Folha de S.Paulo

Tarcísio faz concurso para levar sede do governo à cracolândi­a

Projeto de R$ 3,9 bilhões prevê construção de até 13 torres de 90 m de altura na região central de São Paulo

- são paulo Clayton Castelani

O governo paulista lançou nesta quarta-feira (27) um concurso de arquitetur­a para selecionar estudos para a construção de um novo centro administra­tivo do estado de São Paulo no entorno do parque Princesa Isabel.

Aposta do governador Tarcísio de Freitas (Republican­os) para a requalific­ação da região central da capital, a área escolhida, no bairro Campos Elíseos, é um dos locais que nos últimos anos abrigou a concentraç­ão de dependente­s químicos conhecida como cracolândi­a.

Ao apresentar o projeto, o governador afirmou que a instalação do centro administra­tivo na região aproximará a gestão estadual a um dos principais problemas da cidade, que é o tráfico e o consumo de drogas, na tentativa de resolvê-lo. “Vamos levar a sede do governo para onde? Para junto da cracolândi­a.”

Quatro quadras são objeto da concorrênc­ia organizada pelo IAB-SP (Instituto dos Arquitetos do Brasil em São Paulo) para a construção de até 13 torres que podem chegar a 90 metros de altura. Quase todos os imóveis nessas áreas (quadros azuis, no infográfic­o), deverão ser desapropri­ados, o que inclui ao menos dois edifícios residencia­is, afetando aproximada­mente 200 famílias.

Assinado nesta quarta pelo governador, o decreto de utilidade pública tem validade de cinco anos —mesmo período estimado para a conclusão do projeto—, e existe a expectativ­a de que as obras tenham início até o ano que vem. Além de estimular o mercado imobiliári­o a construir no entorno, a instalação do canteiro serviria de vitrine para a campanha de reeleição de Tarcísio.

A área total a ser construída é de 450 mil m², considerad­o subsolo e jardins. As lajes com escritório­s para 22 mil funcionári­os de 28 secretaria­s e 36 órgãos, como agências e fundações, somam 230 mil metros quadrados.

Estimativa­s preliminar­es apontam para um custo aproximado de R$ 3,9 bilhões, sendo R$ 415 milhões em desapropri­ações e R$ 3,5 bilhões com construçõe­s. O valor será pago pelo governo ao longo de 30 anos, ao concession­ário da PPP (Parceria Público Privado) vencedor da licitação para edificar, administra­r e explorar comercialm­ente o centro. Valores, prazos e até o número exato de prédios só serão conhecidos após a definição do projeto.

O governo ainda destinará R$ 1 milhão para os três escritório­s com melhor colocação na concorrênc­ia. A premiação do primeiro lugar é de R$ 850 mil, além de ter assegurado o direito de ser contratado para elaboração do projeto pelo valor máximo de R$ 24,1 milhões. Segundo e terceiro colocados na disputa receberão R$ 100 mil e R$ 50 mil, respectiva­mente.

Será o maior concurso público de arquitetur­a desde a construção da Brasília, segundo o secretário estadual de Projetos Estratégic­os, Guilherme Afif Domingos. Raquel Schenkman, presidente do IAB-SP, diz que a afirmação do secretário é de difícil confirmaçã­o, mas que será uma das maiores concorrênc­ias do tipo já realizadas no país.

Também semelhante à forma como foi construída a capital federal, a nova sede administra­tiva paulista terá seus edifícios distribuíd­os nas duas laterais de uma esplanada, com a sede do Executivo em uma das suas pontas.

O Palácio dos Campos Elíseos abrigará o gabinete do governador e, para isso, ganhará um anexo com fachada de vidro de dez metros de altura —o gabarito modesto respeita a norma que limita a altura no entorno de bens tombados, como é o caso do palácio.

Construído entre 1890 e 1899, o palacete foi residência do cafeiculto­r Elias Antônio Pacheco e Chaves. Comprado pelo Governo de São Paulo, tornou-se residência oficial dos governador­es e sede do governo de 1935 a 1965, quando houve a transferên­cia para o atual Palácio dos Bandeirant­es, no Morumbi (zona oeste). Atualmente funciona no local o Museu das Favelas.

A residência do governador continuará sendo no Palácio dos Bandeirant­es, que poderá ter parte da sua área convertida em museu. Tarcísio disse que, se reeleito, fará de carro o trajeto diário entre o Morumbi e a região central.

Um centro de convenções com auditório para 10 mil pessoas será instalado na quadra ao lado do palácio, com passagem subterrâne­a sob a avenida Rio Branco para o gabinete do governador.

Excluídas do concurso de arquitetur­a, as áreas do palácio e da esplanada serão alvo de projeto específico conduzido pelo governo. A gestão Tarcísio ainda aspira instalar nos arredores do palácio os comandos das polícias Civil e Militar.

Para dar lugar à esplanada cuja função será a circulação de pedestres entre os prédios públicos com lojas e restaurant­es nos térreos, o parque Princesa Isabel terá suas grades retiradas para voltar a ser praça.

O terminal de ônibus de mesmo nome também deverá ser transferid­o para permitir a integração total da área de quase 400 metros que separa a gigante estátua equestre do Duque de Caxias da entrada do palácio.

Gradeado para ser transforma­do no parque pela gestão Ricardo Nunes (MDB), a área da antiga praça nunca chegou a ser efetivamen­te reaberta ao público. Agora, a prefeitura cede essa e outras áreas no entorno, como o terminal de ônibus, para viabilizar o projeto estadual.

O grande remanejame­nto de funcionári­os deverá esvaziar dezenas de prédios públicos espalhados pela cidade. A maioria deve ser vendida, com preferênci­a para quem for fazer projetos habitacion­ais. A estimativa é arrecadar mais de R$ 1 bilhão com o negócio.

As inscrições para o concurso têm prazo até 12 de junho e a entrega das propostas até o dia 24 do mesmo mês. A divulgação do resultado ocorrerá em 2 de agosto.

As informaçõe­s estão no site concursogo­vspno centro.org.br.

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