PT e movimentos fazem manifesto contra ato de Bolsonaro na Paulista
O PT, partidos governistas e movimentos ligados ao presidente Lula decidiram preparar manifesto em reação ao ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) para domingo (25) na avenida Paulista. O grupo quer denunciar o golpismo do ex-presidente e reiterar apoio à democracia.
A resposta à manifestação bolsonarista foi discutida na segunda (19) e na terça (20) em fóruns com a participação da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e de coordenadores das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo. O grupo jurídico Prerrogativas também está envolvido.
As duas frentes englobam entidades como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), CUT (Central Única dos Trabalhadores), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e UNE (União Nacional dos Estudantes).
Após descartarem a realização no domingo de atos de rua ou em locais fechados, por temores como os de comparação de tamanho do público e risco à segurança, os articuladores decidiram escrever um manifesto e buscar o apoio de outros segmentos da sociedade civil.
O texto, que está sendo redigido, deve apontar Bolsonaro como líder de uma trama para dar um golpe de Estado após a eleição de Lula. Também repudiará a tentativa do ex-presidente de questionar as investigações para, na visão dos detratores, manipular a opinião pública.
“Que autoridade, que moral tem Bolsonaro para invocar o Estado democrático de Direito? O último ato dessa gente acabou na depredação da praça dos Três Poderes. Agora o golpista quer ocupar a Paulista”, diz Gleisi.
Ao chamar seus apoiadores, Bolsonaro disse em vídeo que será “um ato pacífico, em defesa do nosso estado democrático de direito”. Ele afirmou que usará o evento para se defender de todas as acusações que têm sido imputadas a ele nos últimos meses.
A ofensiva da esquerda deve avançar também sobre a participação de autoridades na manifestação. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) não deverão ser citados no manifesto, mas a ideia é que sejam cobrados pelo apoio a Bolsonaro diante do que já foi revelado. Os dois anunciaram que irão à mobilização.
Nos bastidores, líderes de partidos da base do governo e representantes de movimentos de esquerda conversam desde a semana passada para fazer um balanço do quadro e monitorar a necessidade de uma reação do que chamam de campo democrático.
Uma preocupação é a de que não se pode subestimar o poder de convocação de Bolsonaro. A avaliação é que uma manifestação puxada por ele para se contrapor às investigações da PF pode ter desdobramentos que voltem a colocar a democracia em xeque.
O presidente estadual do PT em SP, Kiko Celeguim, acionou o Ministério Público Eleitoral do estado e pediu acompanhamento para que o ato não vire reedição do 8 de janeiro, conforme noticiou o Painel. Ele reitera o direito à manifestação, mas cobra providências.
Segundo o coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, que é filiado ao PT, o manifesto pretende ratificar o compromisso do Brasil com a democracia e impedir que o levante de janeiro de 2023 seja esquecido.
“O Bolsonaro que ocupou a Paulista no passado [com ameaça de golpe e de desobediência à Justiça] é o mesmo de agora”, diz .
Carvalho afirma ainda “ser vergonhosa” a presença de Tarcísio e Nunes e aponta contradição na presença deles na manifestação depois da ausência em solenidades que exaltaram o apoio à democracia, antes e depois do 8 de janeiro. Nunes tem o apoio de Bolsonaro para a reeleição.
Os organizadores querem angariar apoios para além da esquerda, nos moldes do que foi feito com a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito”, lida na Faculdade de Direito da USP, em 2022.