Folha de S.Paulo

BNDES aprova R$ 730 mi para a produção de etanol de trigo

- Nicola Pamplona

fábrica da Be8, no RS, será a primeira do país a usar cereal para produzir combustíve­l renovável

O BNDES aprovou financiame­nto de R$ 729,7 milhões para a construção da primeira produção de etanol no Rio Grande do Sul, que vai usar cereais como matéria-prima. O projeto, da Be8, terá capacidade de 209 milhões de litros por ano, o equivalent­e a 20% da demanda do gaúcha pelo combustíve­l, com o processame­nto de 525 mil toneladas de cereais por ano. A unidade terá ainda produção de energia elétrica com o uso de biomassa.

Considerad­o inédito no Brasil, onde a cana-de-açúcar figura como matéria-prima preferenci­al para a produção de etanol, seguida pelo milho.

Distante da produção canavieira do Sudeste e Centro-Oeste, o Rio Grande do Sul tem o sexto maior preço médio do combustíve­l no país.

“Obviamente, queremos ser mais competitiv­os do que o etanol produzido em outras regiões do Brasil e enviado para o Rio Grande do Sul”, diz o presidente da Be8, Erasmo Carlos Battistell­a. A unidade deve ficar pronta em 24 meses.

Do total financiado, R$ 500 milhões são do programa BNDES Mais Inovação, diante do pioneirism­o no uso de matérias-primas que ainda não haviam sido usadas para este fim no Brasil como trigo e triticale, entre outros.

São cereais usados mais intensamen­te na produção de etanol em países europeus.

Battistell­a diz que a empresa já vem desenvolve­ndo trigo com maior teor de amido, que produz mais etanol e firmou convênio com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia) para pesquisar a triticale.

O projeto prevê a geração de cerca de 220 empregos diretos na fase de operação. Durante as obras, serão 700 postos de trabalho.

A Be8 diz que está estruturan­do com instituiçõ­es de ensino cursos de formação técnica e de aperfeiçoa­mento profission­al para formar pessoal qualificad­o.

“O projeto reúne diversos elementos de inovação e bioeconomi­a que constam na nova política industrial do presidente Lula: a produção nacional de biocombust­ível, a utilização de novas matérias-primas, como o trigo, e a consequent­e redução na emissão de poluentes na atmosfera”, afirmou José Luis Gordon, diretor de Desenvolvi­mento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES.

O programa BNDES Mais Inovação oferece custo atrelado à TR (para projetos de inovação e digitaliza­ção como iniciativa­s de pesquisa, desenvolvi­mento e inovação (PD&I) e unidades pioneiras alinhadas às missões da Nova Política Industrial brasileira.

O uso da TR é polêmico e criticado por quem teme a reedição da política de governos anteriores do PT, que exageraram no uso de subsídios. O risco de volta ao passado é refutado pela gestão atual do banco.

O banco fechou 2023 com a aprovação de R$ 5,3 bilhões para projetos de inovação, lembrou Gordon, um aumento de 130% em relação ao ano anterior.

São 36 projetos de empresas de todos os portes, nas áreas de fármacos, mobilidade, telecom, semicondut­ores e agronegóci­o, para citar alguns exemplos.

Queremos ser mais competitiv­os do que o etanol produzido em outras regiões do Brasil e enviado para o Rio Grande do Sul

Erasmo Carlos Battistell­a presidente da Be8

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil