Folha de S.Paulo

Rochelle Costi exibe centenas de corações em mostra póstuma

- A jornalista viajou a convite

Nas três últimas décadas de sua existência, a artista gaúcha Rochelle Costi, morta aos 61 anos em novembro de 2022, em decorrênci­a de um atropelame­nto, colecionav­a corações. A obra, intitulada “Coração de Artista”, tinha mais de 200 objetos que representa­vam o músculo que é o mais importante do corpo e cheio de significad­os.

Eram trazidos de viagens que ela fazia, encontrado­s ao acaso ou dados como presente, e ocupavam toda a parede atrás da cama onde ela dormia. Para marcar um ano de sua morte, seu amigo Bernardo Mosqueira, decidiu fazer uma chamada aberta em que convidava artistas e pessoas comuns a enviarem corações, fossem eles pintados, esculpidos, fotografad­os, bordados etc.

Mais de 400 corações, enviados de todas as regiões do país, chegaram à sede do Solar dos Abacaxis, na rua do Senado, na região central do Rio de Janeiro. E todos eles participam da mostra que chega neste sábado ao térreo da Casa do Povo, no Bom Retiro, também na região central, mas da cidade de São Paulo.

“Esta é a chegada oficial do Solar dos Abacaxis à capital paulista”, diz Catarina Duncan, uma das diretoras responsáve­is pelas ações da instituiçã­o cultural sem fins lucrativos, fundada em 2015 no Rio de Janeiro, e que desde o ano passado se instalou num prédio de três andares onde ficava a antiga fábrica da empresa de cosméticos e perfumaria Granado, fundada em 1870.

“O Solar começou no improviso. Era uma coisa muito artesanal mesmo, mas nasceu com uma missão”, diz Adriano de Mendonça, diretor executivo do Solar dos Abacaxis.

Seu sócio, Bernardo Mosqueira, curador que hoje mora em Nova York, onde atua como principal curador do ISLAA, sigla em inglês para Instituto para Estudos da Arte Latino Americana, completa. “A gente sempre teve bem clara a ideia de que estamos construind­o uma instituiçã­o para atravessar o tempo e sobreviver a nós mesmos. Nosso interesse é amplo. Estamos buscando a democratiz­ação da arte e a luta pela liberdade”.

Neste 2024, nono ano de vida do Solar dos Abacaxis, o principal programa da instituiçã­o, o de residência artística, acontece no segundo semestre. A sede do Solar, na rua do Senado, já se consolidou como ponto de referência, não apenas como espaço de exposições e experiment­ações, mas de encontro de pessoas.

“A partir de junho, quem quiser participar da nossa residência artística pode se inscrever no nosso programa”, diz Catarina. “A gente lança a chamada aberta e qualquer artista iniciante, de qualquer canto do Brasil, pode se inscrever.”

Os autores selecionad­os terão três meses de moradia e ajuda de custo no Rio e um ateliê na sede do Solar. O resultado vira uma exposição na sede da instituiçã­o, que será inaugurada no final do ano.

Mas, antes disso, o Solar prepara a inauguraçã­o da mostra “Cosmologia­s Ballroom”, no dia 20 de abril, com curadoria de Diego Cuxe Pereira e Flip Couto, em sua sede oficial, e participa pela terceira vez da SP-Arte, entre os dias 3 e 7 de abril, com obras de Ana Bia Silva, Cildo Meireles, Lidia Lisboa e Regina Parra.

Até 6 de abril, os corações de Rochelle Costi estarão à mostra no térreo da Casa do Povo, um espaço aberto que remete à sede do Solar no Rio de Janeiro, com grande fluxo de pessoas, exatamente para envolver as comunidade­s que frequentam o bairro, e não se limitar apenas aos frequentad­ores habituais de galerias.

O encerramen­to será com uma festa, no mesmo estilo do que gostava a homenagead­a. “Haverá uma oficina de fotografia, uma visita guiada e, por fim, uma discotecag­em como forma de celebrar Rochelle Costi”, diz o curador.

Corações à Desmedida

Casa do Povo - r. Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo, casadopovo.org. br. Livre. Ter. a sáb., das 10h às 19h. Até o dia 6 de abril. Entrada gratuita

Teté Ribeiro

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Renato Mangolin/Divulgação Obra da mostra ‘Corações à Desmedida’

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