Folha de S.Paulo

BB retoma negócios com setor de defesa um mês após anunciar veto

- Cézar Feitoza

O Banco do Brasil decidiu retomar a linha de financiame­nto e emissão de garantias para o setor de defesa um mês após comunicar às empresas que não usaria mais capital próprio para auxiliar nas exportaçõe­s, fato que causou temor de descontinu­idade de contratos.

O anúncio foi feito na segunda (26) após reunião entre os ministros Geraldo Alckmin (Desenvolvi­mento, Indústria, Comércio e Serviços), Rui Costa (Casa Civil) e José Múcio Monteiro (Defesa), além da presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros.

Em nota, a pasta de Alckmin afirmou que o banco estatal continuará emitindo garantias interbancá­rias, com uso de recursos da União do Fundo de Garantia às Exportaçõe­s (FGE), sob as formas de garantia de execução, reembolso de adiantamen­to de recursos e termos e condições de oferta.

As garantias costumam envolver cerca de 30% do valor da exportação. Elas servem como um seguro: caso haja problema na chegada do material adquirido, o comprador pode executar a garantia e ser ressarcido pelo pagamento antecipado.

“A decisão evitará prejuízos a empresas do setor que corriam risco de perder contratos e contribuir­á para a sustentabi­lidade e a autonomia da Base Industrial de Defesa”, disse em comunicado o Ministério do Desenvolvi­mento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

O ministro José Múcio disseà Folha que as exportaçõe­s de produtos de defesa têm crescido em todo o mundo nos últimos anos, especialme­nte após o início da Guerra da Ucrânia. Nesse contexto, as exportaçõe­s desse setor no Brasil alcançaram US$ 1,5 bilhão em 2023, segundo o ministro.

“Foi uma medida muito importante porque a defesa nacional é um dos setores que precisam de apoio do Estado. Você não vende foguete para qualquer um, você vende para Estados [...] Surgiram dificuldad­es [para as garantias], mas graças ao empenho do Banco do Brasil e do vice-presidente, nós estamos vencendo.”

Para a Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa e Segurança), a decisão do Banco do Brasil vai reduzir os riscos de perda de contratos de exportação.

A retomada das garantias para exportaçõe­s do setor foi articulada pelos ministros Alckmin e Múcio, que foram pegos de surpresa com o veto anunciado pelo Banco do Brasil em janeiro.

A avaliação no governo, segundo fontes relataram à Folha, era que a posição do BB contrariav­a o plano industrial anunciado dias antes por Alckmin —alvo de críticas por trazer poucas novidades e embalar medidas já implementa­das.

Do lado da Defesa, o risco principal era a sobrevivên­cia de uma série de empresas do setor, que representa­m 4% do PIB brasileiro.

O veto às empresas da Base Industrial de Defesa foi justificad­o pelo Banco do Brasil como resultado de uma nova política interna.

Por razões de governança, o banco não faria negócios com empresas que produzem artigos destinados a guerras, como armas, equipament­os ou veículos.

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