Folha de S.Paulo

PF transfere irmãos Brazão para penitenciá­rias federais

Mudança tem intuito de separar presos sob suspeita de mandar matar Marielle

- Marianna Holanda brasília

A Polícia Federal realizou, na manhã desta quarta-feira (27), a transferên­cia dos irmãos Chiquinho e Domingo Brazão para presídios federais de Campo Grande e Porto Velho, respectiva­mente.

A mudança tem o intuito de separar os alvos da operação de domingo (24) e já era esperada. Eles estavam na Papuda, em Brasília, sob suspeita de assassinar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, além da tentativa de matar a assessora Fernanda Chaves, em março de 2018.

Foram presos o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ) e o seu irmão, o conselheir­o do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio Domingos Brazão, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil no Rio. Eles negam participaç­ão no crime. Rivaldo continuará em Brasília.

Chiquinho foi transferid­o para o mesmo presídio onde está o ex-policial militar Ronnie Lessa, executor confesso do assassinat­o e um dos delatores do caso. Foi o depoimento de Lessa que levou a Polícia Federal, seis anos após o crime, a enquadrar os irmãos Brazão entre os suspeitos de serem seus mandantes.

Lessa e Chiquinho, porém, nem sequer devem se encontrar em Campo Grande. O ex-PM do Rio de Janeiro também será transferid­o para outra unidade, como uma das condiciona­ntes para a sua colaboraçã­o com as autoridade­s.

As prisões de domingo são tratadas na PF como uma grande conquista, já que o caso havia sido finalizado sem chegar a mandantes. No início do ano passado, primeiros meses do governo Lula (PT), o novo superinten­dente da polícia no Rio reabriu a apuração, desta vez em âmbito federal.

Segundo a PF, o crime está relacionad­o a divergênci­as de Marielle na Câmara Municipal a um projeto de lei de autoria do então vereador Chiquinho Brazão. A proposta previa a regulariza­ção de terrenos e construçõe­s ilegais nas zonas oeste e norte da cidade, que favorecia a base eleitoral da família Brazão, bem como estimulava a “grilagem” de terras, na qual o grupo político atuava, de acordo com a polícia.

Na delação, Lessa também relatou ter ouvido de Domingos queixas sobre a atuação de Marielle em áreas de interesse da família. A polícia, contudo, relata que o ex-PM afirma existir a possibilid­ade de que um informante do grupo político tenha “superdimen­sionado” a atuação de Marielle.

Em sua defesa em sessão da Câmara na terça (26), Chiquinho Brazão afirmou que tinha

“ótima relação” com Marielle quando era vereador e minimizou a divergênci­a apontada pela PF em relação ao projeto de lei. “A gente tinha um ótimo relacionam­ento, só tivemos uma vez um debate aonde ela defendia área de especial interesse onde eu também defendia”, disse.

Sua fala foi transmitid­a por um telão na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça), que analisava o pedido de prisão do deputado federal. A votação foi adiada após três deputados pedirem vista (mais tempo para análise).

No domingo, a executiva nacional da União Brasil determinou a expulsão do parlamenta­r do partido com cancelamen­to de filiação partidária, numa decisão unânime entre os presentes.

Em nota no domingo, a defesa do conselheir­o do TCE ressalta que “delações não devem ser tratadas como verdade absoluta —especialme­nte quando se trata da palavra de criminosos que fizeram dos assassinat­os seu meio de vida— e aguarda que os fatos sejam concretame­nte esclarecid­os”.

Preso sob suspeita de garantir a impunidade dos mandantes e executores, o ex-chefe da Polícia Civil se declara inocente. Sua defesa, realizada pela advogada Thalita Mesquita, nega qualquer envolvimen­to dele com o assassinat­o.

Aquele ambiente de passarinho, cavalo e mata. [...] Aquele ambiente era uma coisa bacana até para respirar. Virou uma frequência. O Macalé, passarinhe­iro nato... Eu me aventurava a ter um passarinho ou outro, mas meu negócio era mais beber cerveja e jogar sinuca. Nesse ambiente eu conheci os Brazão, os irmãos Ronnie Lessa

Ex-PM apontado como executor de Marielle franco

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Reprodução Irmãos Domingos e Chiquinho Brazão são transferid­os de Brasília para presídios federais

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