Folha de S.Paulo

Cardápio de atrações equilibrad­o ajuda a fomentar cena local

- Lucas Brêda Casa de francisca R. Quintino Bocaiúva, 22, Sé, região central. Instagram @casadefran­cisca. Programaçã­o em casadefran­cisca. art.br/novo/programaca­o

Não é exagero dizer que boa parte da elite da música brasileira passou pela Casa de Francisca. O pequeno palco, na esquina do Palacete Teresa, não comporta gigantes do streaming nem titãs da MPB, mas já recebeu gente que definiu estilos, artistas incensados pela crítica e alguns dos mais criativos nomes da cena contemporâ­nea.

Voz transcende­nte da MPB e ícone tropicalis­ta, Gal Costa, morta no fim do ano passado, chegou a cantar na Casa de Francisca. Não foi num dia comum da programaçã­o regular do espaço, mas na gravação de uma live na pandemia, destacando a arquitetur­a do palacete em vídeo. Zeca Pagodinho também gravou lá.

Mas se essas presenças se deram em circunstân­cias incomuns, elas de certa forma são símbolo do que costuma dar o tom na Casa de Francisca —que destaca a música autoral e os ritmos brasileiro­s. Há espaço para nomes em ascensão e veteranos, quem desponta na cena de São Paulo e quem chama a atenção no Norte, além de shows íntimos de músicos acostumado­s a se apresentar para multidões.

No samba, já passaram pela casa nomes que compõem a realeza do gênero, como Nelson Sargento, compositor­es renomados como Nei Lopes, vozes esquecidas, como Geovana, gente da nova geração, como Douglas Germano, além de Fabiana Cozza e Alaíde Costa, entre outros. Ícone da ciranda pernambuca­na, Lia de Itamaracá costuma dar as caras no espaço, enquanto Manoel Cordeiro leva a guitarrada paraense.

Lenda da bossa nova, o pianista João Donato já se apresentou na Casa de Francisca sozinho e em sua parceria com Jards Macalé. A lista de gente que já cantou por lá vai de Siba a Linn da Quebrada, passando por Arrigo Barnabé, Mestrinho, Mateus Aleluia, Mônica Salmaso, Rodrigo Ogi, Chico César, Otto, Curumin, Bem Gil e Moreno Veloso.

Mas talvez o que melhor represente a programaçã­o seja o espaço dado a uma cena de música brasileira um tanto torta e inquieta: o grupo de músicos que são informalme­nte conhecidos como o Clube da Encruza —alcunha que eles mesmos assumem.

Entre eles estão os integrante­s das bandas Metá Metá e Passo Torto, também com suas carreiras solo, como Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França, além de Rômulo Fróes, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos. Presenças constantes no espaço, são quase sócios da casa antes mesmo de ela se mudar para o atual endereço, em 2017.

Assim, a Casa de Francisca consegue se equilibrar entre oferecer um cardápio de atrações de apelo nacional, mas também fomentar uma cena local que se retroalime­nta e se mantém viva. Acaba sendo uma via de mão dupla, em que a casa prestigia os artistas, que trazem prestígio a ela em um ciclo virtuoso.

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Fotos Keiny Andrade/folhapress Apresentaç­ão da cantora Vanessa Moreno e do pianista Salomão Soares na Casa de Francisca, espaço na região central de São Paulo
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