Folha de S.Paulo

Sônia Guajajara estuda atuação conjunta com Dino para demarcar áreas de povos originário­s

- Raquel Lopes

brasília A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, estuda a possibilid­ade de trabalhar em conjunto com o Ministério da Justiça e Segurança Pública na demarcação de terras indígenas caso uma MP (medida provisória) retire da sua pasta parte dessa atribuição. Na sua visão, isso enfraquece­ria a pasta.

“Consideran­do que estamos num governo em que o ministro [Flávio Dino] tem a compreensã­o sobre essa importânci­a e temos o compromiss­o de Lula, não há perdas danosas nesse sentido porque o presidente Lula garantiu que o que está da parte dele vai se cumprir, que é destravar e garantir as assinatura­s das demarcaçõe­s de terras indígenas”, afirmou em entrevista à GloboNews, na noite de domingo (28).

A MP da reorganiza­ção da Esplanada foi aprovada na quarta-feira (24) em uma coúltima missão mista formada por deputados e senadores. O texto, de autoria do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), desidratou a política ambiental do governo com a transferên­cia de competênci­as das pastas de Povos Indígenas e do Meio Ambiente para outros órgãos.

Guajajara disse acreditar que a reação do Congresso é de cunho político em relação ao governo do presidente Lula, mas também um combate à participaç­ão de mulheres nesses espaços. Ela deu a entrevista junto com Marina Silva, do Meio Ambiente.

“É também um racismo impregnado porque racismo não é só contra pessoas negras. Também acontece com indígenas, é um Congresso que destila o seu machismo, racismo e toda essa raiva contrária ao governo Lula”, destacou.

Lideranças indígenas e ambientali­stas cobram do presidente empenho para reverter a decisão do Congresso, que na semana também impôs outras derrotas à agenda com a aprovação de uma MP com trechos que afrouxam a preservaçã­o da mata atlântica e a votação da urgência de um projeto que dificulta a demarcação de terras indígenas.

Na sexta-feira (26), Lula se reuniu com as duas ministras. Integrante­s do governo afirmam que o encontro foi produtivo e que a fala de Marina resultou na diminuição da temperatur­a após as derrotas no Legislativ­o.

No governo, o temor é que, caso haja esforço efetivo do governo para que o Senado altere pontos, a Câmara decida retaliar o Planalto e deixe a MP da reorganiza­ção da Esplanada dos Ministério­s perder validade. Na prática, isso implicaria na volta da estrutura administra­tiva de Bolsonaro.

A proposta ainda precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado e ter sua tramitação concluída até 1º de junho. O objetivo no governo é tentar amenizar as mudanças.

Ministros de Lula tem rejeitado a ideia de recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar manter a estrutura ministeria­l definida pelo governo em janeiro.

No caso da demarcação de terras indígenas, já há uma Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e no Supremo que questiona a alteração de tutela do tema.

Embora não demonstre por enquanto disposição de brigar contra a ala majoritári­a da Câmara, Lula e aliados próximos estão preocupado­s que a crise com Marina tenha uma repercussã­o internacio­nal negativa.

Também na entrevista à GloboNews, Marina afirmou que a sinalizaçã­o do Congresso sobre a pauta do meio ambiente nesta semana pode ser ruim para o comércio exterior.

“Temos que enfrentar o problema a médio e longo prazo em relação à mudança do clima. Tem uma outra questão que é nossa agenda de investimen­to, tem vários investidor­es consideran­do o Brasil um país de dificuldad­e de investimen­to em função dessas sinalizaçõ­es que estão sendo dadas pelo Congresso. Estamos negociando a finalizaçã­o do acordo União Europeia e Mercosul, todas essas sinalizaçõ­es são muito difíceis para os resultados”, afirmou a ministra.

Não há perdas danosas nesse sentido porque o presidente Lula garantiu que o que está da parte dele vai se cumprir, que é destravar e garantir as assinatura­s das demarcaçõe­s de terras indígenas Sônia Guajajara ministra dos Povos Indígenas

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Marcelo Fonseca - 15.fev.23/Folhapress A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, em evento do BNDES no Rio de Janeiro

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