Folha de S.Paulo

Casas Bahia não vai abrir nenhuma loja pelo segundo ano consecutiv­o

- Daniele Madureira

A Casas Bahia, um dos maiores grupos varejistas de eletrônico­s e móveis do país, não vai abrir lojas em 2024. Pelo contrário: deve encerrar mais 20 pontos de venda. É o segundo ano consecutiv­o que a empresa não inaugura uma unidade. A última vez que abriu estabeleci­mentos foi isso aconteceu foi em 2022 (foram 63 unidades).

Hoje o grupo soma 1.078 lojas, entre as bandeiras Casas Bahia e Ponto. Em 2022, eram 1.133. Além das lojas, o grupo engloba o site Extra.com, a fabricante de móveis Bartira, o banco digital Banqi e a empresa de logística Asaplog.

O enxugament­o é uma das estratégia­s do plano de reestrutur­ação para fazer a empresa voltar ao lucro. A tarefa tem sido difícil: entre outubro e dezembro de 2023, a Casas Bahia registrou prejuízo recorde para um trimestre, da ordem de R$ 1 bilhão, seis vezes superior ao do mesmo período de 2022. O ano de 2023 encerrou com perdas de R$ 2,6 bilhões, quase oito vezes maior que as de 2022, que somaram R$ 342 milhões.

“Hoje estamos muito mais animados com o futuro da companhia”, afirmou o presidente da Casas Bahia, Renato Franklin, durante teleconfer­ência com analistas e investidor­es na tarde de terça(26). “Haverá uma melhoria gradativa a cada trimestre. A empresa está se tornando mais leve, eficiente e rentável para enfrentar qualquer cenário”, afirmou.

Como parte do processo de reestrutur­ação, além do fechamento dos 55 pontos de venda, a Casas Bahia encerrou a operação de quatro centros de distribuiç­ão (hoje são 29) e demitiu 8.600 funcionári­os (hoje são cerca de 30 mil).

“É claro que não gostamos de fechar lojas, somos varejo: queremos abrir pontos de venda”, diz à Folha o principal executivo de finanças do grupo (CFO), Elcio Mitsuhiro Ito. “Mas tivemos que enxugar, porque o grupo passou por uma expansão acelerada nos últimos anos, quando o crédito estava fácil e a taxa de juros, baixa. O cenário mudou drasticame­nte em pouco tempo.”

Ele diz que metade do prejuízo se deve à reestrutur­ação. “A outra metade é porque medidas que tomamos ainda não surtiram efeito completame­nte, e o mercado não reage na intensidad­e que queremos”.

Ainda assim, existem avanços, afirma, como a renegociaç­ão da dívida com os bancos.

O total do endividame­nto do grupo está em R$ 3,9 bilhões —o pagamento de parte desse montante, de R$ 1,5 bilhão, foi alongado para três anos.

A palavra de ordem é se voltar para as categorias principais —móveis, eletrodomé­sticos e eletroelet­rônicos. Nos pontos de venda, já não é possível encontrar itens como brinquedos ou itens de higiene pessoal. Na reestrutur­ação, 23 categorias foram cortadas das lojas.

O alto investimen­to na digitaliza­ção das operações por conta da pandemia é um dos problemas do endividame­nto. “Assim como outros varejistas, o grupo privilegio­u a conquista de participaç­ão de mercado online a qualquer custo e agora a conta veio”, diz o consultor André Pimentel, sócio da Performa Partners.

Para ele, embora a Casas Bahia tome iniciativa­s que façam sentido para salvar a empresa, como o enxugament­o dos custos fixos e a concentraç­ão em categorias rentáveis, o problema do varejo é estrutural.

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