Roteiros guiados por cemitérios ajudam a contar a história de SP
A exemplo do que há em Paris e Buenos Aires, necrópoles da capital paulista criam seus próprios programas de visita
Um cemitério pode não ser o primeiro local que vem à mente quando se pensa em um lugar para curtir um momento de lazer. Mas foi no cemitério do Araçá, na região oeste de São Paulo, que Andrielly dos Santos e sua filha decidiram passar uma tarde.
Numa segunda-feira de março, as duas caminhavam pelo local, observavam as esculturas e até pararam para cantar “Parabéns a Você” e bater palmas diante do túmulo de uma mulher cujo aniversário havia passado há pouco, segundo notaram no passeio.
“Andar no cemitério me traz paz. Aqui reflito sobre a vida. Sempre gostei de passear e ler em cemitérios. Não vejo tormento nisso”, diz Andrielly.
Ela não está sozinha. Diversos cemitérios paulistanos têm investido em programas de visitação guiada a quem se interessa em conhecer mais sobre a história, arte e personalidades enterradas, a exemplo do que já acontece em cidades como Buenos Aires e Paris, onde necrópoles são até pontos turísticos.
Veja a seguir seis cemitérios paulistanos que merecem uma visita.
Cemitério da Consolação
Primeiro cemitério público da cidade, foi inaugurado em 1858. Composto por suntuosos jazigos e mausoléus, o local contém obras e esculturas feitas por artistas importantes, como Victor Brecheret, Nicola Rollo e Galileo Emendabili. Políticos e personalidades como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral e Washington Luís estão enterrados ali.
Atualmente oferece visitas guiadas gratuitas nas tardes de segunda mediante reserva no Sympla. Alguns dos túmulos contam com QR Codes que direcionam o visitante a um site com informações sobre os jazigos e seus ocupantes.
Cemitério do Araçá
Um dos mais famosos cemitérios da cidade, é administrado pela Cortel São Paulo. No local, estão enterradas personalidades como Nair Bello, Cacilda Becker e Assis Chateaubriand.
O local ainda não tem visitas guiadas, mas há um planejamento para que o serviço comece a ser oferecido. Ainda assim, é possível ver o mapa do cemitério na sala de administração do local e se aventurar sozinho em meio às esculturas de santos e mausoléus.
Necrópole São Paulo
Localizada entre os boêmios bairros de Pinheiros e Vila Madalena, a Necrópole São Paulo é um marco na cidade. Com obras de grandes artistas da arte tumular, como Antelo Del Débbio e Rafael Galvez, o cemitério se destaca pelas suas belas paisagens arborizadas.
Lá, estão sepultadas personalidades como os cineastas Walter Hugo Khouri e José Mojica Marins, o Zé do Caixão.
O local, em parceria com o grupo O que Te Assombra?, promove o projeto mensal Necrópole São Paulo e Suas Vozes, com visitas guiadas no cemitério. É possível consultar datas de passeios e formulários para inscrição no perfil @oqueteassombra.
Cemitério do Morumbi
A necrópole é reconhecida como o primeiro cemitério-parque da América do Sul. Diferente dos cemitérios tradicionais, não se destaca por seus túmulos, que são subterrâneos, mas sim pela sua grande área verde. Os arranjos paisagísticos do local saltam aos olhos dos visitantes.
O cemitério recebe milhares de visitantes, principalmente no Dia de Finados, que prestam homenagens ao piloto Ayrton Senna. Outras personalidades enterradas no local são a cantora Elis Regina e a apresentadora Palmirinha.
Cemitério Vila Formosa
Na zona leste está localizado o maior cemitério do Brasil, com 760 mil m². O local é a quarta maior área verde da cidade, perdendo apenas para os parques Ibirapuera, Anhanguera e do Carmo.
Com túmulos subterrâneos, a necrópole conta com uma trilha e, aproximadamente, 1,5 km de área aberta e dividida em cinco estações: piscinão, nascente, recanto dos pássaros, bosque e compostagem.
Inaugurada em 2015 como parte do programa Memória & Vida, a trilha tem como objetivo a transformação dos cemitérios da cidade em parques de lazer e cultura.
Estão enterrados no local o MC Daleste, que morreu em 2013, e a menina Débora, que ganhou o status de milagreira após ser assassinada aos 5 anos de idade, em 1983.
Cemitério Dom Bosco
Inaugurado em 1971 na zona norte, o cemitério tem belas paisagens, com extensa área verde, jardins e caminhos pavimentados. Apesar da beleza, o lugar é conhecido por um período obscuro na história.
Nos anos 1990, os fundos do cemitério ficaram conhecidos como Vala dos Perus, pois foram encontrados no local 1.049 sacos com ossadas de pessoas enterradas como indigentes durante a ditadura. Para homenageá-las,a prefeitura inaugurou o Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos, de autoria de Ricardo Ohtake.