Casas Bahia não vai abrir nenhuma loja pelo segundo ano consecutivo
A Casas Bahia, um dos maiores grupos varejistas de eletrônicos e móveis do país, não vai abrir lojas em 2024. Pelo contrário: deve encerrar mais 20 pontos de venda. É o segundo ano consecutivo que a empresa não inaugura uma unidade. A última vez que abriu estabelecimentos foi isso aconteceu foi em 2022 (foram 63 unidades).
Hoje o grupo soma 1.078 lojas, entre as bandeiras Casas Bahia e Ponto. Em 2022, eram 1.133. Além das lojas, o grupo engloba o site Extra.com, a fabricante de móveis Bartira, o banco digital Banqi e a empresa de logística Asaplog.
O enxugamento é uma das estratégias do plano de reestruturação para fazer a empresa voltar ao lucro. A tarefa tem sido difícil: entre outubro e dezembro de 2023, a Casas Bahia registrou prejuízo recorde para um trimestre, da ordem de R$ 1 bilhão, seis vezes superior ao do mesmo período de 2022. O ano de 2023 encerrou com perdas de R$ 2,6 bilhões, quase oito vezes maior que as de 2022, que somaram R$ 342 milhões.
“Hoje estamos muito mais animados com o futuro da companhia”, afirmou o presidente da Casas Bahia, Renato Franklin, durante teleconferência com analistas e investidores na tarde de terça(26). “Haverá uma melhoria gradativa a cada trimestre. A empresa está se tornando mais leve, eficiente e rentável para enfrentar qualquer cenário”, afirmou.
Como parte do processo de reestruturação, além do fechamento dos 55 pontos de venda, a Casas Bahia encerrou a operação de quatro centros de distribuição (hoje são 29) e demitiu 8.600 funcionários (hoje são cerca de 30 mil).
“É claro que não gostamos de fechar lojas, somos varejo: queremos abrir pontos de venda”, diz à Folha o principal executivo de finanças do grupo (CFO), Elcio Mitsuhiro Ito. “Mas tivemos que enxugar, porque o grupo passou por uma expansão acelerada nos últimos anos, quando o crédito estava fácil e a taxa de juros, baixa. O cenário mudou drasticamente em pouco tempo.”
Ele diz que metade do prejuízo se deve à reestruturação. “A outra metade é porque medidas que tomamos ainda não surtiram efeito completamente, e o mercado não reage na intensidade que queremos”.
Ainda assim, existem avanços, afirma, como a renegociação da dívida com os bancos.
O total do endividamento do grupo está em R$ 3,9 bilhões —o pagamento de parte desse montante, de R$ 1,5 bilhão, foi alongado para três anos.
A palavra de ordem é se voltar para as categorias principais —móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Nos pontos de venda, já não é possível encontrar itens como brinquedos ou itens de higiene pessoal. Na reestruturação, 23 categorias foram cortadas das lojas.
O alto investimento na digitalização das operações por conta da pandemia é um dos problemas do endividamento. “Assim como outros varejistas, o grupo privilegiou a conquista de participação de mercado online a qualquer custo e agora a conta veio”, diz o consultor André Pimentel, sócio da Performa Partners.
Para ele, embora a Casas Bahia tome iniciativas que façam sentido para salvar a empresa, como o enxugamento dos custos fixos e a concentração em categorias rentáveis, o problema do varejo é estrutural.