Folha de S.Paulo

Virada Cultural será a mais cara em dez anos

Prefeitura de São Paulo diz que gasto é reflexo da alta dos preços, mas especialis­tas afirmam que o valor é desproporc­ional

- Matheus Rocha

A Virada Cultural de 2023 será a edição mais cara do festival nos últimos dez anos, com um orçamento de R$ 40 milhões. É praticamen­te o dobro da edição do ano passado, que custou cerca de R$ 22 milhões em valores corrigidos pela inflação.

Para realizar o evento, a Prefeitura de São Paulo gastou R$ 25 milhões com estrutura e R$ 15 milhões na área artística do festival, que chega à sua 18ª edição com nomes como Marina Sena e Gloria Groove.

Especialis­tas, no entanto, dizem que o gasto é excessivo para uma iniciativa que acontece em apenas um único final de semana. A secretária municipal de Cultura, Aline Torres, afirma que o valor é reflexo de uma alta dos preços.

“Não houve uma expansão só no investimen­to das viradas. A gente está pagando mais caro pelo aluguel, pela roupa e pelo alimento. Isso é inflação anual”, diz ela.

Aldo Valentim, que foi secretário-adjunto de Cultura na gestão de Bruno Covas, considera o custo desta Virada acima da média e afirma que o ideal seria investir no máximo R$ 20 milhões no evento, ou seja, metade do valor gasto.

“É desproporc­ional. O investimen­to anual em alguns dos principais equipament­os culturais da capital paulista não chega ao valor da Virada.”

O orçamento deste ano para o Centro Cultural São Paulo é de R$ 17 milhões, e o da Biblioteca Mario de Andrade é de R$ 19 milhões. “Não estou dizendo que a prefeitura tem que deixar de apoiar a Virada, mas é importante pensar em meios de baratear o evento.”

Valentim sugere que a administra­ção municipal firme parcerias com a iniciativa privada para dividir o custeio do festival. Em 2017, o Bradesco injetou R$ 2 milhões na festa, cujo orçamento foi de R$ 18 milhões em valores corrigidos. Na edição deste ano, o dinheiro é todo providenci­ado pelos cofres públicos.

Ele diz ainda que a maratona cultural poderia ter atividades ao longo do ano em vez de concentrar toda a festividad­e num único fim de semana.

“Virou um simples megaevento sem nenhuma consequênc­ia. As pessoas merecem ter acesso à arte só durante dois dias? E o resto do ano?”, questiona ele, que foi secretário nacional de Economia Criativa no governo federal entre 2020 e 2022.

Em março, a prefeitura já havia sido alvo de críticas após lançar um edital que previa gastos de R$ 10 milhões para realizar parte das atividades no metaverso, realidade virtual em que o público pode interagir por meio de avatares.

À época, especialis­tas disseram que o texto do edital era vago e confuso. O Tribunal de Contas do Município decidiu suspender a licitação afirmando que o valor era alto demais para realizar as atividades.

Um dos motes desta Virada é a descentral­ização, processo que já vinha acontecend­o desde o ano passado e que foi ampliado nesta edição.

Serão 12 palcos espalhados pela capital paulista, do centro a Parelheiro­s, passando por Heliópolis e Itaquera.

Idealizado­r e diretor da Virada de 2005 a 2016, José Mauro diz que descentral­izar o evento é importante, mas que este processo pode gerar segregação. Isso porque um dos objetivos da maratona cultural era unir a população em um mesmo espetáculo.

“Essa regionaliz­ação segrega porque separa as pessoas por local, por tribo e, às vezes, até por faixa etária”, afirma o produtor cultural.

A secretária Aline Torres, por outro lado, considera que a descentral­ização trouxe ganhos à população da cidade.

“A gente governa para todos, mas política pública precisa atender quem está em maior necessidad­e, que neste momento é a periferia.”

José Mauro sugere que o festival seja realizado em um bairro diferente da cidade a cada ano para manter a regionaliz­ação e congregar todos numa mesma festa.

“Uma edição pode ser na Penha, outra na Freguesia ou na Brasilândi­a. Lugares como esses são dotados de bons espaços para shows e equipament­os culturais”, diz ele.

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Miho Kakuta, Nicholas Purcell, Héléne Chen e Minumsa/divulgação As autoras Mieko Kawakami, Jessica Au, Michelle Zauner e Kim Hye-jin, que escrevem sobre a relação de mães e filhas
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