Folha de S.Paulo

Crime, drogas e o prestígio de Lula

Economia aflige menos; nota na segurança pública cai muito, diz pesquisa

- Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA) Vinicius Torres Freire

A partir do final do ano passado até agora, a avaliação de Luiz Inácio Lula da Silva piorou muito em várias áreas, em especial em segurança pública, combate à corrupção e em controle de gastos, lê-se em pesquisa Atlas feita entre 2 e 5 de março.

Aumentou a preocupaçã­o do eleitorado com criminalid­ade e tráfico de drogas e com corrupção, assuntos citados como os principais problemas do país para quase 60% dos entrevista­dos. “Pobreza, desemprego e desigualda­de social”, pior problema citado por 20,6%, e “economia e inflação”, por 15%, ora estão longe no ranking das aflições.

Esses números podem ajudar a explicar a baixa da popularida­de de Lula. O aumento do salário médio, dos benefícios sociais, do número de empregos e a queda da inflação não bastaram para compensar outras insatisfaç­ões (talvez mais reverberad­as em redes sociais e de mensagens).

A melhora socioeconô­mica bastou ainda menos para alterar o fato de que a maioria do eleitorado se divide em opiniões opostas sobre quase qualquer aspecto do governo ou do país, a depender do voto em 2022 (em Lula ou em Jair Bolsonaro).

O prestígio de Lula passou a declinar de modo relevante a partir de setembro, segundo outras duas pesquisas divulgadas na semana passada, a da Quaest e a do Ipec. Nos números da Atlas, desde o início do governo as fatias do eleitorado que dão “ótimo/bom” e “ruim/péssimo” para o presidente estiveram em níveis bem próximos; o declínio da avaliação positiva ficou mais significat­ivo a partir de janeiro.

Mas a degradação do prestígio de Lula causou mais impressão com a divulgação dessas três pesquisas, realizadas entre 25 de fevereiro e 5 de março. Nas três, há empate na proporção de eleitores que dão as melhores ou piores notas para Lula, dada a margem de erro. Isto é, 35% de “positivo” ante 34% de “negativo” na Quaest; 38% de “ótimo/bom” ante 41% de “ruim/péssimo” na Atlas; 33% de “ótimo/bom” ante 32% de “ruim/péssimo” no Ipec.

O grosso da perda de pontos de Lula ocorreu entre seus eleitores de 2022, de primeiro ou de segundo turno, até porque praticamen­te o presidente não tem mais o que perder entre quem votou em Bolsonaro; os demais são minoritári­os.

Lula era “ótimo/bom” para 82,8% de seus eleitores de segundo turno em julho de 2023, caindo para 70,6% em março de 2024, na pesquisa Atlas. No Ipec, foi de 70% para 61%.

Quanto à avaliação de aspectos do governo, a piora mais significat­iva ocorreu em “segurança pública”, dado da Atlas. O desempenho era tido como “ótimo/bom” para 43% em novembro; em março de 2024, para 24%. No caso de “justiça e combate à corrupção”, passou de 49% para 28%. Em “responsabi­lidade fiscal e controle de gastos” de 48% para 30%.

As declaraçõe­s de Lula sobre Israel e, bem menos, Venezuela, foram lembradas nas análises do declínio do prestígio de Lula. Em “relações internacio­nais”, o governo passou de 53% de “ótimo/bom” em novembro para 38% em março.

A avaliação da economia também piora, mas menos.

Confirma-se a disparidad­e quase inamovível de opiniões entre lulistas e bolsonaris­tas. A “situação econômica do Brasil”, por exemplo, é “boa” para 51,5% dos que votaram em Lula no segundo turno de 2022 e para 2,1% dos eleitores de Bolsonaro (Atlas). Para quem votou branco ou nulo, 22,9%; para quem não votou, 24,9%.

Por acaso ou sintomatic­amente, a média da opinião positiva de lulistas e bolsonaris­tas é próxima daquela dos eleitores que não escolheram candidato a presidente na eleição passada. É difícil avaliar a popularida­de de Lula em categorias como renda, anos de estudo e mesmo gênero e religião. Há diferenças relevantes de números entre as pesquisas; de resto, nesses casos, as margens de erro são maiores.

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