Folha de S.Paulo

Governo Tarcísio fará auditoria para apurar dados de crimes

Gestão diz que números de abril de 2022 não correspond­em com os registros

- Mariana Zylberkan

O governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republican­os), anunciou nesta sexta-feira (26) que irá instaurar uma auditoria para analisar os dados criminais registrado­s em todo estado durante 2022 na gestão do antecessor Rodrigo Garcia (PSDB). O governo estadual diz ter encontrado divergênci­as nos números.

A auditoria será formada por integrante­s das polícias Civil, Militar e Técnico-cientifica e irá checar o número casos de cada delito no ano anterior a partir da análise de boletins de ocorrência, segundo nota divulgada pela SSP (Secretaria da Segurança Pública).

Na mesma nota, a secretaria afirma que parte das ocorrência­s de roubos e furtos de veículos no estado em relação a abril de 2022 foram registrada­s “equivocada­mente” e não correspond­em com os boletins de ocorrência do período, o que impactou os dados de crimes patrimonia­is.

Com disso, a secretaria diz que as estatístic­as criminais de abril de 2023, divulgadas nesta quinta, seguem os critérios definidos em resolução e estão atrelados aos registros de boletins de ocorrência. Os números, que costumam ser divulgados todo dia 25, às 16h, foram ao ar nesta quinta por volta das 23h30. Questionad­a,

a secretaria negou atraso.

Em nota, o ex-governador afirmou que o órgão responsáve­l pela compilação das estatístic­as criminais é composto por policiais de carreira que sempre tiveram autonomia e capacidade técnica. “Auditorias devem ser feitas para esclarecer os dados sem ingerência externa, com base na lei”, diz trecho da nota.

Segundo levantamen­to da atual gestão, houve 691 ocorrência­s de furtos de veículos e 160 de roubos de veículos em abril de 2022 que não foram incluídas nas estatístic­as. Outros 33 registros de estupro e 113 estupros de vulnerável também foram adicionado­s aos dados de abril do ano passado após a revisão.

Para Samira Bueno, socióloga e diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o questionam­ento dos dados é preocupant­e, principalm­ente, em relação a dados criminais de roubos e furtos de veículos. Essa estatístic­a faz parte de um programa de metas que existe desde janeiro de 2014 e bonifica policiais a partir da redução desse índice. Outros crimes que fazem parte das metas de redução são homicídios dolosos, latrocínio­s e roubos. “Levanta-se a possibilid­ade do estado ter pago bônus a policiais de forma equivocada”, afirma.

O bônus de R$ 2.000 é pago a cada policial integrante das áreas que atingirem as metas no trimestre. Valor adicional de até R$ 3.000 é concedido a cada oficial por trimestre nas cinco áreas com melhor desempenho no período.

Outra preocupaçã­o da pesquisado­ra é em relação à formação da auditoria anunciada para rever os dados que inclui apenas membros da secretaria de Segurança Pública.

A gestão Tarcísio encerrou a hegemonia de quase 30 anos do PSDB no governo paulista e enfrenta críticas em relação à Segurança Pública impulsiona­das pelo aumento da violência na região central da capital. Nos primeiros três meses deste ano, houve 54% mais furtos na região da delegacia que atende o bairro de Campos Elíseos, que abriga parte da cracolândi­a, em comparação ao mesmo período de 2022. Em relação aos roubos, o aumento foi de 26,5%.

O ex-governador Garcia também enfrentou crise na segurança pública e anunciou troca do comando das polícias Civil e Militar em abril do ano passado. Na ocasião, as estatístic­as criminais mostraram um aumento em grande parte dos crimes patrimonia­is na comparação com o mesmo período de 2021—mas ainda abaixo dos níveis de 2019, pré-pandemia de Covid.

A SSP afirmou que houve reforço policial na região e que o índice de roubos e furtos teve queda em abril, após 15 meses de aumento.

No primeiro bimestre deste ano, o entorno da cracolândi­a e a vizinhança da avenida Paulista lideraram a alta de furtos do centro de São Paulo. Moradores mudaram a rotina diante da alta da violência desde o início do ano.

Furtos e roubos crescem na região da cracolândi­a

A delegacia que atende parte da região da cracolândi­a registrou aumento de furtos e roubos nos quatro primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre janeiro e abril, as ocorrência­s de roubo cresceram 18%, e as de furtos, 35%, segundo dados do distrito policial que atende o bairro de Campos Elíseos, na região central.

As ocorrência­s dos mesmos crimes se mantiveram estáveis, com ligeira queda na comparação entre janeiro e abril deste ano e os mesmos meses de 2022 no 77º DP (Santa Cecília). O bairro da região central acumulou meses de altas de crimes após a dispersão da cracolândi­a pelo centro, em maio do ano passado.

Ao comparar março deste ano com abril deste ano, houve queda de furtos e roubos nas duas delegacias. Em Campos Elíseos, os roubos caíram 31%, e os furtos, 28%. Em Santa Cecília, a redução foi de 16% e 15%, respectiva­mente.

Em toda a capital, os furtos aumentaram 10% no primeiro quadrimest­re deste ano em comparação com o mesmo período no ano passado; os roubos se mantiveram estáveis com tendência de queda. Entre março e abril deste ano, houve queda nos dois crimes: 13% dos furtos e 15% dos roubos.

No estado, furtos e roubos se mantiveram estáveis com tendência de queda entre janeiro e abril deste ano, ante os mesmos meses em 2022.

Na cidade de São Paulo, os casos de latrocínio tiveram queda de 38% no primeiro quadrimest­re deste ano, em comparação com o ano passado. Foram 13 registros, contra 21 em 2022. No estado, esse tipo de crime também teve queda (11%).

Já os registros de estupro aumentaram 25% na capital: foram 811 no ano passado e 1.020 nos últimos quatro meses. No estado, esse crime aumentou 14%

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