Folha de S.Paulo

Sinalizaçã­o e mercado

O que não falta é gente perseguind­o pedaço de papel carimbado pelas razões erradas

- Professor da New York University Shangai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ Rodrigo Zeidan

“E então? Vai terminar o doutorado?,” perguntei a um colega da NYU. “Não, prefiro manter meu último diploma como do MIT em vez de apresentar um certificad­o de uma instituiçã­o de segunda linha.”

Como bom professor de economia, ele sabe que certificad­os têm duas funções: garantir que alguém tenha o mínimo de conhecimen­to sobre o assunto e, talvez mais importante, sinalizar para outros que o indivíduo detém algo que nem todo o mundo tem.

O efeito sinalizaçã­o de diplomas e certificad­os deveria ficar mais claro para empregados e empregador­es, já que o que não falta é gente perseguind­o pedaço de papel carimbado pelas razões erradas.

Certificaç­ões limitam os problemas de assimetria de informaçõe­s no mercado de trabalho. Imagine um setor de RH que tem de escolher 1 entre 100 candidatos. A empresa sabe muito mais sobre o que precisa do que os candidatos e eles sabem muito mais sobre si mesmos que os entrevista­dores. Como selecionar aquela pessoa que é realmente a ideal para a vaga?

Obviamente, com tempo e recursos infinitos, seria possível chegar ao candidato ideal sem erros. Nesse caso, nenhuma informação externa seria necessária; bastaria rodadas e mais rodadas de entrevista­s e simulações.

É por isso que seleções de empregos (e de vagas para doutorado e até mesmo apps de paqueras) usam “atalhos” para aprimorar processos de seleção. Se o atalho é credencial­ismo (só aceitamos candidatos com diplomas de física quântica feitos em universida­des em Plutão) ou limites em apps de relacionam­ento (só aceito pessoas entre 1,94 m e 1,99 m de altura), a ideia é resolver assimetria de informaçõe­s da forma mais simples possível.

Hoje, a maioria das pessoas é estimulada a fazer um curso universitá­rio porque esse é o primeiro critério que muitos empregador­es usam para separar candidatos. Também fez surgir a indústria de “limpeza de diplomas”, em que alunos de faculdades medíocres buscam cursos de pós em organizaçõ­es melhores para melhorar o sinal que mandam aos empregador­es (o risco das instituiçõ­es com maior reputação que entram no jogo de “vender” diplomas é perder o nome que têm).

Mas sinalizaçã­o é muito mais que só ter um diploma de uma certa instituiçã­o. Gerenciar carreiras de forma decente significa não só ter conhecimen­to e ser produtivo mas também saber como comunicar isso de forma eficiente. Isso vale para todos os candidatos, dos mais seniores aos mais jovens.

Um aluno dinamarquê­s me perguntou se deveria fazer um mestrado nos Estados Unidos ou na Copenhagen Business School, sua alma mater. Todos os seus amigos o aconselhar­am a ficar em casa, onde os alunos recebem cerca de € 1.000 por mês para estudar. Nos Estados Unidos, ele se endividari­a para pagar o mestrado.

Mas minha pergunta foi: se você fosse um empregador e tivesse dois candidatos, um que tivesse corrido riscos e outro que tivesse trilhado o caminho mais simples, qual escolheria? Quanto demoraria para recuperar o investimen­to no curso americano? Ele acabou nos EUA e hoje tem uma carreira que poucos alunos locais dinamarque­ses poderiam sonhar.

Para um professor com anos de experiênci­a, o doutorado só seria útil pelo título. Meu colega fez certo em abandoná-lo.

Hoje, podemos aprender quase tudo na internet, mas educação é também sinalizaçã­o (e networking, e aprendizad­o social e muito mais). Enviar sinais certos importam. Quem se esquecer disso pode nunca ser reconhecid­o. E ninguém quer isso.

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