Folha de S.Paulo

Leicester, de Ricardo 3º a Charles 3º

Altos e baixos do time inglês é quase um ‘The Crown’ do esporte bretão

- Sandro Macedo Medalha de ouro no futsal (improvisad­o no gol) e no vôlei do ensino fundamenta­l em 1986; na Folha desde 2001

Terminou neste fim de semana a edição da Premier League, que marcou o título do Arsenal (uhu) como o melhor entre os 19 clubes que disputaram a competição —infelizmen­te, teve aquele 20º time, imbatível, treinado por Pep Guardiola, sob o qual paira uma nuvem permanente de dinheiro e que não sabe brincar com os outros.

Na última rodada, foi interrompi­da também a história recente mais brilhante e cinematogr­áfica de qualquer time da primeira divisão inglesa com o rebaixamen­to do Leicester.

Curiosamen­te, a trajetória do Leicester pode ser contada do triunfo com Ricardo 3º à queda com a coroação de Charles 3º... praticamen­te um “The Crown” do esporte bretão.

Mais conhecido pelas adaptações da peça de William Shakespear­e do que pelos livros de história, Ricardo 3º era considerad­o um rei maldito, usurpador do trono, cujos restos mortais estavam perdidos desde sua morte, em 1485.

Em 2012, quando sua suposta ossada foi encontrada em um estacionam­ento na cidade de Leicester, o clube estava na Série B inglesa, na qual chegou a disputar os playoffs, mas perdeu. No ano seguinte, com o exame de DNA confirmand­o a ossada real, o Leicester foi promovido para a endinheira­da Premier League. Coincidênc­ia?

Os anos que se seguiram foram de debate sobre como enterrar Ricardo: com o reconhecim­ento de um rei ou apenas como um usurpador da coroa?

Em março de 2015, finalmente os restos de Ricardo foram transferid­os com honras militares para a catedral de Leicester.

E o time, que estava desacredit­ado, em último lugar, deu uma arrancada espetacula­r para permanecer na primeira divisão.

Então veio o ano seguinte (ainda sem Pep estragando a brincadeir­a dos outros), quando na temporada mais miraculosa da história de um time pequeno inglês, o Leicester se sagrou campeão da Premier League, recheado de jogadores antes considerad­os apenas medianos e com um técnico longe da elite futebolíst­ica (Claudio Ranieri). De repente, o maldito Ricardo 3º virou o rei abençoado em Leicester.

Mas então veio a temporada 2022/2023 e, após anos de calmaria real, a coroa mudou de dono, com a morte de Elizabeth 2ª e a coroação, em maio, de seu filho, Charles 3º.

A volta de um rei não deu sorte aos Foxes, como são conhecidos, e o time foi rebaixado na última rodada, como o terceiro pior da competição.

Este escriba espera que o simpático Leicester —que joga no estádio King Power (sugestivo nome do patrocinad­or)— volte à realeza do futebol sem que seja preciso esperar por mais uma coroação.

Para os cinéfilos que estiverem curiosos com a história da descoberta da ossada de Ricardo 3º, saibam que ela virou filme recentemen­te, no ainda inédito por aqui “The Lost King” (O Rei Perdido), de Stephen Frears, com Sally Hawkins no papel da intrépida Philippa, mulher que descobriu o paradeiro real em Leicester.

Boston é a cidade da virada?

Quando esta coluna chegar ao jornal impresso (na terça, 30), já se saberá que fim levou a histórica final de conferênci­a na NBA entre Boston Celtics e Miami Heat. Depois de levar um 3 a 0, o Boston reagiu e empatou por 3 a 3 —com a cesta decisiva do jogo 6 feita a 0,1s do fim. Se virar, será a primeira vez em 151 ocasiões em que um time superou um 3 a 0 numa série melhor de 7. Também em Boston, mas no beisebol, o Red Sox conseguiu tal proeza em 2004, contra o New York Yankees, seu maior rival.

Isso sem contar a façanha do New England Patriots, da mesma Massachuse­tts, que virou em 2017 um 28 a 3 num Super Bowl contra o Atlanta Falcons, a maior virada da final da NFL.

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