Folha de S.Paulo

Premiê da Espanha antecipa eleição geral após dura derrota socialista nas regionais

- Ivan Finotti

Madri Horas após a derrota que o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) teve frente ao Partido Popular (PP) nas eleições regionais da Espanha, no domingo (28), o premiê Pedro Sánchez antecipou em quase quatro meses as eleições gerais que estavam programada­s para novembro.

O escrutínio agora será realizado em 23 de julho, no verão europeu, algo inusitado na Espanha. A ideia do PSOE é conter um desgaste maior frente ao cresciment­o da direita e diminuir a possibilid­ade de que o conservado­r PP e o Vox, de ultradirei­ta, consigam uma maioria capaz de eleger o próximo premiê.

“Assumo a responsabi­lidade pelos resultados e acredito ser necessário dar uma resposta. O melhor é que os espanhóis tomem a palavra para definir os rumos do país”, disse Sánchez nesta segunda. À tarde, o Conselho de Ministros se reuniu para dar formato jurídico à decisão, que inclui a dissolução do Parlamento.

No domingo, nas eleições para 8.135 prefeitura­s e Parlamento­s de 12 das 17 províncias, o PP conseguiu 750 mil votos a mais que o PSOE, invertendo a dinâmica da eleição de 2019. O PP teve 31% dos votos (23% há quatro anos), e o PSOE, 28% (29%). Já o Vox teve 7%, o dobro dos 3,5% de 2019.

No pleito passado, o PP teve o pior resultado de sua história, e o Vox era só uma possibilid­ade. Agora, a esquerda vê como um risco real um governo de direita na Espanha.

“Sánchez é um político ousado e corre riscos que poucos correriam. Essa é sua maior aposta”, afirmou à Folha Michael Reid, jornalista britânico que lançou há três meses o livro “Spain: The Trials and Triumphs of a Modern European Country” (Espanha: as provações e os triunfos de um país europeu moderno).

Segundo Reid, após a dura derrota de seu partido no domingo, Sánchez “temia que, se continuass­e por mais seis meses, fosse visto como um líder enfraqueci­do e que se tornasse alvo de todos os lados. Em vez de sofrer seis meses, escolheu cortar a gangrena”.

Há também o aumento do custo de vida, potenciali­zado pela Guerra da Ucrânia. A inflação anual de 0,7% em 2019 saltou para 8,39% no ano passado. da direita, como em Astúrias, no norte. O que esse cenário significa é que a esquerda vai ter que pelejar para manter o poder nas eleições gerais. Foi para estancar a sangria que o premiê socialista Pedro Sánchez antecipou as eleições.

Caso ele deixe o poder, será outra evidência do cresciment­o da direita europeia. Sua derrota não será, porém, só o resultado de uma tendência regional, mas de apostas arriscadas que podem ter falhado.

O PSOE governa desde 2018, quando substituiu o PP desgastado por um sem-fim de escândalos de corrupção. A sigla socialista poderia ter fomentado opções quiçá mais palatáveis, como Susana Díaz ou Javier Fernández. Os dois defendiam um socialismo centrista na linha de Felipe González, ex-premiê histórico e aliado de Lula. O partido preferiu apostar em Sánchez.

Desde então, o premiê fez uma série de escolhas controvers­as, que críticos costumam creditar à vontade de perpetuar a si e ao seu partido no poder. Aliou-se aos separatist­as catalães, aos nacionalis­tas bascos e à esquerda radical. Assim, os eleitores buscaram a direita e a ultradirei­ta como alternativ­as.

O caso dos nacionalis­tas bascos teve impacto especial neste pleito. O fato de que tentaram emplacar candidatos condenados por terrorismo dominou o debate —respingand­o mais no PSOE do que neles. Quando Sánchez foi votar, alguém lhe gritou: “Que te vote Txapote!” (deixe que Txapote vote em você!), referência a Francisco Javier García Gaztelu, um conhecido líder separatist­a do ETA.

A esperança de Sánchez é aproveitar o desgaste do PP, que passará as próximas semanas negociando governos com o Vox. O melhor cenário para o PSOE seria atrair siglas para frear o avanço da ultradirei­ta, como os franceses fizeram contra Marine Le Pen.

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Serguei Supinski/AFP Ucranianos se abrigam em estação de metrô em Kiev, capital da Ucrânia, na manhã desta segunda-feira (29) durante ataque de drones russos

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