Folha de S.Paulo

Alertas de desmatamen­to batem novo recorde no cerrado em 2023

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Os alertas do Deter, sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para detecção do desmatamen­to em tempo real, chegaram a um novo recorde no cerrado em 2023. De janeiro até 18 de maio, a área soma 2.833 km², quase duas vezes a área de Teresina e a maior para a série histórica, iniciada em 2019.

Consideran­do apenas os dados parciais de maio, os avisos indicam 627 km² de desmate, número que deve subir com a chegada da temporada de seca no bioma, de maio a setembro.

A região é pressionad­a pela atividade agropecuár­ia e não tem a mesma proteção legal do bioma vizinho, a Amazônia. A floresta registrou 1.673 km² de área desmatada entre janeiro e 19 de maio e contribui, junto ao cerrado, na regulação de chuvas e distribuiç­ão de água no país.

Os próximos meses serão um desafio para o combate à derrubada, facilitada pelo tempo seco e pela falta de chuvas —não à toa, estão nesse período os picos da série histórica do Deter no cerrado.

O sistema mapeia e emite alertas de desmate para orientar ações do Ibama e outros órgãos de fiscalizaç­ão. Os resultados representa­m uma indicação, mas não são o dado fechado do desmatamen­to, que é publicado pelo Prodes (Projeto de Monitorame­nto do Desmatamen­to na Amazônia Legal por Satélite), também do Inpe.

Segundo especialis­tas, a proteção legal do bioma é quase inversa à da Amazônia. Enquanto propriedad­es rurais na floresta tropical devem proteger 80% da vegetação, essa reserva legal mínima fica entre 20% e 35% no cerrado.

Além disso, o bioma tem apenas 7% de sua área total protegida, contra 50% da Amazônia. Existe também uma pressão indireta que vem da regulação internacio­nal. Leis como a aprovada pelo parlamento europeu restringem produtos que tenham ligação com o desmatamen­to na Amazônia, mas isso não vale para o cerrado.

Além da recomposiç­ão de efetivo, o governo federal tem dito que a revisão do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamen­to no Cerrado começa em julho. Seu par para a Amazônia, o chamado PPCDAM, está em fase de análise das contribuiç­ões recebidas em consulta pública.

Ainda, em meio a uma pressão política que causou reveses à estrutura ambiental no Executivo, as pastas de Meio Ambiente e Agricultur­a e Pecuária trabalham em uma versão do Plano Safra, prevista para junho, com incentivos à agricultur­a de baixo carbono, além de criar sistemas de bônus para produtores que adotem boas práticas de conservaçã­o e rastreio da produção.

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