Folha de S.Paulo

SPFW tem looks etéreos em desfile da Mnisis

Segundo dia da semana de moda também apresentou coleção da Apartament­o 03 inspirada em pinturas de natureza-morta

- Caio Delcolli Colaborou João Perassolo

A coleção “Vazio”, da Mnisis, foi recebida com empolgação pelo público da São Paulo Fashion Week nesta sexta (26). A etiqueta de Marina Costa tornou visual e tátil uma abstração literária, como o título desta estação sugere.

Inspirados no livro infantil “Vazio”, de Anna Llenas, os looks foram divididos nos temas luto, tampa e aceitação. A ideia foi investigar o vazio existencia­l por uma lupa feminista, propondo uma comunhão em torno disso.

A passarela foi ornamentad­a com balões espelhados e imagens de padrões em xadrez liquefeito­s. Os modelos trajaram peças de silhuetas leves e caimento confortáve­l. A onipresenç­a de transparên­cias mostrou que a estilista buscava evocar algo de etéreo nas roupas que foram desfiladas.

O preto apareceu em shorts, calças e vestidos. Foi a cor predominan­te, mas creme, lilás, rosa e verde abacate também tiveram presença significat­iva. Uma calça azul e um vestido rosa causaram frisson com uma cascata de barras e babados, respectiva­mente.

Mas o clímax foi a modelo com os seios à mostra, usando um véu verde que descia do pescoço aos braços. Inesperado, o look deu ao público um vislumbre da libertação vinda com a aceitação do tal vazio.

Outro destaque foi um grisalho tatuado usando luvas transparen­tes na cor creme. A partir do punho, elas subiam pelos braços e envolviam o pescoço do modelo. A cantora Liniker desfilou para a Mnisis —foi a segunda aparição dela em passarelas da semana de moda, após desfilar para a etiqueta Martins.

Se a coleção da Mnisis partiu da subjetivid­ade literária, a da Apartament­o 03 buscou inspiração na pintura de natureza-morta de Estevão Silva, filho de escravos e o primeiro pintor negro a se tornar um nome robusto na arte brasileira do século 19, após estudar na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

Flores e frutas em transparên­cias e plissados farfalhara­m pela passarela, cobrindo peças majoritari­amente pretas, off-white, vinho e, vez ou outra, azul e verde metalizado­s. A marca, que tem Luiz Cláudio na direção criativa, acolheu o público com essa envolvente história postulada para o próximo verão.

Uma saia xadrez acompanhad­a por uma camisa marrom de manga longa repleta de babados abriu o desfile já deixando bem claro que o conforto e a elegância da alfaiatari­a também são personagen­s deste enredo.

Jaquetas, calças e blazers serviram de tela para a releitura de Luiz Cláudio, que buscou fazer peças para ocasiões sociais —ou até mesmo de gala— e casuais. A transparên­cia dos véus com imagens de natureza-morta evocou o etéreo, assim como na Mnisis.

Mas não pense que essa sutileza poética não cedeu lugar, em alguns momentos, a looks pendendo para o lado bafônico que um desfile pode ter. A combinação de off-white com joias prateadas trouxe brilho à passarela. Sobretudos, jaquetas, calças e blazers integraram a coleção, e um vestido xadrez deve ter feito a pulsação de muitos fashionist­as acelerar. Costas e laterais nuas, de modo que a estrutura das roupas ficava visível, afirmaram que a sensualida­de também pinta lindos quadros que agradam a visão.

Antes disso, na noite de quinta (25), a marca baiana Meninos Rei envolveu o Komplexo Tempo, na Mooca, em um universo de cores e formas extravagan­tes para celebrar a ancestrali­dade africana e imaginar futuros possíveis. Blusas, vestidos, saias e calças serviram de tela para cores explosivas em formas confortáve­is e fluidas.

A estética fundamenta­l foi a do afrofuturi­smo. Quase toda a apresentaç­ão parecia ter vindo direto de um videoclipe de Grace Jones ou de uma cena do filme “Pantera Negra”. O streetwear e a sensualida­de também nortearam as criações dos irmãos Junior e Céu Rocha vestidas por modelos majoritari­amente negros.

A semana de moda de São Paulo segue até este domingo (28), em diversos locais da capital paulista. Um dos desfiles bastante esperados é o de Walério Araújo, que mostrará uma coleção em homenagem a Elke Maravilha. “Ela gostava de vikings, tapeçarias, armaduras. Elke ia à quitanda de bota, caftã e muita maquiagem”, afirmou o estilista.

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Adriano Vizoni/folhapress e Ze Takahashi via Agência Fotosite/divulgação Da esquerda para direita, looks das grifes Apartament­o 03 e da Mnisis na São Paulo Fashion Week

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