Folha de S.Paulo

O mistério do óbvio

Caminho da seleção já está traçado: três atacantes extremamen­te rápidos

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Brasil e Espanha fizeram um jogo emocionant­e, com seis gols, no empate por 3 a 3. A Espanha teve mais o domínio da bola e do jogo, graças ao talento de Rodri no meio campo, que, como o alemão Kross, não erra passe e faz as melhores escolhas. O Brasil foi prejudicad­o pelo árbitro, que marcou dois pênaltis discutívei­s.

Diferentem­ente do jogo contra a Inglaterra, o meio de campo brasileiro não foi bem na marcação nem no apoio. Por isso, e pela falta de brilho individual de Vinicius Junior e Rodrygo, a seleção não explorou o que fez de melhor contra os ingleses: as bolas lançadas para os dois atacantes nas costas dos defensores adiantados.

O jovem Lamine Yamal ,16 anos, foi um dos destaques no jogo, junto com o goleiro Bento do Brasil, o volante Rodri da Espanha e, mais uma vez, o garoto Endrick, com um belo gol, deixando sua marca, no início de sua carreira na seleção, em dois grandes estádios do futebol mundial.

O caminho da seleção já está traçado. Um time que tem três atacantes extremamen­te rápidos, hábeis e talentosos, como Vini , Endrick e Rodrygo, tem de aproveita-los bastante nas transições rápidas da defesa para o ataque. Para isso será necessário priorizar o domínio da bola no meio campo e a qualidade dos meio-campistas.

Ancelotti descobriu o óbvio ao jogar sem centroavan­te e com Vinicius Junior e Rodrygo formando dupla de ataque. Na seleção, poderá ser um trio na frente, com a presença de Endrick.

Os treinadore­s e os profission­ais de todas as áreas que possuem mais talento são os que descobrem o óbvio. Tornam mais simples, claro e eficiente o que parecia complexo.

O teatro do futebol

Todas as principais seleções sul-americanas e europeias possuem problemas. Alemanha, França e Espanha não têm um excelente centroavan­te para o nível de uma grande equipe. A Espanha tem excelentes meio-campistas — Gavi e Pedri estão machucados—, mas não possui um único atacante excepciona­l pelos lados ou pelo meio.

Yamal é, ainda, uma promessa de craque, como Endrick do Brasil, 17 anos. A Inglaterra tem carências na lateral esquerda e no zagueiro deste lado, como mostrou contra o Brasil.

É preciso separar titulares, bons jogadores, que são geralmente destaques em seus clubes, mas que não fazem falta à seleção por terem substituto­s do mesmo nível, dos titulares que são especiais, poucos, indiscutív­eis, que fazem falta, como Vinicius Junior no Brasil, Messi na Argentina, Saka e, principalm­ente, Kane na Inglaterra, Rodri na Espanha, Bernardo Silva e Bruno Fernandes em Portugal, e alguns outros.

Kross, depois de longa ausência da seleção alemã, reapareceu com grande brilho na vitória sobre a França por 2 a 0. Atuou de centro médio (volante), como tem feito no Real Madrid. Nesta posição ele é ainda melhor, por ter uma ampla visão do campo e dar seus passes espetacula­res e precisos. Na função de meio-campista, como atuou na maior parte de sua carreira, ele sempre foi reconhecid­o como um craque, porém era cobrado para entrar mais na área e fazer gols.

Em junho, vão começar a Eurocopa e a Copa América. Os amistosos atuais, assim como os estaduais no Brasil, são preparaçõe­s, treinament­os. Nas competiçõe­s mais importante­s as partidas passam a ser mais intensas, um teatro de técnica, estratégia e emoções, quando afloram as contradiçõ­es, as virtudes e as deficiênci­as humanas.

| dom. Tostão e Juca Kfouri | seg. Juca Kfouri | ter. Sandro Macedo | qua. Tostão | qui. Juca Kfouri | sáb. Marina Izidro

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