China defendeu à Europa que Moscou siga com anexações ilegais na Ucrânia, diz reportagem
A proposta de paz para a Guerra da Ucrânia apresentada pela China a líderes europeus previa que a Rússia mantivesse as áreas que anexou ilegalmente no território invadido em setembro passado. A informação é de reportagem publicada pelo jornal americano The Wall Street Journal nesta sexta-feira (26).
A China enviou nesta durante semana Li Hui, representante especial para Assuntos Eurasiáticos e ex-embaixador em Moscou, para uma turnê por cinco países, numa tentativa de mediar o conflito no Leste Europeu.
A primeira parada foi Kiev —a visita ocorreu após o líder chinês, Xi Jinping, conversar por telefone com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pela primeira vez desde o início da guerra, há 15 meses.
Da Ucrânia, Li seguiu para Polônia, França, Alemanha e Bélgica. Segundo afirmaram diplomatas desses países ao jornal americano, em seus encontros com as autoridades de cada nação Li insistiu que a Europa pressionasse por um cessar-fogo imediato —o que levaria a Rússia a manter as partes que tomou de Kiev.
Para um dos representantes europeus ouvidos, o objetivo da proposta era testar o quão unido o Ocidente estava no apoio à Ucrânia. Os diplomatas contaram ainda que coordenaram suas ações para ter certeza de que estavam passando a mesma mensagem: um cessar-fogo que não exija a retirada imediata das tropas russas não é de seu interesse e a aliança com os Estados Unidos nesse aspecto é inegociável.
O Wall Street Journal diz ter encaminhado um pedido de comentário para a chancelaria da China, que ficou sem resposta. Li chegou à Rússia, sua última parada da turnê europeia, nesta sexta-feira.
Ainda segundo os diplomatas, durante as reuniões, Li os urgiu a considerar a China como uma alternativa econômica aos EUA. A chamada Guerra Fria 2.0 entre as duas maiores potências globais aprofundou a divisão entre Ocidente e Oriente —e o continente europeu só se aproximou dos americanos nesses processos, em especial depois da eclosão do início do maior conflito em seu território desde a Segunda Guerra Mundial.
Por fim, o chinês pareceu tentar impedir que a Rússia, sua aliada estratégica na luta contra a hegemonia americana, sofra uma derrota catastrófica. E que armas nucleares continuem longe do tabuleiro, a despeito das sucessivas ameaças do presidente russo, Vladimir Putin, nesse sentido.
O último ponto já havia sido explicitado pela China na proposta de paz que apresentou para o conflito em 24 de fevereiro, data em que se completou um ano da invasão. O documento foi em grande medida rechaçado pelo Ocidente, que demonstrou ceticismo diante da alegação de neutralidade de Pequim, dada a sua proximidade com Moscou.
Contribui para o argumento o fato de que, dias antes, as nações haviam reforçado sua parceria estratégica durante um encontro entre o principal diplomata chinês, Wang Yi, e Vladimir Putin.
Os aliados de Kiev consideraram o primeiro ponto das 12 que compõem a proposta chinesa especialmente problemático.
O parágrafo defende o “respeito à soberania de todos os países”, mas não condena a quebra desse mesmo princípio pela Rússia ao invadir a Ucrânia —invasão, aliás, que os chineses nunca censuraram publicamente.
Assim como Li supostamente fez durante sua viagem, o texto ainda demanda um acordo de paz entre os inimigos, mas não exige que tropas russas deixem o território ucraniano. “Todas as partes devem apoiar a Rússia e a Ucrânia para que trabalhem na mesma direção e retomem um diálogo direto o mais rapidamente possível, de modo a desescalar gradualmente a situação e em última instância obter um amplo cessar-fogo.”
A visita do enviado de Pequim ocorre em um momento em que o país asiático e os americanos lidam com meses de tensões que tiveram seu ápice no início do ano, quando os EUA anunciaram a derrubada de um suposto balão espião chinês.
Já os combates na Guerra da
Ucrânia, continuam gerando riscos de escalada militar. Alvo de diferentes ataques nos últimos meses, a região russa de Belgorodo, que faz fronteira com a Ucrânia, sofreu novos disparos. O lançamento de 132 projéteis atingiu prédios no distrito de Graivoron, segundo o governador da região, Viatcheslav Gladkov, que não reportou vítimas.
O ataque acontece quatro dias após a mais grave incursão armada em território russo desde o início do conflito. Na última segunda-feira (22), o alvo também foi Graivoron, onde oito pessoas ficaram feridas e civis foram retirados de nove localidades, segundo autoridades russas.
No início da semana, o episódio deu início a mais uma guerra de versões do conflito —autoridades da Rússia afirmam que ucranianos cruzaram a fronteira e se infiltraram na cidade, enquanto a Ucrânia afirma que os atos são de responsabilidade de grupos armados locais que se opõem ao Kremlin.