Folha de S.Paulo

Circense, criou forma rápida de levantar o picadeiro

JOSÉ FERNANDES CARDOSO DA SILVA (1964 - 2024)

- Adriano Alves

Um circo médio para ser montado por cinco pessoas leva até três dias. No de José Fernandes, a mesma equipe conseguia começar de manhã e receber o público à noite. O circense se especializ­ou na engenharia de levantar lona e criou um novo modelo de torres, bem mais prático.

Desde jovem, ainda no circo

do pai, Fernandes já comandava a armação, na função chamada de capataz. “Ele era o líder na mudança. Ele que marcava o terreno e onde ia ficar a frente. Fazia toda essa parte”, lembra o irmão Washington Barros Silva, 51.

José Fernandes Cardoso da Silva nasceu no dia 6 de janeiro de 1964 e, ainda pequeno, passou a ser chamado de Fernando. Era natural de Penedo (AL), mas a vida foi na estrada, como um bom circense.

A infância foi toda no circo do pai, o Iquilone. No picadeiro, começou a apresentar números ainda aos 9 anos. Dominava trapézio, escada giratória e loop. Com 15, já se arriscava no arame e malabares.

Foi na adolescênc­ia que uma outra paixão tomou sua atenção, o futebol. Morando em Belo Horizonte, onde o avô residia e todos os irmãos começaram a estudar, entrou para o time de base do Atlético-mg. Mas teve que seguir viagem, pois a mãe não quis deixá-lo quando o circo partiu.

Se tornou referência para os menores. Ensinava aos irmãos os números que seriam apresentad­os pela família. “Ele era o nosso professor pulso firme”, afirma a irmã Cássia Cristina Barros Silva, 49.

Aos 28 anos, ele conheceu Adriana Feitosa, que foi assistir a um espetáculo em Teresina (PI). Se casaram e tiveram três filhos. Após se separar, o mais velho seguiu na estrada cuidado pela avó paterna.

Fernando e o irmão Wellington ganharam uma lona do pai e criaram seu próprio circo em 2006, o Ascoly. A sociedade durou cinco anos. Em 2011, estreou o circo Empoly, do próprio Fernando. Sua lona, que era montada de forma bem rápida, rodou muitos municípios do Nordeste. Foi de Pernambuco ao Maranhão, passou pelo Piauí e fez muito sucesso no interior da Bahia.

O Empoly durou alguns anos, ora independen­te ora em parceria com outras lonas da mesma família.

O comandante tinha personalid­ade forte, os irmãos contam que ele não era de muita conversa e muitas vezes era bruto, mas não guardava raiva. “Ele poderia sair na mão com a pessoa e, dali a meia hora, chamava para tomar um refrigeran­te”, diz Washington.

Fernando, que não bebia nem fumava, morreu aos 60 anos, dia 21 de janeiro, devido a uma tuberculos­e. Deixa dez filhos: Fernanda, Brenda, Wilton, Késsia, Alfredo, Isabele, Ingrid, Camila, Priscila e Kaiane.

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