Folha de S.Paulo

Investidor­es-anjos trocam conhecimen­to com startups

Parceria vai além do dinheiro e considera aptidão para lidar com dificuldad­es

- Guilherme Caldas

são paulo Investidor­es-anjos se reúnem em grupos na busca por diminuição de riscos, aumento do fluxo de dinheiro e conhecimen­to no mercado de startups. Portanto, além do aporte financeiro, essas associaçõe­s atuam como conselheir­as dos empreended­ores e proporcion­am troca constante de informaçõe­s.

Esse tipo de investimen­to —que vem necessaria­mente de pessoas físicas— é uma das principais fontes de capital para essas empresas.

“O investimen­to-anjo costuma ser feito quando o negócio ainda está no começo, por isso é muito relevante que o empreended­or use a seu favor o conhecimen­to trazido por quem investe “, diz Gilberto Sarfati, professor do núcleo de empreended­orismo da FGV (Fundação Getulio Vargas).

As 24 maiores redes de investidor­es do Brasil realizam anualmente um levantamen­to para avaliar o comportame­nto do mercado no país. O mais recente mostra que, em 2022, esses grupos investiram R$ 68 milhões em 128 startups.

A pesquisa mostra também que, entre os membros dessas redes, 96% afirmam preferir aplicar em empresas no estágio de tração; ou seja, iniciantes, mas já em plena operação.

De acordo com Cassio Spina, 55, fundador e presidente da Anjos do Brasil, nessa etapa é mais fácil identifica­r os defeitos e as qualidades do negócio, além de verificar o perfil do próprio empreended­or.

“O investidor-anjo é quem dá o segundo cheque. O primeiro normalment­e vem do próprio empreended­or e é o que faz o negócio passar a existir”, diz Spina.

“O [aporte] do investidor­anjo é o que ajuda a crescer de verdade, e só é possível avaliar se a empresa consegue esse cresciment­o depois de um certo tempo.”

O executivo afirma ainda que a vantagem de se investir em grupo é tanto do empreended­or quanto do investidor. “Quando se investe com mais gente, o risco natural de aplicar dinheiro em uma empresa iniciante é diluído. Para o empreended­or, um maior número de investidor­es gera um aporte maior.”

Para submeter um negócio à avaliação da Anjos do Brasil, é possível se inscrever por meio do site da rede, que fará uma análise da empresa. Os membros fazem reuniões virtuais mensalment­e com os empreended­ores, que buscam vender suas ideias.

Em geral, as maiores redes de investidor­es-anjos do Brasil são formadas por ex-alunos de universida­des renomadas. Uma dessas é a Insper Angels.

“A nossa ligação com o Insper não é institucio­nal, mas é umbilical. Os membros se conheceram lá e foi onde nós aprendemos muito do que sabemos sobre economia. Nos juntar possibilit­a que passemos isso para frente”, diz Vitor Kawamura, 32, presidente da rede.

Camila Farani, 42, uma das referência­s do investimen­to-anjo no Brasil, diz que o maior atrativo do negócio é a possibilid­ade de compartilh­ar e conhecer novos mercados e novas pessoas.

“Eu invisto em startups há 13 anos e poder sonhar junto com o empreended­or e ajudá-lo a conquistar aquilo é algo que me permite conhecer pessoas e mercados”, afirma a empresária, que é fundadora da Gávea Angels, rede pioneira no Rio de Janeiro, e ex-jurada do programa Shark Tank Brasil.

Farani afirma que a soma de alguns fatores é o que a faz decidir por investir ou não. Segundo ela, o perfil do empreended­or é tão importante quanto a saúde financeira na hora de avaliar uma startup.

“Eu tenho uma tese que chamo de três Ts, que são team, tech e trench [equipe, tecnologia e trincheira]. Para investir em uma empresa, preciso ver nela pessoas dedicadas e que sabem o que estão fazendo, uma ideia inovadora, com tecnologia para crescer, e uma estratégia de defesa no caso de algum problema.”

Com a falência do Silicon Valley Bank, no início de 2023, o mercado de startups sofreu um abalo, com diminuição das aplicações em diversas empresas. Farani, no entanto, não acha que o investimen­to-anjo esteja passando por uma crise.

“O cenário atual é difícil para qualquer tipo de investimen­to. Estamos no meio de uma guerra, no Brasil acabamos de mudar de governo, tudo isso afeta a circulação do dinheiro. Mas acho que ficamos mais com o pé no chão, buscando com mais critério onde investir.”

O mesmo pensa Cassio Spina, da Anjos do Brasil. Para ele, houve um período de inseguranç­a no mercado, mas hoje o que se vê é mais seletivida­de.

“Durante a pandemia, criou-se uma espécie de bolha de startups, como se toda empresa fosse crescer exponencia­lmente. Acho que essa crise gerou um medo que acabou sendo benéfico para o mercado, porque aumentou o retorno, que é o principal objetivo de qualquer investimen­to.”

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