Folha de S.Paulo

Espaço valoriza experiênci­a de estar em prédio histórico

- Lucas Brêda

Não dá para chamar de confortáve­l o caminho até a Casa de Francisca. O espaço, localizado na Sé, no centro de São Paulo, fica numa região cada vez mais esquecida pelo poder público, com baixa circulação de pessoas à noite, pouca iluminação e os perigos que os moradores da capital paulista já estão cansados de saber.

Quem vai de carro ao local precisa desembarca­r na esquina das ruas Benjamin Constant e Quintino Bocaiúva e andar pouco mais de 100 metros a pé até a porta do edifício. O entorno contrasta com a beleza imponente do Palacete Teresa, prédio construído no começo do século 20, onde desde 2017 fica a Casa de Francisca.

Mas o desconfort­o fica da porta para fora. Após subir as escadas, ou pegar o elevador até o primeiro andar, o clima é agradável, em um espaço com paredes e teto altos, em que o canto de shows está separado por paredes do bar, da cozinha e da área dos banheiros. Há também um ambiente destacado, com mesas, no qual dá para comer e beber distante de onde as apresentaç­ões acontecem.

Nos dias de música e jantar, é possível pagar pela entrada e pela comida de maneira adiantada, o que evita filas na saída. Mas, mesmo quando a opção é acertar na hora, não há demora para fechar a conta antes de deixar o local.

É muito cômodo assistir aos shows ali independen­temente de qual formato a casa adote em determinad­a noite —no esquema de jantar, com mesas por todo o cômodo, ou com mesas num canto e pista no outro. Há ainda uma área com mesas escalonada­s, em que as cadeiras ficam apenas de um dos lados, ou seja, todas as pessoas ficam de frente para o palco.

Mas a arquitetur­a é o grande diferencia­l da Casa de Francisca. Antes dos shows começarem, um funcionári­o da casa sobe ao palco para conversar com a plateia e explicar a origem daquele local, repleto de portas amplas e altas que dão para uma sacada, onde não é permitido fumar. Décadas atrás, era comum que músicos tocassem ali, virados para a rua.

Hoje patrimônio histórico, o Palacete Teresa abrigou a primeira loja de instrument­os de São Paulo, a Casa Bevilacqua, além da editora de música Irmãos Vitale e a rádio Record, esta no auge do sucesso. Tudo isso fez o lugar ser conhecido como a “esquina musical de São Paulo”.

Estar na Casa de Francisca é entrar em contato com a memória de um centro de São Paulo pujante, em que a estrutura clássica faz um contraste com o descaso e o abandono vistos atualmente. Quando a música preenche o espaço, é como se a própria ideia de um glamour decadente se dissipasse no ar.

Isso porque a programaçã­o da casa privilegia músicos com abordagem contemporâ­nea, muitas vezes escolhendo a experiment­ação, ainda que dialoguem com a tradição, em detrimento da reprodução fidedigna daquilo é considerad­o clássico na música.

Assim, a Casa de Francisca mais amplia e ressignifi­ca do que limita a experiênci­a de estar em um prédio histórico no centro da cidade.

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Fotos Keiny Andrade/folhapress Entrada da Casa Natura Musical, em Pinheiros
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Espaços com mesas de jantar na Casa de Francisca, no centro de São Paulo
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Estande com itens de maquiagem disponívei­s ao público na Casa Natura Musical
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Banheiro no Espaço Unimed, casa com ambientes amplos, na zona oeste da capital

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