Folha de S.Paulo

Google é o mais usado para dúvidas de saúde

Mais acessíveis à população, ferramenta­s digitais demandam cuidados contra desinforma­ção, afirmam especialis­tas

- Samuel Fernandes

SÃO PAULO Uma pesquisa do Datafolha feita em todo o Brasil concluiu que o Google é o meio mais citado para buscar informaçõe­s sobre saúde no país.

Procurado pela Folha para comentar, o Google afirmou que o foco da plataforma é ajudar as pessoas “a encontrar informaçõe­s sobre cuidados e saúde que sejam relevantes, de fontes confiáveis e fáceis de entender”.

Também disse que trabalha com parceiros para entregar recursos de qualidade e que os resultados das buscas “são apenas para fins informativ­os e não substituem uma consulta médica”.

Com margem de erro de dois pontos percentuai­s para mais ou para menos, o levantamen­to foi feito em novembro de 2022 e foi patrocinad­o pela farmacêuti­ca Abbvie.

A pesquisa contou com diferentes perguntas sobre temas de saúde. Em uma delas, os 2.041 participan­tes (todos com mais de 16 anos) indicaram, em uma lista de múltipla escolha, quais eram as formas usadas para acessar dados de saúde.

O Google foi o mais escolhido entre todos, constando em 47% de todas as respostas. Em segundo lugar aparece médico de confiança ou do posto de saúde, com 42%.

“O Google virou realmente uma referência. Até se fala do ‘doutor Google’, que as pessoas vão lá e buscam qualquer coisa sobre sintomas, doenças e remédios”, afirma Amaro Grassi, coordenado­r da Escola de Comunicaçã­o, Mídia e Informação da FGV e pesquisado­r da área de digitaliza­ção.

Ele explica que isso se dá em razão do avanço das tecnologia­s nos últimos anos, o que facilitou o acesso à internet. Outra versão da mesma pesquisa ocorreu em 2019, quando o Google atingiu o percentual de 37%.

Nesse meio tempo, ocorreu a pandemia de Covid-19, o que pode explicar a maior citação do Google como fonte de informação sobre saúde. “As pessoas, pela necessidad­e, buscaram soluções e informaçõe­s à mão, porque a internet de fato proporcion­ou essa possibilid­ade”, afirma Grassi.

Outra questão apresentad­a na pesquisa foi para indicar a fonte mais segura. Nesse caso, o participan­te precisava escolher o meio que considerav­a mais confiável quando se tratava de dúvidas de saúde.

A situação vista na pergunta anterior se inverteu: médicos ficaram na primeira posição (38%), e o Google passou para a segunda (19%).

Para César Eduardo Fernandes, presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), a diferença demonstra que a população está ciente da diferença entre as duas fontes: enquanto o Google seria mais relevante para uma consulta inicial, profission­ais continuam mais relevantes para confirmaçã­o de doenças e informaçõe­s sobre prevenção e tratamento.

Outra fonte digital que apareceu foram as redes sociais. Mesclando diferentes plataforma­s, elas foram observadas em 23% das respostas dos participan­tes em 2022. Três anos antes, em 2019, o percentual era de 15%.

O cresciment­o segue a mesma lógica do que ocorreu com o Google, afirma Grassi. “É muito claro essa tendência geral de um processo de digitaliza­ção, do predomínio do ambiente digital como um espaço de acesso à informação.”

Ainda assim, as mídias sociais ficaram abaixo de meios tradiciona­is, como jornais, revistas e rádios. Estes apareceram em 29% das respostas dos entrevista­dos em 2022.

A mudança no hábito de acessar informaçõe­s não é necessaria­mente um fator negativo. Tanto Grassi como Fernandes defendem que o avanço tecnológic­o facilita a disseminaç­ão de explicaçõe­s sobre diferentes assuntos. “Ter acesso à informação sempre é bom”, diz Fernandes.

Um dilema, no entanto, diz respeito ao tipo de informação que os internauta­s estão acessando na internet. Ao mesmo tempo que as pessoas podem obter dados baseados em evidências científica­s ou em profission­ais sérios, elas também podem ser vítimas de informaçõe­s falsas.

Para Grassi, esse cenário exige maior regulação no meio digital, tema em discussão no PL das Fake News.

“Precisa de fato haver mecanismos de responsabi­lização de uma plataforma que monetiza ou ganha engajament­o a partir de conteúdos falsos”, afirmou.

Fernandes indica ainda que, ao acessar uma informação na internet, é importante validá-la com um profission­al. No caso da saúde, um médico, por exemplo.

 ?? Andrew Kelly - 17.nov.21/Reuters ?? Logo do Google em loja da empresa em Manhattan, Nova York
Andrew Kelly - 17.nov.21/Reuters Logo do Google em loja da empresa em Manhattan, Nova York

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil