SPFW fecha com Elke Maravilha e mostra força dos desfiles-protesto
Walério Araújo homenageia a vida da apresentadora com looks brilhosos e bolsas de abacaxi usadas de acessórios
são paulo Foi uma São Paulo Fashion Week mais tranquila, a que terminou neste domingo (28), em comparação com a edição anterior, em novembro do ano passado. Com menos marcas grandes participando e com a organização do evento mais afiada, a maioria das apresentações da 55ª semana de moda começou com atrasos aceitáveis de 20 a 30 minutos —não de uma ou duas horas— e o “seating” nas salas de desfile fluiu bem.
“Seating”, em inglês mesmo, é como os fashionistas se referem a quem senta aonde para acompanhar os desfiles. O mapeamento dos assentos é feito com dias, até semanas de antecedência. Obviamente a primeira fila é a mais cobiçada —até porque nela sempre estão sacolinhas com brindes— e é normal que convidados das categorias C e D tentem roubar lugares na fila A, onde ficam atores globais, ex-BBBs, estilistas, jornalistas e pessoas próximas à marca. Parece elitista, e é, mas este jogo é parte fundamental de um desfile.
Esta edição da semana de moda também ajudou a consolidar os desfiles-protesto, em que a roupa é apenas parte do show, um pretexto para se falar de questões sociais mais amplas. Isaac Silva, por exemplo, fez seu desfile numa ocupação de moradores sem-teto no centro de São Paulo, colocando alguns deles na passarela. A grife carioca AZ Marias ignorou o ideal de beleza magra ou esquálida da moda ao chamar praticamente só modelos com corpos fora deste padrão. O estreante Maurício Duarte levou indígenas para a passarela e exibiu cartazes contra o projeto de lei do marco temporal.
Contudo, entre as dezenas de desfiles que tomaram vários pontos da capital paulista durante a semana passada, houve quem tenha se concentrado na costura. João Pimenta fez uma grande retrospectiva de seus 20 anos de marca com looks de acervo repaginados, e Lino Villaventura mostrou seu vestuário escultural e complexo, com bordados, dobraduras e degradês de cores, tudo na mesma peça.
No desfile do estilista cearense, que fechou o evento, eram audíveis os murmúrios de encanto da plateia a cada entrada de modelo. O primeiro look era um vestido semitransparente carregado de bordados coloridos na parte superior que ficava plissado conforme chegava à barra, porção da roupa com gradações de cor em lilás e amarelo.
O ator Reynaldo Gianecchini fez duas entradas —na primeira com um casaco longo colado ao corpo com a barra terminada em recortes assimétricos, e na segunda com um visual meio dândi, de camisa branca e calças pretas de alfaiataria com bolsos gigantes, que se estendiam até depois dos joelhos. A atriz Silvia Pfeiffer desfilou um vestido cuja gola subia até seu rosto.
Outro notável do domingo foi Walério Araújo. O estilista abusou dos brilhos e das cores numa coleção em homenagem à apresentadora Elke Maravilha, sua amiga pessoal e para quem desenhou figurinos. “Ela foi uma precursora da Lady Gaga. Ficava entre o conceito e a fantasia”, disse ele.
Os looks foram todos absurdos, como era de se esperar — botas cintilantes vermelhas e roxas em camurça e vinil que chegavam até a virilha, gatos, peixes e plumas de pavão como acessórios de cabeça, bolsas em formato de abacaxi.
Araújo explora ao limite os temas a que se dedica, isto é, cada look conta uma história com início, meio e fim. Uma das modelos tinha um top em formato de boca combinado com uma tiara onde se lia a palavra “Elke”, e outra entrou vestida de coração carregando uma flecha na cabeça.
O último dia da semana de moda teve também espaço para clima soturno, no desfile da Greg Joey, dado que a beleza dos modelos evocava uma ideia de depressão, embora os looks fossem na direção oposta, apostando numa paleta de cores alegres.
O show abriu com uma série de vestidos longos em variados tons de verde. A marca de Lucas Danuello também explorou os plissados, que apareceram em vestidos roxos e lilases. As proporções são over e, como na coleção do ano passado, as camisetas alongadas com estampas que fazem referência ao cinema voltaram. A nova estação foi inspirada pelo longa “Afogando em Números”, de Peter Greenaway —os números em si apareceram em brincos prateados na forma de algarismos.