MÚSICA ERUDITA Casa é sede perfeita para a orquestra mais importante do país
São altas as colunas que sustentam a Sala São Paulo. Seu interior lembra o de catedrais. É um templo da música e do transporte: sua arquitetura prevê o movimento dos trens da Estação Júlio Prestes, localizada no mesmo edifício, no centro de São Paulo. Do apito da locomotiva à gravidade do contrabaixo, todo som soa ali.
Depois da renovação do espaço, capitaneada nos anos 1990 pelo arquiteto Nelson Dupré, a sala passou a ter uma acústica exemplar, ainda raridade num país que pouco atenta para a qualidade sonora. Em 2015, o jornal britânico The Guardian listou a Sala São Paulo como uma das dez melhores casas de concerto do mundo, sendo comparada ao Musikverein, de Viena, e o Concertgebouw, de Amsterdã.
Símbolo do que a cidade tem de melhor, a sala é também a sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp, a mais importante do país. A temporada da orquestra reúne obras intemporais de gênios da arte, como Bach, Mozart e Beethoven.
Uma das missões da Osesp é representar o Brasil no mundo, interpretando a obra de Heitor Villa-lobos, Camargo Guarnieri e Guerra-peixe. Por isso, é preciso reconhecer a instituição —orquestra, quinteto e coro— como um patrimônio nacional.
Já a Sala São Paulo recebe alguns dos maiores instrumentistas do mundo. Nesta temporada, o pianista britânico Sir. Stephen Hough interpreta os concertos de Rachmaninoff, o violoncelista francês Gautier Capuçon executa o concerto de Dvorak e o brasileiro Guido Sant’anna, fenômeno do violino, toca o concerto de Mendelssohn.
Antes do concerto, o visitante pode jantar no restaurante da sala. O espaço ensina que o modelo self-service também se aplica a ambientes refinados —e caros.
Ali, o visitante tem à disposição uma mesa de gostosuras pelo valor de R$ 120 por pessoa. O vinho e a sobremesa não estão incluídos no preço. Outra opção é bebericar uma taça de espumante e comer um tira-gosto, servido no bar que antecede a entrada da sala de espetáculos.
Antes ou depois do concerto, é possível dar uma passada na Livraria Clássicos. Naquele pequeno espaço, estão reunidas obras fundamentais sobre a história da música ocidental. São biografias de grandes compositores, livros sobre teoria musical, romances clássicos e recolhas de poesia. A Clássicos é uma livraria sob medida para um determinado tipo de público: não há melhor lugar para quem gosta de pensar a relação entre a música e a literatura.
Com capacidade para 1.498 espectadores e 22 camarotes, a Sala São Paulo tem poltronas confortáveis e, iluminada, se mostra ainda mais grandiosa. A visão frontal é insubstituível, mas o som ecoa pelo ambiente de modo indistinto.
Localizada no centro da vida cultural da maior metrópole do país, a edificação é rodeada pela cracolândia, que se espalha pelas redondezas da praça Júlio Prestes.
O contraste entre o ar glamouroso da sala e a pobreza ao redor é uma chaga aberta. Extensão da sociedade, a orquestra não pode estar alheia às mazelas da cidade. Com o poder público, deve estar aberta para todos os segmentos da população.