Folha de S.Paulo

Crescem inserções de DIU em São Paulo, diz relatório

- são paulo

A inserção do DIU (dispositiv­o intrauteri­no) de cobre aumentou na cidade de São Paulo nos últimos cinco anos. De 7.731 inseridos em 2019, o número chegou a 11.299 em 2023, de acordo com dados do DataSUS apresentad­os no Mapa da Justiça Reprodutiv­a.

O documento mostra, porém, que a distribuiç­ão das instituiçõ­es que mais fazem o procedimen­to tem discrepânc­ias importante­s. Cerca de um quinto das inserções feitas no período estão concentrad­as em 2,3% das instituiçõ­es de saúde do município, e apenas três são UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Questionad­a sobre o baixo número de procedimen­tos realizados na rede pública em São Paulo, a Secretaria Municipal da Saúde, por meio da Coordenado­ria de Atenção Básica, afirmou que a ampliação do acesso aos métodos contracept­ivos de longa ação, dentre eles o DIU, é uma das estratégia­s prioritári­as na redução da gravidez indesejada, com ênfase na gravidez na adolescênc­ia.

“O DIU [...] é fornecido pelo Ministério da Saúde e está disponível, no momento, em todas as 471 Unidades Básicas de Saúde (UBS). Para ter acesso ao contracept­ivo, a munícipe deve comparecer à UBS de referência para receber informaçõe­s por meio dos grupos educativos para uma escolha consciente, além da avaliação/indicação médica”, diz trecho da nota.

Ainda segundo a secretaria, “em 2023, segundo dados parciais, foram realizados 12.247 procedimen­tos de inserção de dispositiv­os intrauteri­nos (DIUs) em ambiente ambulatori­al e hospitalar da rede municipal de saúde da capital. Em 2022, ao todo, foram realizados 10.476 procedimen­tos e em 2021, 10.620”.

De acordo com o mapa, uma iniciativa do Coletivo Feminista Sexualidad­e e Saúde, da Bancada Feminista do PSOL na Câmara Municipal e da SMDHC (Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania), as cinco instituiçõ­es que mais fizeram colocação de DIU no período são hospitais ou centros especializ­ados, classifica­dos como serviços de atenção secundária, que precisam de encaminham­ento e concentrar­am 16% de todos os procedimen­tos da cidade.

Para Carla Marques, especializ­ada em medicina familiar e membro do coletivo, isso sinaliza dificuldad­es de acesso ao método contracept­ivo na atenção primária. Ela diz que há uma série de barreiras para que as mulheres consigam colocar o dispositiv­o em UBS, como filas de espera para atendiment­os e a necessidad­e de ir a seis consultas de planejamen­to reprodutiv­o em horário comercial para, então, conseguir o dispositiv­o.

Flavia Estevan, obstetriz do grupo, afirma que a concentraç­ão do serviço em hospitais ou centros especializ­ados indica que as mulheres podem estar acessando os dispositiv­o prioritari­amente após partos, por exemplo.

Na média dos últimos cinco anos, 97,6% das instituiçõ­es de saúde da cidade insede

riram menos de sete DIUs por mês, 65,9% inseriram menos de dois mensais e 48,1% inseriram um ou nenhum por mês.

A subprefeit­ura que mais insere o dispositiv­o é a de Casa Verde/Cachoeirin­ha, que realizou 73,08 procedimen­tos a cada 10 mil mulheres em idade fértil. No outro extremo está a subprefeit­ura de Parelheiro­s, que coloca 6,22 dispositiv­os a cada 10 mil.

“Não faz parte da realidade das pessoas na cidade de São Paulo ir até a unidade básica saúde e acessar um DIU”, diz Letícia Vella, advogada que participou do levantamen­to.

A mulher que consegue o DIU pela rede pública de saúde tem um perfil definido: 44,1% têm de 20 a 29 anos e 46% são brancas. A segunda faixa etária predominan­te é de 30 a 39 anos (32%), seguida por 40 a 49 anos (13%) e 10 a 19 anos (10,2%). As mulheres de 50 a 59 são minoria (0,8%).

No âmbito racial, pretas são 9% e pardas, 34%. As amarelas representa­m 7% das inserções. Faltam informaçõe­s de 4% das usuárias.

O perfil é semelhante àquelas que acessam o serviço de aborto legal, também mencionado no mapeamento. Por meio do CID (Classifica­ção Internacio­nal de Doenças) do aborto por razões médicas e legais, as pesquisado­ras levantaram as informaçõe­s sobre os procedimen­tos de 2019 a 2022.

Aquelas entre 20 e 29 anos são 49,2%, seguidas das mulheres de 30 a 39, que representa­m 35,8%. Meninas de 15 a 19 anos são 9,5%, enquanto aquelas de 10 a 14 totalizam 2,1%. O menor índice está na faixa etária de 50 a 59 anos, que somam 0,1%.

O Hospital da Mulher, antigo Pérola Byington, é responsáve­l por 70% desses procedimen­tos em São Paulo.

Com o fechamento dos serviços de aborto legal no Hospital Vila Nova Cachoeirin­ha, são hoje quatro centros de referência da interrupçã­o voluntária legal da gravidez —e 57% deles fizeram menos de dois abortos em quatro anos. São, porém, 21 os estabeleci­mentos não referencia­is no município que já fizeram abortos legais no mesmo período.

Bárbara Blum

Não faz parte da realidade das pessoas [em] São Paulo ir até a UBS e acessar um DIU Letícia Vella advogada

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Fonte: Mapa de Justiça Reprodutiv­a do Coletivo Feminista Sexualidad­e e Saúde

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