Folha de S.Paulo

SP atrasa adicional a professor de escola vulnerável

- Isabela Palhares

Há dois meses o governo Tarcísio de Freitas (Republican­os) vem deixando de pagar um valor adicional para os professore­s que trabalham em escolas do Estado de São Paulo considerad­as vulnerávei­s.

A bonificaçã­o é paga aos docentes desde 1991 com o objetivo de incentivar os educadores a trabalhar em unidades que ficam em locais com alto índice de violência, pobreza, de difícil acesso ou com risco geológico. Em 2022, o então governador João Doria alterou a lei para que o adicional fosse estendido aos demais profission­ais que atuam nas escolas.

No ano passado, por exemplo, os professore­s que atuavam em escolas considerad­as de média, alta ou altíssima vulnerabil­idade recebiam gratificaç­ão mensal de R$ 289,63, R$ 374,10 e R$ 699,94, respectiva­mente.

O adicional parou de ser pago aos docentes em fevereiro deste ano, porque o secretário de Educação, Renato Feder, não publicou o ato que define o grau de vulnerabil­idade de cada uma das cerca de 5.500 escolas estaduais de São Paulo.

Pela lei que criou o ALE (Adicional de Local de Exercício), o secretário de Educação é responsáve­l por anualmente reexaminar a classifica­ção das escolas. Até esta terça-feira (2), quase dois meses após o início das aulas na rede estadual, Feder não havia publicado a definição de cada unidade.

Em nota, a Secretaria de Educação disse que “está em fase de finalizaçã­o do decreto” que vai definir o pagamento do ALE para 2024. Segundo a pasta, a gestão Tarcísio vai incluir profission­ais das unidades indígenas e quilombola­s. Também vai alterar a regra que determina a reavaliaçã­o anual, fazendo com que ela passe a ser trienal.

“Com a revisão, prevista para ser publicada este mês de abril, mais 2.424 professore­s passarão a ter acesso ao ALE, um investimen­to maior em cerca de R$ 20 milhões que o valor pago em 2023”, diz a secretaria.

Questionad­a, a pasta não informou por que não publicou a classifica­ção das escolas ou as mudanças de regra antes do início letivo para evitar atrasos no pagamento do adicional aos docentes.

Também não informou quantos professore­s e quantas unidades foram contemplad­os com o ALE no ano passado.

Para os professore­s, o atraso no pagamento já gera transtorno­s e preocupaçã­o com as despesas, já que o valor do adicional chega a representa­r mais de 10% do salário daqueles que recebem o piso da categoria, que é de R$ 5.300 para a jornada de 40 horas semanais.

“Nós não recebemos bem e, quando conseguimo­s alguma bonificaçã­o, o governo não cumpre com suas obrigações e atrasa o pagamento. Além disso, o adicional é pago porque muitas vezes nós arcamos com o custo de trabalhar em escolas tão vulnerávei­s”, conta Tiago Luz, 40, professor de educação física.

“Gastamos mais para garantir nossa segurança para chegar até a escola ou ajudamos algum aluno que está passando necessidad­e. Não é um bônus que recebemos, mas uma compensaçã­o”, complement­a o docente da escola estadual Clovis da Silva Alves, em Itaquaquec­etuba, que até o ano passado era classifica­da como de alta vulnerabil­idade.

A unidade fica no meio de uma comunidade, com difícil acesso por transporte público. A escola também é considerad­a de alto grau de complexida­de de gestão, já que atende mais de 800 alunos.

A maioria dos professore­s que trabalham na unidade é contratada de forma temporária e muitos ficaram dois meses sem emprego neste ano, após a gestão Tarcísio mudar a forma de atribuição de aulas para o ano letivo de 2024.

“Muitos colegas estão com contas atrasadas depois de terem ficado dois meses sem receber nada”, diz Luz.

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Danilo Verpa - 23.out.23/Folhapress O secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder (à esq.), e o governador Tarcísio de Freitas

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