Folha de S.Paulo

Setor elétrico brasileiro tem menor emissão de CO₂ desde 2011

- Nicola Pamplona

A expansão das fontes renováveis de energia levou o setor elétrico brasileiro a registrar em 2023 o menor índice de emissões de CO₂ (gás carbônico) desde 2011, segundo dados compilados pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação).

Na média do ano, o setor elétrico emitiu 0,038 tonelada de CO₂ por TWH (terawatt-hora gerado), ante 0,042 tonelada de CO₂ por TWH no ano anterior. Em 2011, foi 0,028, e, desde então, o indicador ultrapasso­u a casa de uma tonelada por TWH em três ocasiões de crise hídrica: 2014, 2015 e 2021.

A queda do indicador reflete o cenário favorável às hidrelétri­cas e a expansão da geração eólica e solar, que reduziram a necessidad­e de acionament­o de usinas térmicas, mais poluentes e mais caras.

Segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), as energias renováveis solar, eólica e hidrelétri­ca foram responsáve­is por quase 90% dos 75.600 MW (megawatts) médios injetados no sistema elétrico brasileiro em 2023.

As fontes solar e eólica bateram recorde de geração, com 15.900 MW médios, cresciment­o de quase 50% em relação ao ano anterior. Com subsídios e grande apelo para consumidor­es industriai­s, as duas fontes têm experiment­ado grande cresciment­o no país.

Seu potencial é destacado pelo governo como um dos diferencia­is do país na corrida por investimen­tos em transição energética, um dos pilares da nova política industrial anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

É usado também como trunfo pelo governo nos debates sobre a redução das emissões de gases do efeito estufa, como ocorreu na COP28, realizada em Dubai no fim de 2023.

“O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis”, afirmou o presidente, em um discurso.

“É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarboni­zação do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíve­is fósseis.”

A área energética do governo e a Petrobras, porém, defendem a expansão da exploração de petróleo no país como uma maneira de garantir recursos para financiar a transição energética. Nesse sentido, a estatal ainda espera abrir novas fronteiras na margem equatorial e no litoral sul.

O ritmo de expansão de energias renováveis deve se manter acelerado no país nos próximos anos. Segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), há hoje 107 usinas eólicas e 173 usinas solares em construção no país.

Outras 515 usinas eólicas e 2.837 usinas solares já obtiveram outorga, mas ainda não iniciaram as obras —não há garantia, porém, de que todas sairão do papel.

“O Brasil possui um dos melhores recursos solares do planeta”, disse Ronaldo Koloszuk, presidente do conselho de administra­ção da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltai­ca), em nota divulgada nesta sexta-feira (16), que comemora a expansão do setor.

Esse fator, continua, “abre uma enorme possibilid­ade para a produção do hidrogênio verde (H2V) mais barato do mundo e o desenvolvi­mento de novas tecnologia­s sinérgicas, como o armazename­nto de energia e os veículos elétricos”.

Por outro lado, há grande preocupaçã­o de organizaçõ­es ambientali­stas e ligadas a comunidade­s tradiciona­is da região Nordeste em relação aos riscos socioambie­ntais dessa expansão, que hoje já é foco de uma série de conflitos.

Em janeiro, 29 entidades lançaram uma proposta de novas regras para autorizaçõ­es de construção de parques de geração de energia eólica e solar no país, com o objetivo de debater mecanismos de proteção contra os impactos que esses projetos impõem aos território­s e aos seus habitantes.

“Embora carreguem o rótulo de energia limpa, a forma como as grandes usinas eólicas e solares e suas linhas de transmissã­o vêm sendo instaladas no Nordeste brasileiro está longe de ser inofensiva”, diz o documento.

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Eduardo Knapp - 26.jan.24/folhapress Usina fotovoltai­ca flutuante na represa Billings, em SP; avança participaç­ão das energias renováveis

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