Folha de S.Paulo

Fez do Bixiga, em SP, como Papai Noel

- Fábio Pescarini

MARCO PAULO TELLES (1974 - 2024)

Quando entrou em casa vinda da maternidad­e com seu quarto filho no colo, a mãe logo avisou aos irmãos do menino: “Chegou o Machão”.

Machão foi o apelido dado pelas enfermeira­s logo após o parto, por causa do tamanho daquele grande bebê. Assim o administra­dor de empresas e comerciant­e Marco Paulo Telles foi chamado a vida toda.

Ele nunca foi de briga, pelo contrário, do alto de seu 1,80 m costumava chamar pelo nome as pessoas nas ruas do Bixiga, tradiciona­l bairro do centro de São Paulo, onde viveu.

Do pai José Telles, o Zé da Gráfica, herdou, além do carisma, a missão de substituí-lo como o Papai Noel que anualmente entregava sacolinhas com brinquedos, livros e guloseimas às crianças daquela região.

“Meu pai morreu em 2006 e há sete anos as pessoas começaram a pedir a volta do Papai Noel”, conta Carlos Alberto Telles, 60.

“Assumi a presidênci­a [da organizaçã­o que cuida da arrecadaçã­o e distribuiç­ão dos presentes] e meu irmão ficou no lugar do meu pai”, afirma. Assim, o Bixiga, bairro de raízes negras, continuou a ter um Papai Noel negro.

Na sua rotina não natalina, sempre que tinha oportunida­de gostava de viajar para Praia Grande.

Corintiano roxo, não perdia um jogo do Timão, tanto que assinava vários canais e serviços de esportes para assistir a partidas de futebol e corridas de Fórmula 1.

Mas com o irmão e outros voluntário­s, passava boa parte do ano envolvido na logística para arrecadaçã­o de brinquedos, que já começa em maio.

No último Natal foram distribuíd­os três caminhões lotados com 4.000 kits de presentes, com Marco Telles tornando o fim de ano da garotada mais feliz.

Cinco veículos do Corpo de Bombeiros acompanhar­am em dezembro a carreata solidária, que em um de seus pontos terminou em almoço para famílias carentes sob o viaduto Júlio Mesquita Filho.

Só que a turma do último Natal também teve de recusar alguns convites de outros eventos, pois o Papai Noel estava doente —ele tratava havia alguns meses de um câncer e poderia não suportar o calor.

“Meu irmão não quis que falássemos da doença e pouca gente soube”, afirma Carlos. “Mesmo assim, ele entregou presentes em dezembro”, diz.

Marco Paulo Telles morreu no último dia 2 de fevereiro, aos 49 anos, pouco mais de um mês após o Natal. Machão não teve filhos, mas foi o Papai Noel das crianças de um bairro inteiro de São Paulo.

Procure o Serviço Funerário Municipal de São Paulo:

tel. (11) 3396-3800 e central 156; prefeitura.sp.gov.br/servicofun­erario. Anúncio pago na Folha: tel. (11) 3224-4000. Seg. a sex.: 10h às 20h. Sáb. e dom.: 12h às 17h.

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