Calor em março foi intensificado por mudanças climáticas
Média de temperatura foi de até 1°C acima de calorões de décadas passadas em São Paulo e no Rio
Jorge Abreu
O calorão que atingiu Rio de Janeiro e São Paulo recentemente foi impulsionado pelas mudanças climáticas, concluiu um estudo lançado nesta semana.
Os resultados das ações humanas, principalmente pela emissão de gases-estufa na queima dos combustíveis fósseis, somados à variabilidade climática natural provocaram uma elevação de temperatura de até 1°C acima do que foi observado em “calorões” passados.
É o que aponta um estudo rápido de atribuição da ClimaMeter, plataforma desenvolvida pela equipe do laboratório de ciências do clima e do ambiente na Universidade Paris-Saclay, na França. Hoje, integram o grupo cientistas de diversas universidades europeias. O projeto é experimental e se propõe a analisar, de forma ágil, eventos extremos logo após as ocorrências.
A pesquisa avaliou a onda de calor que atingiu parte do Brasil de 15 a 18 de março. A ClimaMeter analisou como as ondas de calor na região mudaram neste século, em relação às características de décadas anteriores. A pesquisa comparou a média de temperatura dos anos 2001 a 2023 com o período de 1979 a 2000.
O estudo concluiu que as ondas de calor estão 1°C mais quentes do que as previamente observadas no país.
Na avaliação do pesquisador Tommaso Albert, um dos autores do estudo, a recente onda de calor destaca o profundo impacto das mudanças climáticas, com o aumento nos riscos à saúde.
Na cidade de São Paulo, no dia 16 de março, um sábado, foi registrada temperatura de 34,7°C, a maior para o mês em 81 anos, desde que o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) passou a fazer a estatística, em 1943. Esse foi o dia mais quente no ano na cidade.
No Rio, no dia seguinte (17 de março), a sensação térmica foi recorde, com 62,3°C registrados na estação meteorológica de Guaratiba .
Ele ressalta ainda que o índice de calor —como é chamada a medição da sensação de temperatura, que considera tanto a temperatura do ar quanto a umidade— atingiu níveis sem precedentes.
“Nossa análise revela temperaturas percebidas excepcionalmente altas resultantes da convergência de ar anormalmente quente e aumento da umidade, fenômenos que devem se intensificar com as mudanças climáticas em curso.”
Os cientistas observaram que eventos similares ocorriam principalmente em novembro e dezembro, enquanto no clima atual estão acontecendo em fevereiro e março. Davide Faranda, coautor do estudo, avalia que os impactos deste evento destacam o conceito de justiça climática, já que comunidades marginalizadas suportam o peso de impactos severos.
“Medidas urgentes de adaptação são necessárias, especialmente para populações vulneráveis que vivem nas favelas, onde o índice de calor excede os valores oficialmente registrados.”