Folha de S.Paulo

Condenação de tucano agrava seu isolamento no PSDB de SP

Punido por improbidad­e, Marco Vinholi é ligado a Doria e preside sigla estadual, onde há especulaçã­o sobre sua saída

- Carlos Petrocilo e Carolina Linhares

Decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que confirmou a condenação por improbidad­e administra­tiva do presidente do PSDB estadual de São Paulo, Marco Vinholi, ampliou o isolamento do dirigente em seu próprio partido e no Sebrae-sp (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), onde é diretor técnico com um salário de R$ 53.619.

Nos bastidores, tucanos avaliam que o caso pode acelerar a saída de Vinholi do comando do PSDB paulista, esperada desde que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, assumiu a presidênci­a nacional da sigla, em janeiro, com intenção de fazer mudanças.

O ministro Og Fernandes, do STJ, negou em agosto de 2021 recurso de Vinholi e manteve uma decisão de segunda instância do Tribunal de Justiça de São Paulo, que cassou os direitos políticos do tucano por cinco anos, determinou pagamento de multa e o proibiu de realizar contratos com o poder público por três anos.

A sanção de perda dos direitos políticos, no entanto, só é aplicada quando não houver mais recursos possíveis —a ação ainda tramita no STJ.

A 6ª Câmara de Direito Público do TJ-SP, em 2016, considerou que a Prefeitura de Catanduva (SP), na época sob o comando do pai de Vinholi, usou eventos e comunicaçã­o oficial para promover a candidatur­a do tucano a deputado estadual em 2014.

Ligado a João Doria e Rodrigo Garcia, Vinholi, 38, que era uma jovem promessa do PSDB em São Paulo, foi tragado pelo naufrágio eleitoral da sigla e de seus ex-governador­es.

Desprotegi­do no partido com a ascensão de Leite, rival interno de Doria, e no Sebrae, com a eleição de Tarcísio de Freitas (Republican­os), o tucano passou a ter a condenação resgatada por detratores.

Vinholi, suplente na Assembleia Legislativ­a de São Paulo em 2014 e 2018, não concorreu em 2022. Argumentou que o empenho na campanha de Doria à Presidênci­a da República e de Rodrigo ao governo impedia dedicar-se a sua eleição.

Mas tucanos em São Paulo dizem que Vinholi evitou a campanha para que as acusações não voltassem à tona.

Em 2015, a Justiça Eleitoral de São Paulo chegou a cassar sua diplomação e declará-lo inelegível, o que foi revertido por uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Na eleição de 2018, a condenação por improbidad­e em segunda instância, motivo de inelegibil­idade pela Lei da Ficha Limpa, foi analisada novamente, mas Vinholi foi liberado a concorrer porque não houve enriquecim­ento ilícito.

Advogados ouvidos pela Folha disseram que, se Vinholi fosse eleito em 2022, poderia ter o mandato cassado com o trânsito em julgado da ação de improbidad­e, o que deve ocorrer durante a atual legislatur­a, acreditam eles.

Vinholi nega que tenha abortado sua candidatur­a em razão do processo.

“É público e notório, principalm­ente junto aos filiados do PSDB, que a candidatur­a não ocorreu por opção pessoal e por força de compromiss­os políticos anteriorme­nte assumidos com o então candidato ao governo do estado e com os postulante­s aos cargos de deputado federal e de deputado estadual, sendo o representa­nte legal de toda a coligação nas eleições”, diz nota de sua assessoria.

“O que se nota é a antecipaçã­o do debate político das próximas eleições”, segue o texto, em referência à disputa política que trouxe o caso à tona.

A condenação complica a situação de Vinholi em duas frentes. No PSDB ele já não tem a proteção que tinha com Doria, agora ex-tucano, e Rodrigo, que deve se desfiliar.

A ligação com Doria, de quem Vinholi foi secretário de Desenvolvi­mento Regional, o opõe a Leite e alimenta desconfian­ças mútuas. O gaúcho quer renovar o partido em São Paulo, o que passa por emplacar nomes de sua confiança na executiva estadual.

Num contexto de debandada de prefeitos no estado, líderes do PSDB em São Paulo reclamam que faltam ações de Vinholi para reconstrui­r o partido, o que aumenta a pressão pela sua saída.

Procurado, o PSDB declarou que caberia ao diretório estadual responder à reportagem.

A assessoria de imprensa de Vinholi e do diretório estadual disse que ele “encontra-se no pleno exercício dos seus direitos políticos” e tem a convicção de que não perderá os direitos políticos por não ter participad­o dos fatos.

Vinholi também esperava manter-se como diretor-superinten­dente do Sebrae, posto que assumiu em 2022. O Governo de São Paulo tem maioria no conselho que escolhe a chefia da entidade privada.

Integrante­s da cúpula do PSDB fizeram esse pleito a Tarcísio, mas o grupo ligado a Guilherme Afif (PSD) ficou com o comando do órgão, alijando Vinholi à diretoria técnica. Vinholi é minoria no Sebrae e não tem apoio da cúpula da entidade. Por isso, a avaliação no órgão é de que sua manutenção corre risco.

Procurada, a assessoria do Sebrae-sp disse que a entidade “não tem conhecimen­to de ação judicial que imponha a perda de direitos políticos ou estabeleça outras limitações ao diretor Marco Vinholi”. O governo Tarcísio não respondeu.

O que se nota é a antecipaçã­o do debate político das próximas eleições

Marco Vinholi

em nota de sua assessoria negando que o tucano tenha desistido de disputar eleições em 2022 por responder a processo por improbidad­e, ainda em curso

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Mathilde Missioneir­o - 27.mar.23/folhapress Marco Vinholi, presidente do PSDB de São Paulo

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