantes e Rita Lee, exibiram looks que cintilaram à meia-luz da passarela e realçaram os diferentes modos da beleza feminina ser expressa.
Vermelho, rosa, verde e preto ganharam vida em vestidos, saias de diferentes comprimentos, calças e conjuntos adornados com flores e plantas texturizadas no tecido. Um deslumbrante vestido dourado, rente ao corpo da modelo negra, elevou o burburinho na plateia a reações sonoras.
Vieira encerrou o desfile impressionando a plateia com um vestido de noiva de um véu longuíssimo estilizado com botões de flores. Como se a modelo fosse sua noiva, Vieira entrou na passarela usando seu característico jaleco branco e de braços dados com a modelo. A estilista chorou ao ser aplaudida. O casamento, como se viu, foi da estilista com seu desfile.
A passagem de Patricia Vieira pela SPFW foi também uma espécie de investigação sobre as personalidades possíveis da mulher contemporânea —mas não foi fácil deixar de lado o fato de que aquelas lindas peças também eram feitas de restos de bichos mortos.
Depois, por outro lado, a temperatura foi abaixo do zero com o desfile da TA Studios, marca do Rio de Janeiro fundada por Gih Caldas. A coleção “Empinando Pipas e Sonhos”, pelo visto, é um bocado pessoal para a autora. “Nasci grande, mas me fizeram pequena”, afirmou um manifesto antes do desfile. “Pobre de posses, espírito e vida”. As roupas remeteriam, então, a uma infância a ser repensada.
A coleção, portanto, simbolizou uma projeção otimista para o futuro, mas as caras de ponto de interrogação na plateia mostram que a estilista talvez tenha embarcado sozinha nessa. Saias, calças e camisas cortadas de maneira que remete à forma geométrica de uma pipa foram ofuscadas por perucas vestidas pelos modelos, que mais se pareciam aranhas com longas patas apontando em todas as direções. Muitos usaram pipas nas costas, como se elas fossem mochilas.
Destacaram-se camisas e calças pretas decoradas com pontinhos coloridos —e, mais uma vez, a alfaiataria foi fundamental. Um modelo asiático sem camisa, exibindo o corpo musculoso e todo tatuado, chamou atenção ao andar pela passarela com uma mochila nas costas e uma calça bege de alfaiataria com um quê da linguagem urbana.
A edição 55 da semana de moda de São Paulo segue até domingo (28), com desfiles ocupando diversos locais da capital paulista. Uma das apresentações mais esperadas é a de Walério Araújo, que mostrará uma coleção em homenagem a Elke Maravilha.
As peças de alfaiataria seguem a linha minimalista e elegante do “quiet luxury”, em que cores como branco, preto, azul marinho, creme e off white propõem relaxamento e casualidade em meio à natureza
Os modelos desfilaram com peças que misturam a seriedade e a elegância dos escritórios com o lúdico que toma conta da noite