Temporada de ópera reúne obras clássicas e contemporâneas
O Theatro São Pedro é uma peculiaridade de São Paulo. Um dos endereços mais charmosos da Barra Funda, na zona oeste da cidade, é o lugar mais aconchegante para assistir a óperas.
Teatro de esquina, sua estrutura se comunica com as ruas ao seu redor, criando um diálogo vivaz com o bairro. O público provoca um burburinho na vizinhança e pinta uma paisagem nostálgica nas tardes de domingo: o pipoqueiro e as crianças, a bicicleta, o sol que entra no foyer.
Como teatro lírico, o São Pedro tem nas montagens de ópera o alicerce de sua programação. As últimas temporadas têm sido interessantes, porque iluminam um repertório pouco encenado no país.
A direção do teatro escolhe títulos do período barroco e estreia obras contemporâneas. Por exemplo, dois destaques deste ano são “Dido e Eneas”, pérola de Henry Purcell, e o “Machete”, de André Mehmari, inspirada num conto de Machado de Assis.
Saindo do óbvio, a direção artística do teatro mostra que a ópera é uma linguagem a ser explorada no tempo presente e resgata, corajosamente, obras mais antigas, de apreciação menos imediata. A encenação de um título barroco reafirma códigos estéticos daquele tempo: o canto, a composição, as inquietações.
Fundado em 1917, o segundo teatro mais antigo de São Paulo é acanhado, tem 636 lugares e a ambiência intimista agrega ainda mais emoção às montagens. É realmente um prazer passar horas a fio naquele lugar, aproveitando para tomar um café entre os atos.
A boa acústica já permite que a casa receba música sinfônica. Seria interessante se o São Pedro abrigasse ainda mais espetáculos de dança, linguagem da arte lírica que carece de bons espaços.