Folha de S.Paulo

Tinha paixão por literatura e adorava viajar

DILECTA DE BRITO FRANCO (1937 - 2024)

- são paulo

Dilecta de Brito Franco era uma mulher apaixonada por cultura. Gostava muito de cinema e nutria uma paixão especial por literatura. Paixão esta que a levou a trabalhar décadas na Biblioteca Municipal de Campinas, onde mantinha contato diário com os livros e viu de perto escritores e pintores.

Ela nasceu em Mogi Mirim (SP), em 1937, e tinha oito irmãos. Em busca de novas possibilid­ades, a família se mudou para Campinas.

Aos 22 anos, no Carnaval, conheceu Zaiman de Brito Franco, que se tornaria advogado e jornalista. Foram para o Rio de Janeiro, casaram-se e voltaram para Campinas. Ela se tornou professora e passou a dar aulas para os anos iniciais.

Com o marido teve dois filhos, Marcos e Manoel. Marcos morreu aos 25 anos, em um acidente de carro.

“Ele era o mais velho e ela tinha paixão pelo Marcos. Isso foi motivo de muita tristeza para ela. Foi um baque. Apesar de tudo, não endureceu o coração”, afirma Manoel, que é fotojornal­ista.

O casal se separou, mas manteve uma forte amizade por toda a vida. “Eles sempre foram muito amigos. Meu pai era o melhor amigo dela. Aos finais de semana se viam, saíam para almoçar”, conta Manoel.

Os dois também faziam aniversári­o no mesmo dia, sendo ela um ano mais nova. A amizade era tanta que, ao comprar um apartament­o para sair do aluguel, Dilecta contou com a amizade do ex-marido.

“Ela chamou meu pai e disse que não tinha condições de pagar um aluguel e o financiame­nto do apartament­o durante a construção. Ele a convidou para morar em sua casa, e ela ficou lá uns quatro anos”, diz.

Dilecta trabalhou por décadas na Biblioteca Municipal de Campinas, até se aposentar. “Ela amava viajar, ir à praia, foi acampar várias vezes. Uma vez pegou uma avião em São Paulo, desceu no Rio Grande do Norte e voltou em um passeio de ônibus. Demorou quase um mês essa viagem”, conta o filho.

“Ela era muito divertida, gostava muito de gente, de se conectar, e era muito culta”, acrescenta o filho. “Guardava dinheiro para fazer doações e ajudar quem estivesse precisando. Tinha poucas roupas e apenas seis pratos, mas livros tinha quase 400.”

Dilecta morava sozinha e trocava mensagens de bom dia com Manoel diariament­e. Até que não respondeu numa manhã. Ela morreu de infarto aos 86 anos, no dia 14 de fevereiro. “Meu pai diz que eles se conheceram no Carnaval e ela morreu na Quarta-Feira de Cinzas.”

Dilecta deixou o filho e o ex-marido.

Francisco Lima Neto

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