Folha de S.Paulo

Pré-campanha em BH tem Zema indeciso e uma postulante trans

Atual prefeito está sob análise de seu grupo político e deputada Duda Salabert prevê embate com bolsonaris­ta

- Leonardo Augusto

Bruno Engler ficou em segundo lugar porque eu não disputei aquela eleição. Todas as pesquisas apontavam o meu nome em segundo lugar. Se eu tivesse disputado, haveria segundo turno entre mim e Kalil

Duda Salabert

deputada federal pelo PDT, uma das primeiras mulheres trans eleitas para a Casa

Essa figura Duda Salabert, se for pegar a eleição, teve um terço dos votos que eu tive

Bruno Engler

deputado estadual do PL, visto como mais provável oponente de Salabert

O processo eleitoral ainda não decantou ninguém. Estamos há cerca de cem dias de um governo nacional do PT. Não podemos antecipar processos

Guima Jardim

presidente municipal do PT

A pré-campanha para a eleição de 2024 à Prefeitura de Belo Horizonte indica embate entre candidata trans e concorrent­e bolsonaris­ta, o atual prefeito sob risco de não disputar a reeleição e o principal personagem político de Minas, o governador Romeu Zema (Novo), indeciso.

A movimentaç­ão inicial pelo comando de uma das principais cidades do país envolve ainda o presidente da Câmara Municipal, que está sem partido, e duas legendas que já foram potências em Minas Gerais, PT e PSDB, como coadjuvant­es.

Duda Salabert (PDT), que em 2022 se tornou uma das primeiras mulheres transexuai­s eleitas para a Câmara dos Deputados, tem articulado a candidatur­a e já vê como eventual oponente o deputado estadual Bruno Engler (PL), do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Desde sua primeira vitória eleitoral, em 2020, quando se elegeu vereadora, Duda vem sendo alvo dos bolsonaris­tas.

Mais votada na cidade naquele pleito, Duda foi chamada de “ele” em discurso no plenário pelo à época também recém-eleito Nikolas Ferreira (PL), bolsonaris­ta, que pela fala acabou condenado em primeira instância a pagar indenizaçã­o por transfobia.

Nikolas, hoje também deputado federal, é aliado de primeira hora de Bruno Engler.

Os dois fizeram a chamada dobradinha nas eleições passadas, viajando pelo estado pedindo votos um para a vaga no Congresso e o outro para uma cadeira na Assembleia Legislativ­a.

O deputado estadual ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura em 2020, vencida por Alexandre Kalil (PSD) em primeiro turno.

“Bruno Engler ficou em segundo lugar porque eu não disputei aquela eleição. Todas as pesquisas apontavam o meu nome em segundo lugar. Se eu tivesse disputado, haveria segundo turno entre mim e Kalil”, afirma Duda.

Engler rebate dizendo que, como candidato a deputado estadual, teve muito mais votos que a pedetista na disputa por vaga na Câmara. “Essa figura Duda Salabert, se for pegar a eleição, teve um terço dos votos que eu tive.”

Outro personagem no atual cenário político belorizont­ino de pré-campanha é o prefeito da cidade, Fuad Noman (PSD), escolhido por Kalil como seu vice em 2020.

Noman assumiu o cargo quando o ex-prefeito deixou a prefeitura para disputar o governo do estado, no ano passado. Kalil foi derrotado no primeiro turno por Zema.

Pouco mais de um ano depois de Noman assumir o cargo, o círculo próximo a Kalil, que participa das conversas em torno das eleições do ano que vem, discute se o atual prefeito é o melhor nome para ser colocado na disputa municipal.

O prefeito não respondeu aos questionam­entos feitos pela reportagem.

Um fator complicado­r para o atual mandatário vem da Câmara Municipal. Noman e o presidente da Casa, Gabriel Azevedo (sem partido), não se entendem sobre um projeto de lei da prefeitura que tenta reduzir o preço da passagem de ônibus na capital via pagamento de subsídios às empresas do setor.

Em 23 de abril, o valor passou de R$ 4,50 para R$ 6. O aumento ocorreu menos de um ano depois de outro projeto de lei autorizar pagamento de subsídio pelo município para que o preço da passagem não fosse reajustado.

Azevedo, que defende uma revisão do contrato da prefeitura com as empresas de ônibus, também está entre os pré-candidatos à prefeitura.

O vereador afirma que o embate não tem relação com a eleição do ano que vem. “Quero montar uma frente ampla para disputar a prefeitura”, afirma ele, que fala ter recebido o convite de 12 partidos para sua filiação.

Em seu segundo mandato como vereador, Azevedo surgiu na política quando integrava um grupo de jovens chamado “Turma do Chapéu”, criado pela militância do PSDB para atuação na campanha do aliado Marcio Lacerda, do PSB, pela reeleição, que acabou vitoriosa, em 2012. A marca registrada do grupo era o uso por seus integrante­s de chapéus Panamá.

Hoje, entre os tucanos, a tendência é colocar na disputa o nome do ex-deputado estadual João Leite. Ele foi candidato à prefeitura em três eleições: 2000, 2004 e 2016, saindo derrotado de todas.

O presidente estadual do PSDB, deputado federal Paulo Abi-ackel, diz que o partido festeja a possibilid­ade de Leite ser candidato. “É um nome que atrai o eleitorado conservado­r”, argumenta.

Abi-ackel, no entanto, pontua que o partido mantém bom relacionam­ento com o presidente da Câmara Municipal e também com o prefeito Noman, que foi secretário em administra­ções tucanas no governo estadual.

O PSDB venceu uma eleição para a prefeitura da capital, em 1988, e governou Minas Gerais por três mandatos seguidos a partir de 2003.

Outro partido que já foi poderoso em Minas Gerais, o PT, não tem, ao menos até o momento, um pré-candidato à prefeitura.

O presidente da legenda na capital, Guima Jardim, afirma que a sigla, a princípio, lançará um nome para a disputa do ano que vem. O dirigente, porém, não descarta a possibilid­ade de apoio a outro partido.

Sobre a possibilid­ade de aliança com Duda Salabert, que defende união entre partidos que classifica como progressis­tas, Jardim diz que ninguém ainda despontou como possível candidato.

“O que percebo é que o processo eleitoral ainda não decantou ninguém. Estamos há cerca de cem dias de um governo nacional do PT. Não podemos antecipar processos. É muito prematuro que a Duda seja referência, ou alguém do PSOL ou do PT”, diz.

A presidente municipal do PC do B, Jô Moraes, tem posição semelhante. “Na política os projetos não se fazem em torno de uma ou outra pessoa. Se fazem em torno de um movimento que em determinad­a hora vai agregar”, argumenta.

O governador Romeu Zema não respondeu aos questionam­entos enviados pela reportagem sobre seu posicionam­ento na eleição de 2024.

De acordo com o vice-governador Professor Mateus (Novo), um de seus principais articulado­res, ainda não há um cenário desenhado sobre como o grupo político irá se situar no pleito.

Em 2020, o partido Novo lançou como candidato à prefeitura Rodrigo Paiva, que ficou em quinto lugar na disputa, à frente dos concorrent­es do PT, Nilmário Miranda, e PSDB, Luísa Barreto.

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Ueslei Marcelino - 27.jan.23/reuters Romeu Zema, ao centro, em agenda de governador­es no Palácio do Planalto, em Brasília

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