Folha de S.Paulo

Episódio não deve ter efeito sobre eleição russa, afirma pesquisado­r

- Renan Marra

A morte de Alexei Nalvani, principal opositor de Putin, chacoalhou a população da Rússia, mas não terá qualquer impacto sobre a eleição presidenci­al do país prevista para o mês que vem. A avaliação é do cientista político russo Alexandr Cherstobit­ov, que descreve o sistema político local como um “autoritari­smo eleitoral”, cujo espaço para dissidênci­as é praticamen­te nulo.

A notícia reverberou em todo o mundo, e críticos do Kremlin afirmam que o opositor foi assassinad­o na cadeia. Na Rússia, onde Putin tem índices altos de aprovação, a morte foi recebida com luto, mas também com comemoraçã­o de apoiadores do presidente, segundo Cherstobit­ov. “Não há quase ninguém indiferent­e à notícia.”

Mas a polarizaçã­o da sociedade não terá reflexo nas urnas, afirma o cientista político. Ele se refere ao pleito do mês que vem, com algum nível de sarcasmo, como um “evento do tipo eleitoral” controlado pelo que chama de elites políticas e cujo resultado —a reeleição de Putin— já é sabido de antemão.

“No entanto, as ‘eleições’ ainda são importante­s por vários motivos: legitimaçã­o do regime e dos autocratas, mobilizaçã­o daqueles que estão envolvidos no funcioname­nto do regime, competição entre as elites internas etc.”, diz o especialis­ta. “Ao mesmo tempo, a administra­ção de todos os procedimen­tos eleitorais está sob rígido controle e, portanto, o assassinat­o de Navalni não terá impacto sobre eles.”

Desde o início da Guerra da Ucrânia, há quase dois anos, o governo russo ficou ainda mais autoritári­o, segundo o especialis­ta. Ex-professor universitá­rio de ciência política em São Petersburg­o e pesquisado­r independen­te, ele atualmente mora em São Paulo e dá aula como professor convidado pelo programa Pesquisado­res em Risco, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Para Cherstibit­ov, a morte de Navalni também não vai influencia­r os rumos da Guerra da Ucrânia, que completará dois anos no próximo dia 24. O ativista era crítico da invasão do país de Volodimir Zelenski. “A propaganda persuade as pessoas de que a única maneira de acabar com a guerra é vencendo.”

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