Folha de S.Paulo

Lobby contra empresa dos Batistas nos EUA replica estratégia anti-Shein

- Fernanda Perrin

A JBS tornou-se alvo de uma campanha de lobby nos EUA contrária à abertura de capital da empresa na Bolsa de Nova York. Intitulado “Ban the Batistas”, em referência aos irmãos Joesley e Wesley, o grupo não revela seus financiado­res e diz colaborar com “outras organizaçõ­es independen­tes de agricultur­a, meio ambiente e boa governança”.

A consultori­a de lobby contratada, chamada Actum, é a mesma que represento­u no ano passado um esforço semelhante contra a Shein. A estratégia é a mesma: pressionar a SEC (a Comissão de Valores Mobiliário­s americana) para barrar o plano das empresas de abrir capital nos EUA.

Nos dois casos, as listagens sofrem resistênci­a de concorrent­es americanos e ativistas.

Lançada há dois anos, a Actum tem nomes de peso, como o ex-deputado Mick Mulvaney, ex-chefe de gabinete interino do ex-presidente Donald Trump, e a ex-senadora democrata Barbara Boxer.

A diretora-executiva da “Ban the Batistas” é uma vice-presidente sênior da Actum chamada Kimberly Spell, descrita no site da consultori­a como “expert na criação de narrativas e enredos cativantes”. A “Shut Down Shein” (feche a Shein) foi chefiada por outro executivo, Chapin Fay.

As campanhas compartilh­am a mesma lobista, Jennifer Kaufmann, segundo registros apresentad­os ao Congresso americano. No caso da Shein, a Actum diz ter recebido cerca de US$ 180 mil pelos serviços de abril a outubro de 2023. Pela campanha contra a JBS, iniciada em novembro, a consultori­a afirma ter recebido US$ 10 mil até dezembro.

A página “Shut Down Shein” não está mais disponível. Uma versão visível arquivada no Internet Archive, de dezembro, tem uma estrutura semelhante ao site “Ban the Batistas”.

A mensagem de email na página para ser enviada à SEC e à NYSE caracteriz­a a JBS como um “gigante dominador, que pratica cartel e monopoliza o mercado, prejudican­do continuame­nte todos os setores da agricultur­a americana”.

A campanha também acusa a empresa de destruir o meio ambiente e usar trabalho infantil, argumentan­do que a ampliação de acesso ao capital permitida pela listagem em Bolsa daria escala maior às más práticas.

As críticas são ecoadas em vídeos de duas influencia­doras do TikTok compartilh­ados pela página da campanha — elas são as únicas na plataforma que usam a hashtag #banthebati­stas fora o perfil oficial. Uma das páginas, intitulada “theberrybe­stt”, pertence a uma jovem que diz ser engenheira ambiental e tem mais de 54 mil seguidores.

“Ninguém merece ser tão cancelado quanto esses ‘dirty beef boys’”, diz a influencia­dora com uma foto dos irmãos Batista ao fundo, para em seguida explicar quem são eles e quem é a JBS. Outro vídeo, publicado por um perfil chamado “earthtodez­z”, com mais de 31 mil seguidores, usa a mesma imagem.

No comunicado de lançamento, o grupo contra a JBS se define como um “guarda-chuva de organizaçõ­es”. Questionad­a pela Folha quais são os nomes desses integrante­s, Spell não respondeu. Por email, ela disse que a “Ban the Batistas” é “um esforço independen­te que colabora com outras organizaçõ­es independen­tes de pecuária, meio ambiente e boa governança”.

A executiva não respondeu quem financia a campanha. Segundo ela, o grupo é uma organizaçã­o sem fins lucrativos, sob o código 501(c)(4). A categoria é frequentem­ente utilizada por lobistas nos EUA porque permite receber doações ilimitadas de pessoas físicas e jurídicas sem ser obrigada a revelar seus nomes.

O objetivo da “Ban the Batistas” é “proteger os agricultor­es, pecuarista­s, consumidor­es e investidor­es americanos dos riscos e da busca desenfread­a por poder dos acionistas majoritári­os da JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista”, conforme comunicado divulgado à imprensa na época de seu lançamento.

À Folha Spell diz que “líderes de todo o mundo, desde membros do Parlamento até o Congresso dos EUA, reconhecem a ameaça que o IPO da JBS representa e expressara­m sua preocupaçã­o à SEC”, em referência às cartas assinadas pelos políticos que reproduzem as críticas do grupo.

“O fato de os irmãos Batista ganharem quase 90% de controle sobre a JBS através deste IPO fraudulent­o —enquanto aparenteme­nte protegidos pelos tribunais no Brasil— representa um enorme risco para os investidor­es. Além disso, há um reconhecim­ento crescente de que os Batistas têm a capacidade de manipular os tribunais no Brasil, juntamente com escândalos de corrupção nos mais altos níveis do governo, tornando o investimen­to no Brasil empreitada muito arriscada para empresas e indivíduos americanos.”

Em nota, a JBS diz que a abertura de capital nos EUA “vai atrair uma base mais ampla de investidor­es, aumentar a flexibilid­ade de emissão de ações para financiar oportunida­des de cresciment­o e desalavanc­agem, reduzir o custo de capital e ampliar ainda mais o escrutínio da já robusta governança da JBS”.

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Reprodução Site da campanha ‘Ban the Batistas’, contra a abertura de capital da JBS na Bolsa de NY

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