Folha de S.Paulo

Desenvolvi­mento sustentáve­l

Investimen­to na região pode, inclusive, financiar novas matrizes energética­s

- Randolfe Rodrigues Senador da República (sem partido-amapá), é líder do governo Lula no Congresso Nacional

Primeirame­nte, não contesto o parecer elaborado pelos técnicos do não recomenda a licença ambiental para explorar petróleo na foz do Amazonas: defendo o direito da Petrobras, com base na ciência, a recorrer e, dessa forma, buscar sanar as inconsistê­ncias desse parecer. Este debate não é negacionis­mo.

A minha trajetória fala por mim: lembram da CPI da Covid no Senado? Naquele período, talvez tenha havido alguém que defendeu a vacina e a ciência tanto quanto eu, mas ninguém mais do que eu. Pelo contrário, defendo o direito à pesquisa e ao conhecimen­to sobre a existência ou não de petróleo —exatamente em defesa da ciência.

A perfuração de pesquisa para “saber se tem petróleo” na costa marítima do Amapá é uma operação de curto prazo, apenas cinco meses. Há muita confusão sobre o local do poço. O sítio fica a 540 km de distância, a 175 km da costa do Amapá, a 2.800 metros de profundida­de e a 60 km do limite donos somar territoria­l coma França.

Em remoto caso de acidente com vazamento, o que seria inédito na história da Petrobras —ainda mais na fase de sondagem —, amancha de óleo não viria para acosta, não atingiria os manguezais. Essaé a conclusão de estudos aprofundad­os elaborados no processo de licenciame­nto, modelagem essa elogiada pelo próprio Ibama. Destaco para o fato de que, na mesma área, já foram perfurados quase cem poços semelhante­s —e sem nenhum incidente.

N ocurso desse debate, éimport ante assinalara reunião ocorrida na última terça-feira (23) entre os ministério­s do Meio Ambiente e de Minas e Energia e Petrobras, presidida pela Casa Civil da Presidênci­a da República. No âmbito dessa reunião, foi deliberado que o governo brasileiro realizará o estudo de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS). Este tema é uma reivindica­ção de ambientali­stas e do próprio Ministério do Meio Ambiente há pelo menos dez anos. Então podemos celebrar que, como fruto dessa construção, já temos essa importante conquista para o meio ambiente do nosso país.

Os estudos serão realizados em conjunto por Meio Ambiente e Minas e Energia. A partir disso, a Petrobras recorreu da decisão do Ibama, buscando corrigir todas as inconsistê­ncias que lá existiam, inclusive propondo a instalação do Centro de Reabilitaç­ão e Despetroli­zação de Fauna em Oiapoque (AP).

Como o prazo entre a descoberta de petróleo comercial na área e o início da eventual extração é de aproximada­mente três anos, defendemos autorizar a sondagem e realizar a AAAS como condiciona­nte para futura produção no local.

Com respeito à transição energética, necessitar­emos ainda, por algum tempo, do petróleo para financiar novas matrizes energética­s. Estima-se a necessidad­e crescente por algumas décadas até começar a declinar. O Brasil e sua principal estatal, a Petrobras, estão vocacionad­os para liderar a transição energética no mundo e, com isso, reunir recursos para investir em alternativ­as sustentáve­is.

Finalmente, trata-se também de uma questão de desenvolvi­mento regional. O Amapá é o antepenúlt­imo PIB do Brasil, tem o terceiro maior índice de desemprego e possui 60% a mais de beneficiár­ios do Bolsa Família do que empregados com carteira assinada. Os amapaenses reivindica­m o direito a ter alternativ­as à sua matriz de desenvolvi­mento econômico. Ao longo do tempo, nenhum canto do país tem contribuíd­o mais para aeconomiad­ebaixocarb­onoeparaa defesa da floresta do que o nosso estado. O que os mais de 800 mil habitantes reivindica­m é ter o direito a mudar sua matriz de desenvolvi­mento econômico e enfrentar essa dramática realidade social do nosso povo.

Eu não aprendi a defender a Amazônia em gabinete ou nas metrópoles. Aprendi andando nela e convivendo com os wajapis, karipunas e galibis. A Amazônia é preservaçã­o e pode também ser riqueza para os que vivem nela.

Em remoto caso de acidente com vazamento, o que seria inédito na história da Petrobras —ainda mais na fase de sondagem—, a mancha de óleo não viria para a costa, não atingiria os manguezais. (...) Na mesma área já foram perfurados quase cem poços semelhante­s —e sem nenhum incidente

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