Cardápio de atrações equilibrado ajuda a fomentar cena local
Não é exagero dizer que boa parte da elite da música brasileira passou pela Casa de Francisca. O pequeno palco, na esquina do Palacete Teresa, não comporta gigantes do streaming nem titãs da MPB, mas já recebeu gente que definiu estilos, artistas incensados pela crítica e alguns dos mais criativos nomes da cena contemporânea.
Voz transcendente da MPB e ícone tropicalista, Gal Costa, morta no fim do ano passado, chegou a cantar na Casa de Francisca. Não foi num dia comum da programação regular do espaço, mas na gravação de uma live na pandemia, destacando a arquitetura do palacete em vídeo. Zeca Pagodinho também gravou lá.
Mas se essas presenças se deram em circunstâncias incomuns, elas de certa forma são símbolo do que costuma dar o tom na Casa de Francisca —que destaca a música autoral e os ritmos brasileiros. Há espaço para nomes em ascensão e veteranos, quem desponta na cena de São Paulo e quem chama a atenção no Norte, além de shows íntimos de músicos acostumados a se apresentar para multidões.
No samba, já passaram pela casa nomes que compõem a realeza do gênero, como Nelson Sargento, compositores renomados como Nei Lopes, vozes esquecidas, como Geovana, gente da nova geração, como Douglas Germano, além de Fabiana Cozza e Alaíde Costa, entre outros. Ícone da ciranda pernambucana, Lia de Itamaracá costuma dar as caras no espaço, enquanto Manoel Cordeiro leva a guitarrada paraense.
Lenda da bossa nova, o pianista João Donato já se apresentou na Casa de Francisca sozinho e em sua parceria com Jards Macalé. A lista de gente que já cantou por lá vai de Siba a Linn da Quebrada, passando por Arrigo Barnabé, Mestrinho, Mateus Aleluia, Mônica Salmaso, Rodrigo Ogi, Chico César, Otto, Curumin, Bem Gil e Moreno Veloso.
Mas talvez o que melhor represente a programação seja o espaço dado a uma cena de música brasileira um tanto torta e inquieta: o grupo de músicos que são informalmente conhecidos como o Clube da Encruza —alcunha que eles mesmos assumem.
Entre eles estão os integrantes das bandas Metá Metá e Passo Torto, também com suas carreiras solo, como Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França, além de Rômulo Fróes, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos. Presenças constantes no espaço, são quase sócios da casa antes mesmo de ela se mudar para o atual endereço, em 2017.
Assim, a Casa de Francisca consegue se equilibrar entre oferecer um cardápio de atrações de apelo nacional, mas também fomentar uma cena local que se retroalimenta e se mantém viva. Acaba sendo uma via de mão dupla, em que a casa prestigia os artistas, que trazem prestígio a ela em um ciclo virtuoso.