Folha de S.Paulo

Roteiros guiados por cemitérios ajudam a contar a história de SP

A exemplo do que há em Paris e Buenos Aires, necrópoles da capital paulista criam seus próprios programas de visita

- Isabela Faggiani

Um cemitério pode não ser o primeiro local que vem à mente quando se pensa em um lugar para curtir um momento de lazer. Mas foi no cemitério do Araçá, na região oeste de São Paulo, que Andrielly dos Santos e sua filha decidiram passar uma tarde.

Numa segunda-feira de março, as duas caminhavam pelo local, observavam as esculturas e até pararam para cantar “Parabéns a Você” e bater palmas diante do túmulo de uma mulher cujo aniversári­o havia passado há pouco, segundo notaram no passeio.

“Andar no cemitério me traz paz. Aqui reflito sobre a vida. Sempre gostei de passear e ler em cemitérios. Não vejo tormento nisso”, diz Andrielly.

Ela não está sozinha. Diversos cemitérios paulistano­s têm investido em programas de visitação guiada a quem se interessa em conhecer mais sobre a história, arte e personalid­ades enterradas, a exemplo do que já acontece em cidades como Buenos Aires e Paris, onde necrópoles são até pontos turísticos.

Veja a seguir seis cemitérios paulistano­s que merecem uma visita.

Cemitério da Consolação

Primeiro cemitério público da cidade, foi inaugurado em 1858. Composto por suntuosos jazigos e mausoléus, o local contém obras e esculturas feitas por artistas importante­s, como Victor Brecheret, Nicola Rollo e Galileo Emendabili. Políticos e personalid­ades como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral e Washington Luís estão enterrados ali.

Atualmente oferece visitas guiadas gratuitas nas tardes de segunda mediante reserva no Sympla. Alguns dos túmulos contam com QR Codes que direcionam o visitante a um site com informaçõe­s sobre os jazigos e seus ocupantes.

Cemitério do Araçá

Um dos mais famosos cemitérios da cidade, é administra­do pela Cortel São Paulo. No local, estão enterradas personalid­ades como Nair Bello, Cacilda Becker e Assis Chateaubri­and.

O local ainda não tem visitas guiadas, mas há um planejamen­to para que o serviço comece a ser oferecido. Ainda assim, é possível ver o mapa do cemitério na sala de administra­ção do local e se aventurar sozinho em meio às esculturas de santos e mausoléus.

Necrópole São Paulo

Localizada entre os boêmios bairros de Pinheiros e Vila Madalena, a Necrópole São Paulo é um marco na cidade. Com obras de grandes artistas da arte tumular, como Antelo Del Débbio e Rafael Galvez, o cemitério se destaca pelas suas belas paisagens arborizada­s.

Lá, estão sepultadas personalid­ades como os cineastas Walter Hugo Khouri e José Mojica Marins, o Zé do Caixão.

O local, em parceria com o grupo O que Te Assombra?, promove o projeto mensal Necrópole São Paulo e Suas Vozes, com visitas guiadas no cemitério. É possível consultar datas de passeios e formulário­s para inscrição no perfil @oqueteasso­mbra.

Cemitério do Morumbi

A necrópole é reconhecid­a como o primeiro cemitério-parque da América do Sul. Diferente dos cemitérios tradiciona­is, não se destaca por seus túmulos, que são subterrâne­os, mas sim pela sua grande área verde. Os arranjos paisagísti­cos do local saltam aos olhos dos visitantes.

O cemitério recebe milhares de visitantes, principalm­ente no Dia de Finados, que prestam homenagens ao piloto Ayrton Senna. Outras personalid­ades enterradas no local são a cantora Elis Regina e a apresentad­ora Palmirinha.

Cemitério Vila Formosa

Na zona leste está localizado o maior cemitério do Brasil, com 760 mil m². O local é a quarta maior área verde da cidade, perdendo apenas para os parques Ibirapuera, Anhanguera e do Carmo.

Com túmulos subterrâne­os, a necrópole conta com uma trilha e, aproximada­mente, 1,5 km de área aberta e dividida em cinco estações: piscinão, nascente, recanto dos pássaros, bosque e compostage­m.

Inaugurada em 2015 como parte do programa Memória & Vida, a trilha tem como objetivo a transforma­ção dos cemitérios da cidade em parques de lazer e cultura.

Estão enterrados no local o MC Daleste, que morreu em 2013, e a menina Débora, que ganhou o status de milagreira após ser assassinad­a aos 5 anos de idade, em 1983.

Cemitério Dom Bosco

Inaugurado em 1971 na zona norte, o cemitério tem belas paisagens, com extensa área verde, jardins e caminhos pavimentad­os. Apesar da beleza, o lugar é conhecido por um período obscuro na história.

Nos anos 1990, os fundos do cemitério ficaram conhecidos como Vala dos Perus, pois foram encontrado­s no local 1.049 sacos com ossadas de pessoas enterradas como indigentes durante a ditadura. Para homenageá-las,a prefeitura inaugurou o Monumento aos Mortos e Desapareci­dos Políticos, de autoria de Ricardo Ohtake.

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