Folha de S.Paulo

Paes tenta reabilitar legado olímpico como bandeira no RJ

Em ano eleitoral, prefeito associa Jogos com novas obras em área bolsonaris­ta

- Italo Nogueira

rio de janeiro O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), iniciou antes do Carnaval um esforço para tentar reabilitar as Olimpíadas de 2016 e seu legado como uma bandeira eleitoral.

Quase oito anos após os Jogos, ele começou uma série de inauguraçõ­es de unidades escolares construída­s com a estrutura das arenas olímpicas. As futuras entregas também vão associar o legado olímpico com obras de sua atual gestão.

O presidente Lula (PT) deu sua contribuiç­ão para tentar ampliar a bandeira do legado. Neste mês, anunciou que a Arena Carioca 2, uma das mais ociosas do Parque Olímpico, vai se transforma­r num campus do Instituto Federal do Rio de Janeiro, que oferece desde ensino técnico de nível médio até pós-graduação.

A organizaçã­o das Olimpíadas marcou as duas primeiras gestões de Paes na prefeitura (2009-2016). O evento ajudou a transforma­r a cidade num canteiro de obras, com a inauguraçã­o de corredores de ônibus e a revitaliza­ção da zona portuária, entre outras intervençõ­es.

Contudo, a crise econômica e de seu grupo político em 2016 fizeram com que os Jogos e seu proclamado legado fossem insuficien­tes para que Paes garantisse a vitória de um aliado como sucessor. O deputado Pedro Paulo (PSD) ficou fora do segundo turno na disputa daquele ano, que acabou com Marcelo Crivella (Republican­os) como o vitorioso.

Crivella não seguiu os planos deixados pelo antecessor para conversão de arenas em escolas e tentou colar a imagem do “largado olímpico” ao evento.

A imagem dos Jogos também foi arranhada quando algumas das obras foram envolvidas em denúncias de corrupção. O próprio Paes chegou a responder a ação penal relacionad­a ao evento. O caso acabou arquivado pela Justiça.

Em 2020, Paes venceu Crivella numa disputa em que pouco se falou da Olimpíada. Quatro anos depois, em busca da reeleição, o prefeito retomou a defesa do legado olímpico. Em discurso ao lado de Lula no dia 7 passado, em evento que marcou a conversão da Arena Carioca 3 em uma escola municipal, fez o que chamou de “reparação histórica”.

“A gente deu um jeito aqui no Brasil de transforma­r aquilo num problema. Como se aquele momento fosse um momento ruim para o Brasil. O mundo estava olhando para a gente e nós estávamos do alto de todas as nossas crises. Conseguimo­s uma super Copa do Mundo, uma super Olimpíadas, mas perdemos a oportunida­de de ocupar espaço como nação no país”, disse ele.

O evento contou até com uma pira, acesa pelos ex-atletas Paula Pequeno (vôlei) e Clodoaldo Silva (natação paraolímpi­ca).

“Essa cidade ganhou 150 km de BRT [corredores de ônibus]. Sabe quanto tempo vai levar para fazer isso [de novo]? Nunca. [Mas] As pessoas dão um jeito para dizer que não tem legado.”

Paes retomou em 2021 o plano de desmontage­m da Arena do Futuro, que sediou a competição de handebol, para a construção de quatro escolas. Duas delas foram inaugurada­s no dia 6 e outras duas têm abertura prevista para março.

As unidades de ensino que usarão a estrutura nômade da arena serão montadas em Bangu, Campo Grande, Rio das Pedras e Santa Cruz, bairros da zona oeste. A região foi onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve seus melhores resultados na eleição de 2022 na cidade.

A concentraç­ão do legado na zona oeste vai ao encontro da atenção de Paes para a região. O principal investimen­to da atual gestão é um anel viário em Campo Grande, cujo orçamento total supera R$ 1 bilhão.

A zona oeste também vai receber a piscina do Parque Aquático. Ela ficará no Parque Oeste, em Inhoaíba, uma das três grandes áreas de lazer que a prefeitura está construind­o, inspirados no Parque Madureira, uma das bandeiras de campanha de Paes em 2012.

Paes desvincula a escolha dos locais das eleições e afirma estar atendendo a região mais carente da cidade.

“São as áreas mais carentes dessa cidade. A piscina do estádio de natação, em que o [Michael] Phelps ganhou aquelas medalhas todas, está virando uma vila olímpica em Inhoaíba, na zona oeste, área onde a milícia é mais forte, área com menos atenção do poder público e menos oportunida­des”, disse ele, no discurso do dia 7.

O destino da piscina olímpica é visto na pré-campanha do prefeito como uma forma de dissociar a imagem do legado olímpico a entregas em atraso. O objetivo é vincular os benefícios dos Jogos também aos novos projetos de sua atual gestão.

Outro exemplo do tipo é o Terminal Intermodal Gentileza, construído no centro da cidade. A estrutura que vai integrar o corredor de ônibus Transbrasi­l ao VLT recebeu material de aço do antigo Centro de Mídia.

Paes tem como principal potencial adversário o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), escolhido por Bolsonaro como pré-candidato no Rio de Janeiro. A escolha, porém, tem sido questionad­a após a operação da Polícia Federal sobre a “Abin paralela”.

 ?? ?? O prefeito Eduardo Paes e o presidente Lula durante evento do legado olímpico realizado no Parque Olímpico, na zona oeste do Rio de Janeiro Eduardo Anizelli - 7.fev.24/Folhapress
O prefeito Eduardo Paes e o presidente Lula durante evento do legado olímpico realizado no Parque Olímpico, na zona oeste do Rio de Janeiro Eduardo Anizelli - 7.fev.24/Folhapress

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil