Folha de S.Paulo

Raul Seixas juntou as músicas de Elvis com ritmos nordestino­s e criou o rock brasileiro

- Thales de Menezes

Nos 17 álbuns que lançou durante os seus 26 anos de carreira, não é exagero dizer que Raul Seixas construiu o rock nacional. O volume de número 16 da Coleção Folha Rock Stars, que chega às bancas neste domingo, mostra a importânci­a do cantor e compositor ao abrir caminho para o gênero por aqui.

Claro que ele teve inegável ajuda de nomes como Os Mutantes e Rita Lee, mas seu caminho foi peculiar. Enquanto os meninos paulistano­s praticavam uma mistureba sonora que contemplav­a muita coisa diferente, o baiano Raul pegou o rock original, aquele de Elvis Presley, e foi acrescenta­ndo ritmos dançantes nordestino­s, como o baião e o xaxado.

Como o jornalista Antônio Carlos Miguel afirma no livro, “a original mistura de rock com Brasil segundo Raul está entre as explicaçõe­s para a sua música ter conquistad­o tanto o nicho do público roqueiro quanto o povão”.

O sucesso foi tanto que fez surgir no Brasil sósias que se dedicavam a imitar seus trejeitos em shows. Um tipo de tributo queno cenário internacio­nal só tem paralelo com Michael Jackson eopróp rio Elvis.

Omaisimp ressio nanteéo artista ter conquistad­o tanta penetração trazendo em suas letras conceitos pouco conhecidos do grande público, como religiões orientais e ideias de pensadores sofisticad­os como o filósofo alemão Friedrich Nietzsche e o ocultista britânico Aleister Crowley.

Em seus shows, era grande a surpresa de ver multidões cantando versos que falam de onisciênci­a e propõem mudanças radicais na forma como as pessoas se relacionam com o mundo, como, respectiva­mente, em “Gita” e “Sociedade Alternativ­a”, duas canções de seu álbum “Gita”, de 1974.

As letras de ambas as músicas foram escritas com Paulo Coelho. Raul e o escritor brasileiro mais bem-sucedido no exterior produziram 33 músicas, e o livro da coleção analisa essa relação de irmandade que não evitou o surgimento de problemas sérios entre eles.

Depois de sua morte, aos 44 anos, em 1989, o culto a Raul só aumentou. E criou um bordão —“toca Raul!”. É a maneira que as plateias encontrara­m para reclamar quando artistas de rock não conseguem mostrar no palco músicas que as deixem satisfeita­s.

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Weberson Santiago/divulgação Ilustração da Coleção Folha Rock Stars

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