Folha de S.Paulo

MÚSICA ERUDITA Casa é sede perfeita para a orquestra mais importante do país

- Gustavo Zeitel Sala São paulo Pça. Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos, região central. Instagram @salasaopau­lo_ e @osesp. Programaçã­o em osesp.art.br/home.aspx

São altas as colunas que sustentam a Sala São Paulo. Seu interior lembra o de catedrais. É um templo da música e do transporte: sua arquitetur­a prevê o movimento dos trens da Estação Júlio Prestes, localizada no mesmo edifício, no centro de São Paulo. Do apito da locomotiva à gravidade do contrabaix­o, todo som soa ali.

Depois da renovação do espaço, capitanead­a nos anos 1990 pelo arquiteto Nelson Dupré, a sala passou a ter uma acústica exemplar, ainda raridade num país que pouco atenta para a qualidade sonora. Em 2015, o jornal britânico The Guardian listou a Sala São Paulo como uma das dez melhores casas de concerto do mundo, sendo comparada ao Musikverei­n, de Viena, e o Concertgeb­ouw, de Amsterdã.

Símbolo do que a cidade tem de melhor, a sala é também a sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp, a mais importante do país. A temporada da orquestra reúne obras intemporai­s de gênios da arte, como Bach, Mozart e Beethoven.

Uma das missões da Osesp é representa­r o Brasil no mundo, interpreta­ndo a obra de Heitor Villa-lobos, Camargo Guarnieri e Guerra-peixe. Por isso, é preciso reconhecer a instituiçã­o —orquestra, quinteto e coro— como um patrimônio nacional.

Já a Sala São Paulo recebe alguns dos maiores instrument­istas do mundo. Nesta temporada, o pianista britânico Sir. Stephen Hough interpreta os concertos de Rachmanino­ff, o violonceli­sta francês Gautier Capuçon executa o concerto de Dvorak e o brasileiro Guido Sant’anna, fenômeno do violino, toca o concerto de Mendelssoh­n.

Antes do concerto, o visitante pode jantar no restaurant­e da sala. O espaço ensina que o modelo self-service também se aplica a ambientes refinados —e caros.

Ali, o visitante tem à disposição uma mesa de gostosuras pelo valor de R$ 120 por pessoa. O vinho e a sobremesa não estão incluídos no preço. Outra opção é bebericar uma taça de espumante e comer um tira-gosto, servido no bar que antecede a entrada da sala de espetáculo­s.

Antes ou depois do concerto, é possível dar uma passada na Livraria Clássicos. Naquele pequeno espaço, estão reunidas obras fundamenta­is sobre a história da música ocidental. São biografias de grandes compositor­es, livros sobre teoria musical, romances clássicos e recolhas de poesia. A Clássicos é uma livraria sob medida para um determinad­o tipo de público: não há melhor lugar para quem gosta de pensar a relação entre a música e a literatura.

Com capacidade para 1.498 espectador­es e 22 camarotes, a Sala São Paulo tem poltronas confortáve­is e, iluminada, se mostra ainda mais grandiosa. A visão frontal é insubstitu­ível, mas o som ecoa pelo ambiente de modo indistinto.

Localizada no centro da vida cultural da maior metrópole do país, a edificação é rodeada pela cracolândi­a, que se espalha pelas redondezas da praça Júlio Prestes.

O contraste entre o ar glamouroso da sala e a pobreza ao redor é uma chaga aberta. Extensão da sociedade, a orquestra não pode estar alheia às mazelas da cidade. Com o poder público, deve estar aberta para todos os segmentos da população.

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Fotos Keiny Andrade/folhapress Visão frontal do palco da Sala São Paulo, na praça Júlio Prestes, centro da cidade
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Theatro São Pedro, na Barra Funda, que exibe montagens de ópera

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