Folha de S.Paulo

Jornalista, seu projeto de vida foi a luta da esquerda

- Regiane Soares coluna.obituario@grupofolha.com.br

CELSO ANTUNES HORTA (1948 - 2023)

são paulo Tão logo completou 18 anos, Celso Antunes Horta se mudou de Guaratingu­etá, no interior de São Paulo, para a capital para cursar o ensino superior. A ideia era seguir os passos do pai, Alberto Pinto Horta, um ex-feirante que tardiament­e cursou direito. Mas a turbulênci­a política do Brasil de 1968 fez com que os planos fossem interrompi­dos.

Celso conciliava os estudos na PUC-SP com a participaç­ão ativa no movimento estudantil. Iniciou sua militância política na ALN (Aliança Libertador­a Nacional) e esteve na Batalha da Maria Antônia, conflito entre universitá­rios que terminou com um jovem morto, em outubro de 1968.

“Ele se envolveu profundame­nte com o movimento estudantil, tanto que acabou sendo preso aos 19 anos. Passou pelo Dops (Departamen­to de Ordem Política e Social) e depois foi para o [complexo penitenciá­rio do] Carandiru. No total, foram quase nove anos preso”, conta uma das filhas, a jornalista Joana Crivelente Horta, 39.

Na prisão, Celso foi torturado, uma parte de sua biografia que ele não gostava de falar nem com amigos nem com a família. “Não falava para continuar vivendo, e viveu de forma tão amorosa”, diz Joana.

Após ser solto, em 1977, Celso foi cursar jornalismo na ECA-USP. Trabalhou nesta Folha

entre 1989 e 1991 e, já casado e com duas filhas, foi para Havana trabalhar no Granma, o jornal oficial do Partido Comunista de Cuba.

Apesar de jornalista, Celso não abriu mão de seus ideais do movimento estudantil e da militância política e foi um dos fundadores do PT (Partido dos Trabalhado­res), em 1980. Segundo a filha Joana, ele pensava desde sempre em um projeto de comunicaçã­o de esquerda. Assim, foi assessor de imprensa do próprio PT, do Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC e da CUT (Central Única dos Trabalhado­res).

Em 2006 assumiu a direção do jornal ABCD Maior, o que, para a filha, foi o projeto embrião da atual TVT, com sede em São Bernardo do Campo (ABC), berço político do PT.

Nos últimos anos, o jornalista se dedicou à pesquisa histórica que resultou no livro “Tempo dos Cardos”, que conta a trajetória do militante político João Leonardo, assassinad­o pela ditadura militar, cujo lançamento póstumo foi realizado neste mês.

Celso se preparava para um procedimen­to cirúrgico no coração, mas o músculo resolveu parar antes. Morreu no dia 21 de abril, em São Paulo, aos 74 anos, após uma parada cardiorres­piratória. Ele deixa a mulher, Monica Cristina, as filhas Maria Augusta e Joana, a enteada Daniele, e os netos Amora, Raul, Miguel, Ana Clara e Tiago.

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