Folha de S.Paulo

‘Eu até ri’, diz Jefferson à Justiça sobre fuga de policial ferida

- Italo Nogueira

O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) negou em interrogat­ório nesta sexta (26) na Justiça Federal que tivesse a intenção de matar os quatro policiais federais que foram cumprir a ordem de sua prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em outubro passado.

Jefferson disse que os 60 disparos miraram apenas a viatura da Polícia Federal, que supunha ser blindada —somente as portas dianteiras tinham, de fato, proteção.

Ele disse, inclusive, ter rido no momento da fuga da policial, após lançar a primeiro granada de efeito moral adulterada com pregos. A agente teve o ferimento mais grave da equipe atacada —foi atingida na perna por um estilhaço do projétil disparado pela carabina do ex-deputado federal.

“Eles se abrigaram. A última a correr foi a menina. Eu até ri. Ela é igual a minha neta. Cabelinho preso…”, disse o ex-deputado. Outros dois policiais fiprimento, caram feridos por estilhaços.

Jefferson, 69, pe diu desculpas aos policiais, não presentes à audiência, e disse se arrepender do ato. “Nunca na minha vida dei um tapa em ninguém.”

O ex-deputado chegou e saiu algemado ao fórum da Justiça Federal em Três Rios, a 120 km do Rio de Janeiro. Familiares e amigos acompanhar­am a audiência e o receberam no local.

A Procurador­ia e a defesa vão pedir novas diligência­s. Em seguida, a juíza Abby Magalhães, da 1ª Vara Federal de Três Rios, decidirá se o caso será julgado por um júri popular. A defesa de Jefferson pretende alterar a acusação de tentativa de homicídio para lesão corporal, o que tiraria o caso do Tribunal do Júri.

“A prova de acusação não demonstrou nem dolo nem tentativa de homicídio. [...]. Em momento algum teve intenção de ceifar a vida dos policiais”, disse o advogado João Pedro Barreto.

Jefferson foi preso em 23 de outubro por ordem de Moraes sob alegação de descumde forma reiterada, de regras da prisão domiciliar imposta anteriorme­nte.

Um dia antes, ele havia usado a conta no Twitter da filha, a ex-deputada Cristiane Brasil (PTB), para xingar a ministra do STF Cármen Lúcia.

O ex-deputado estava em prisão domiciliar desde janeiro de 2022 por questões de saúde. Na ocasião, Moraes relaxou a prisão preventiva decretada em agosto de 2021 no âmbito do inquérito das milícias digitais ligadas ao então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Jefferson repetiu que reagiu à prisão por considerar a ordem de Moraes injusta e para evitar o que chamou de novas humilhaçõe­s à família.

“[Moraes] acabou com meu partido e toda a obra que eu fiz. Suspendeu todos os recursos do partido, interveio duas vezes me tirando da presidênci­a. Foram três anos seguidos. Minha casa foi invadida pela PF quatro vezes para cumprir ordem dele. Me prometi que aquilo não ocorreria mais.”

O ex-deputado declarou que, assim que os policiais chegaram a sua casa, no município de Levy Gasparian, saiu com fuzil, pistola e granadas de efeito moral em mãos. Ele afirmou que anunciou que iria lançar a bomba de luz e som, momento no qual os policiais se protegeram, segundo sua versão.

Em seguida, afirmou ter disparado contra a viatura com o objetivo de assustar os policiais. Questionad­o se os policiais usavam coletes à prova de balas, ele disse que não. “Inclusive por isso tive cuidado. Eles não tinham colete.” Ao comentar os ferimentos causados, ele respondeu: “Infelizmen­te fragmento de arma machuca”.

Jefferson também é acusado de resistênci­a a ordem legal (crime que não negou) e porte ilegal de armas e material explosivo. O ex-deputado disse que adquiriu a carabina antes da prisão domiciliar. Já as granadas de luz e som foram adquiridas após o escândalo do mensalão, em razão de ameaças que diz ter sofrido.

Ele disse também estar disposto a ressarcir a União pelos danos causados à viatura e entregar suas armas ao Exército.

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Italo Nogueira/folhapress Roberto Jefferson deixa a Justiça Federal em Três Rios (RJ) após audiência

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