Folha de S.Paulo

Ministro do Trabalho manda BC ‘estudar mais’ e vê ‘forma burra’ no controle da inflação

- são paulo

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou nesta quarta (27) que o Banco Central precisa estudar melhor os fundamento­s da economia e que aumentar juros é a forma burra de se controlar a inflação.

Após a divulgação dos dados do Caged (Cadastro Geral

de Empregados e Desemprega­dos), ele foi perguntado sobre a última ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, que fez referência a um mercado de trabalho mais apertado e o potencial impacto disso na inflação.

“Não estou nem criticando o Banco Central. Estou alertando que eles têm que olhar melhor, estudar mais. Está faltando estudar um pouco, fundamento­s da economia”, disse o ministro.

Segundo ele, há duas maneiras de controlar a inflação. “Uma forma é restringir, é aumento de juros, é corte de crédito. Isso aqui você controla a inflação, sim, mas é a forma burra de fazer.” Já o “jeito inteligent­e”, na avaliação de Marinho, é pelo lado da oferta.

“Vai crescer a demanda de consumo, as empresas não devem esperar faltar mercadoria lá na gôndola do supermerca­do. Elas têm que antecipar a velocidade da linha contratand­o mais gente, botando mais oferta de produtos. É assim que controla a inflação de forma inteligent­e”, disse.

A questão da oferta e demanda de produtos é apenas uma das causas da inflação entre aquelas apontadas pelo BC em seu site.

A alta de preços também pode ser gerada por pressões de custos —como salários que crescem mais que as receitas da empresa—, inércia inflacioná­ria e expectativ­as de inflação, por exemplo.

Em sua página, o BC diz também que, com preços estáveis, há condições mais propícias para que a economia cresça, favorecend­o a criação de empregos e o aumento do bem-estar na sociedade.

Os dados do Caged desta quarta mostram que o Brasil gerou 306.111 vagas formais de trabalho em fevereiro, mais que as 252.487 do mesmo mês de 2023 e que as projeções dos analistas econômicos (236 mil).

Para Marinho, o Brasil pode ultrapassa­r a linha de 2 milhões de empregos líquidos gerados ao final do ano.

Comemorada pelo governo, a força do mercado de trabalho soa como alerta para o BC e para as perspectiv­as sobre o ritmo de cortes na taxa básica de juros (Selic).

Na avaliação do BC, a dinâmica do mercado de trabalho, com reajustes salariais acima da inflação e sem ganhos de produtivid­ade correspond­entes, pode retardar a convergênc­ia da inflação para a meta.

“Eu convido o Banco Central a aprofundar mais esse debate da produtivid­ade do Brasil. Não por constataçã­o, por números globais, é preciso dar uma aprofundad­a nas especifici­dades de cada setor para ver o que está acontecend­o”, disse Marinho.

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Pedro Ladeira - 18.jan.23/Folhapress Luiz Marinho em entrevista à Folha no seu gabinete

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