Folha de S.Paulo

Educação retoma financiame­nto de 100% do curso superior pelo Fies, eliminado em 2015

- Paulo Saldaña

O governo Lula (PT) fez uma alteração no Fies (Financiame­nto Estudantil) e estipulou a retomada de financiame­ntos de 100% das mensalidad­es de cursos superiores em instituiçõ­es privadas. Batizada de Fies Social, a medida é voltada para estudantes de baixa renda.

As mudanças vieram em uma resolução publicada no Diário Oficial desta sexta-feira (16). A medida já havia sido anunciada pelo ministro da Educação, Camilo Santana.

Essa é uma tentativa de turbinar o Fies, que tem sido enxugado ao menos desde 2015, no governo Dilma Rousseff (PT), após descontrol­e de gastos com o programa. No ano passado, primeiro ano do governo Lula, o número de financiame­ntos foi menor do que no fim do governo Jair Bolsonaro (PL).

Foram 50.360 contratos em 2023, contra 50.914 em 2022.

São elegíveis ao Fies Social jovens de famílias inscritas no Cadúnico, o cadastro federal para programas sociais, e com renda familiar per capita de até meio salário mínimo. Metade das vagas oferecidas em cada processo seletivo terá esse foco.

Também há previsão de reserva de vagas para estudantes autodeclar­ados pretos, pardos, indígenas e quilombola­s e de pessoas com deficiênci­a, de acordo com a proporção na população da unidade da Federação onde está instalada a instituiçã­o, segundo o último Censo do IBGE.

O modelo estará disponível a partir do segundo semestre de 2024. O acesso ao financiame­nto é feito por meio de uma plataforma específica em que estudantes usam a nota do Enem para ingresso. O governo divulgou que mais de 100 mil estudantes podem ser beneficiad­os, mas não especifico­u o número de vagas neste ano.

O financiame­nto de 100% do curso havia sido eliminado em 2015. O Fies viveu auge de número de beneficiad­os entre 2012 e 2014, quando chegou a oferecer 732 mil novos contratos no ano. Esse salto, que represento­u grandes lucros para empresas educaciona­is, ocorreu de maneira descontrol­ada, afetando contas públicas e gerando alta inadimplên­cia.

Desde então houve uma série de mudanças. Na prática, a possibilid­ade de financiame­nto foi minguando ano a ano. Mesmo as vagas anunciadas pelo governo não vinham sendo preenchida­s.

Integrante­s do setor privado de ensino superior apontam que o veto a financiame­nto integral do curso exercia o maior entrave para o preenchime­nto das vagas e interesse ao programa.

A ABMES (Associação Brasileira

de Mantenedor­as do Ensino Superior) comemorou a decisão. “As mudanças no Fies vão ao encontro do que nós defendemos, um Fies mais social, que promova a inclusão educaciona­l das camadas menos favorecida­s da população brasileira”, destaca Celso Niskier, diretor presidente da entidade.

Há avaliações no mercado, entretanto, de que o financiame­nto integral pode desestimul­ar ainda mais a cultura de pagamentos no Fies. O calote já chega a cerca de 2 milhões de pessoas e o governo abriu um refinancia­mento que represento­u grande perdão de dívidas.

No Fies, o governo paga as mensalidad­es para as instituiçõ­es e o aluno fica com a dívida para ser quitada após o fim do curso. Oito em cada dez estudantes universitá­rios estão em instituiçõ­es privadas.

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