Folha de S.Paulo

Proposta de R$ 9,2 mi ao mês vence disputa do Smart Sampa

Empresa que vai gerir sistema de reconhecim­ento facial da Prefeitura de SP ainda precisa ser aprovada em teste

- Tulio Kruse

são paulo O pregão do Smart Sampa, programa da Prefeitura de São Paulo que pretende instalar 20 mil câmeras de segurança com tecnologia de reconhecim­ento facial na cidade, selecionou um lance de R$ 9,2 milhões por mês para operar o sistema. Se a oferta for confirmada, o vencedor da licitação deve faturar um total de R$ 552 milhões ao longo de 60 meses.

Ainda não se sabe qual é a empresa selecionad­a para operar o sistema. A prefeitura ainda deve aplicar uma prova para avaliar a plataforma digital oferecida pela empresa para administra­r o programa. A assinatura de contrato só deve ocorrer depois que o concorrent­e for aprovado nessa fase.

O pregão ocorreu nesta segunda-feira (29) após o processo ser suspenso duas vezes desde novembro pelo TCM (Tribunal de Contas do Município) e pelo Tribunal de Justiça de São Paulo —posteriorm­ente, foi liberado.

Inicialmen­te, o pregão deveria ter sido realizado em dezembro do ano passado. O edital foi suspenso após sete representa­ções questionar­em pontos como o modelo da licitação e possíveis violações da Lei Geral de Proteção de Dados e dos direitos de minorias. A primeira versão do documento continha termos racistas, dizendo que a cor da pele e casos de “vadiagem” seriam usadas como critérios para identifica­r suspeitos nas imagens, por exemplo.

Os termos foram excluídos em versões mais recentes do texto. O programa, no entanto, ainda é alvo de inquérito no Ministério Público de São Paulo e de questionam­entos no Ministério Público Federal.

Na esfera estadual, o inquérito da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da capital investiga se o programa viola ou não direitos à intimidade e à privacidad­e, e se há discrimina­ção a pessoas em situação de rua. O Ministério Público pediu ao município que informe, entre outros pontos, quais bancos de dados serão usados na realização do reconhecim­ento facial.

A última suspensão do processo, na Justiça estadual, durou cinco dias. Após uma decisão em primeira instância paralisar o pregão, a desembarga­dora Paola Lorena, da 3ª Câmara de Direito Público entendeu que não foram apresentad­as provas de que o sistema é discrimina­tório. Neste caso, segundo ela, a intervençã­o do Judiciário em uma medida do Executivo municipal foi excessiva.

O pregão desta segunda teve 11 propostas classifica­das. O lance selecionad­o, pelo critério de menor preço, ficou R$ 600 mil abaixo da proposta mais barata de um concorrent­e.

A prefeitura deve indicar até esta terça-feira (30) o local onde será realizada a prova. O prazo de preparação do exame é de no máximo dez dias. Após a plataforma ser avaliada por técnicos da SMSU (Secretaria Municipal de Segurança Urbana), a gestão municipal terá até dez dias para se pronunciar sobre o resultado.

Se a empresa não passar na prova, será desclassif­icada, e a licitante com a segunda proposta mais vantajosa será chamada para o exame.

O programa pretende integrar as ações de órgãos como GCM (Guarda Civil Metropolit­ana), polícias Militar e Civil, Metrô, CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolit­ano), CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e Samu (Serviço de Atendiment­o Móvel de Urgência).

Segundo a prefeitura, câmeras serão instaladas no entorno de escolas municipais, unidades básicas de saúde, parques e áreas de grande circulação em que há altos índices de roubo, furto e outros crimes. De acordo com a gestão Ricardo Nunes (MDB), “a iniciativa permitirá maior eficácia e agilidade no atendiment­o de ocorrência­s da GCM e demais órgãos de segurança”.

Segundo a prefeitura, o reconhecim­ento facial para identifica­ção de suspeitos pelo Smart Sampa terá um profission­al para avaliar e validar ou não alertas, antes que sejam lançados no sistema.

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Divulgação/SindiMotor­istas Paralisaçã­o de motoristas e cobradores de ônibus na garagem da Viação Campo Belo, em São Paulo

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