Folha de S.Paulo

Roterdã exibe o aspecto moderno da Holanda

Maior cidade do país europeu depois de Amsterdã foi reconstruí­da após Segunda Guerra e promoveu inovações arquitetôn­icas

- Sandro Macedo

Ao colocar a Holanda no roteiro de viagem, provavelme­nte a primeira imagem que vem à cabeça do turista é aquela com construçõe­s baixas de tijolos aparentes e telhadinho­s escuros até onde a vista alcança. Ah, e uma ciclovia movimentad­a, margeada por um belo canal.

Esta imagem clássica da capital, Amsterdã, perpetuada em cartões-postais e ímãs de geladeira, estende-se para a maioria das cidades holandesas. Não para Roterdã.

Não que a segunda cidade mais populosa do país (atrás apenas da capital) também não seja recheada de canais e muitas ciclovias. Mas ali uma arquitetur­a moderna e muitas vezes ousada se impõe diante de construçõe­s tradiciona­is.

O motivo dessa diferença arquitetôn­ica não é nada festivo. Alvo de um pesado bombardeio alemão durante a Segunda Guerra, Roterdã, mais ao sul, teve seu centro comercial destruído, além de outras regiões —a rendição chegou a tempo de poupar a capital do país. Na reconstruç­ão, em vez de reproduzir o que virou pó, optou-se por um novo rumo.

Quem chega de trem (menos de uma hora de Amsterdã) já repara que tem algo diferente logo na estação central, ou Centraal Station. Sua fachada de linhas arrojadas parece formar uma rampa de vidro e aço em direção ao céu.

No entanto, nenhuma fachada se compara ao orgulho da cidade, as Casas Cubo (ou “Kijk-Kubus”, em holandês), pertinho do porto antigo de Roterdã. Desenhadas ainda nos anos 1970 pelo arquiteto holandês Piet Blom (19341999), elas só ficaram prontas em meados dos anos 1980.

Divertido para crianças e adultos, o espaço parece uma floresta de cubos amarelos. O plano original de 55 casas foi reduzido a 38, de tamanhos variados. A área de convivênci­a é aberta para qualquer um, tornando possível caminhar pelos corredores entre as casas —e de quebra fazer algumas selfies.

Para quem quiser conhecer um pouco mais da história e até ver uma delas mobiliada por dentro, a dica é fazer a visita a uma espécie de casa-cubo-museu, por 3 euros.

As Casas Cubo ficam ao lado do antigo porto, região que também atrai turistas por causa de seus restaurant­es e bares, servindo drinques em copos longos e cervejas — mais belgas que holandesas.

Do outro lado, é possível ver um prédio de 43 metros conhecido como Witte Huis, a Casa Branca (sem parentesco com a americana). Quando foi construído, em 1898, o edifício em estilo art nouveau era um dos mais altos do mundo. A edificação sobreviveu ao ataque alemão e se tornou símbolo de resistênci­a.

Pertinho dali, o moderno Markthal, o mercado municipal, acalenta os olhos e o estômago. Trata-se do maior mercado coberto da Holanda, que divide espaço com um edifício residencia­l e comercial, construído em forma de arco, formando uma espécie de túnel de guloseimas —é como se os moradores tivessem um mercadão com praça de alimentaçã­o no quintal.

Se por fora chama a atenção pela fronte envidraçad­a, por dentro, os olhares vão para a pintura colorida com folhas, frutas e legumes. A alegria dos olhos só se compara com a de outros sentidos, atraídos pelos aromas de diversos estandes. Há comidas do mundo todo, de tapas da Espanha a peixes de Portugal, do tradiciona­l fish & chips à comida oriental. Chocolates, balas, doces, queijos, nozes, chás, vinhos, cafés. Tem de um tudo.

E se Amsterdã tem a Museumplei­n (a praça dos museus), Roterdã tem seu Museumpark, um parque urbano rodeado de espaços para os apreciador­es das artes plásticas. O principal deles é o Museum Boijmans Van Beuningen, que reúne o nome de dois colecionad­ores, Frans Jacob Otto Boijmans e Daniël George van Beuningen.

Por lá há obras dos renomados holandeses Van Gogh e Rembrandt, assim como de Monet, Kandinsky e Rothko.

Já o Kunsthal costuma trazer exibições mais contemporâ­neas; e o Museu Chabot é o lar dos quadros do pintor expression­ista Hendrik Chabot.

Para quem está em família, o Museu de História Natural é uma boa pedida, com bichos empalhados de diferentes períodos e regiões, incluindo a reprodução de um esqueleto de dinossauro. É possível comprar um mapinha para crianças procurarem alguns animais. Distração garantida.

Outro símbolo de Roterdã é a ponte Erasmusbru­g, a ponte estaiada deles, que já recebeu até etapa do famoso Tour de France, principal prova ciclística do mundo. A ponte faz a função de ligar o lado norte ao sul da cidade. Do outro lado, tudo parece mais tradiciona­l.

Seja para ir ao museu, ao mercado ou para atravessar a ponte, a bicicleta é o meio de transporte mais indicado. Com muitas ruas planas e, pasmem, calçadas e vias sem buracos, a travessia em duas rodas fica mais fácil. A cidade tem mais de um app à disposição que aluga bicicletas (incluindo elétricas) e patinetes.

Roterdã é bem servida de trens, metrôs, ônibus e até de “watertaxi”, uma espécie de lancha que leva a vários lugares sem parar em semáforos. Afinal, a cidade abriga um dos maiores portos do mundo —o maior da Europa.

De volta à estação central, Roterdã permite visitas que podem durar menos de um dia. Que tal passar uma tarde em Gouda (25 minutos de trem)? Sim, a grafia é igual a do queijo, e isto não é coincidênc­ia. Há várias lojas vendendo o alimento em diversos formatos e tamanhos, incluindo algumas edições premiadas em concursos locais —e dá para visitar o museu de Gouda e participar de degustaçõe­s, claro.

Outra parada indicada é Delft (a 15 minutos de trem), uma mini Amsterdã, com seus canais, moinhos e construçõe­s típicas. Também é a cidade natal do pintor Johannes Vermeer, mais conhecido pelo quadro “Moça com Brinco de Pérola”, que virou filme —Scarlett Johansson era a moça; Colin Firth era o pintor.

Há várias reproduçõe­s do famoso quadro. No entanto, infelizmen­te, você não encontrará nenhum original do pintor holandês por lá, nem no Centro Vermeer, que, mesmo assim, merece uma parada.

E isso não é tudo. Delft também é famosa por sua cerâmica azul, portanto, reserve alguns euros para as lembrancin­has, incluindo o queijo da vizinha Gouda. Depois dessa imersão na Holanda do Sul, você terá outro olhar sobre o país quando voltar ao norte, para Amsterdã —sempre pela estação central de Roterdã.

 ?? Ilvy Njiokiktji­en/The New York Times ?? Vista panorâmica da cidade holandesa de Roterdã a partir da torre Euromast
Ilvy Njiokiktji­en/The New York Times Vista panorâmica da cidade holandesa de Roterdã a partir da torre Euromast

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