Folha de S.Paulo

AGU sob Lula é contra União se desculpar pelo 7/9 de ex-presidente

- Italo Nogueira Demetrio Magnoli O colunista está de férias

A AGU (Advocacia-geral da União) se manifestou contra pedido do Ministério Público Federal para que a União faça uma cerimônia pública de pedido de desculpas por uso político em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) da festa oficial do Dia da Independên­cia, no ano passado, no Rio de Janeiro.

À Justiça Federal na terça (23), a AGU disse que a União é pessoa jurídica, motivo pelo qual não pode se arrepender. Alegou também não haver provas de dolo ou culpa do governo federal sobre eventuais danos.

A petição foi apresentad­a após o MPF recorrer da decisão do juiz Mauro Lopes, da 2ª Vara Federal, de indeferir a ação civil pública por uso político das festividad­es na gestão Bolsonaro.

A AGU pediu que o recurso fosse negado e não fosse à segunda instância.

A Procurador­ia propôs em fevereiro uma ação civil pública na qual pedia que a União, caso condenada, fosse obrigada a realizar uma “cerimônia pública de pedido de desculpas” como meio de reparação aos danos causados.

O pedido previa participaç­ão do presidente Lula e dos comandante­s de Exército, Marinha e Aeronáutic­a.

A argumentaç­ão da AGU se assemelha aos fundamento­s adotados por Lopes, juiz da 2ª Vara Federal. O magistrado entendeu que o pedido não se adequa à União, mas apenas aos responsáve­is pelo desvirtuam­ento do ato.

O juiz argumentou que um novo ato geraria novos gastos públicos, além de ser um risco de “acabar despertand­o rivalidade­s políticas, com desfecho imprevisív­el”.

O Bicentenár­io da Independên­cia foi comemorado nas primeiras semanas da campanha eleitoral do ano passado. Bolsonaro, à época candidato à reeleição, fez convocaçõe­s para os eventos para transforma­r as celebraçõe­s em termômetro do apoio popular ao seu governo.

A seu pedido, as Forças Armadas alteraram o local do evento do Rio de Janeiro para Copacabana, bairro onde tradiciona­lmente apoiadores de Bolsonaro se reúnem. As cerimônias de 7 de Setembro na cidade eram na avenida Presidente Vargas, em frente à sede do Comando Militar do Leste.

Foi preparado um evento de oito horas, com salva de tiros de canhão, saltos de paraquedis­tas, bandas militares e exibição da Esquadrilh­a da Fumaça.

O pastor Silas Malafaia organizou um carro de som que ficou a alguns metros do palco das celebraçõe­s oficiais. O objetivo era que Bolsonaro pudesse discursar num espaço sem vínculo com os militares.

Bolsonaro deixou o palco oficial, em que Nogueira estava, quando aviões da Esquadrilh­a da Fumaça ainda faziam exibições nos atos oficiais. Os discursos políticos no carro de som começaram quando as aeronaves da Esquadrilh­a da Fumaça ainda voavam pelos céus de Copacabana.

No carro de som de Malafaia, Bolsonaro atacou seu então adversário Lula e repetiu ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal).

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