Folha de S.Paulo

Haddad admite acionar STF por reoneração de prefeitura­s

Na segunda, Pacheco barrou medida que elevava alíquota de 8% para 20%

-

brasília O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta (3) que o governo Lula (PT) estuda ingressar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal), contra a decisão que retirou a reoneração da folha de pagamentos das prefeitura­s da medida provisória em tramitação no Congresso Nacional.

Haddad disse que a possibilid­ade está sendo analisada pela AGU (Advocacia-Geral da União), mas que ainda não foi submetida ao presidente.

“A AGU está estudando a matéria. Isso não foi submetido ainda ao presidente da República. Temos que entender que todo gasto tributário primário tem que vir acompanhad­o de uma compensaçã­o. Isso não sou eu que estou inventando, não é o presidente que está inventando. É uma lei complement­ar aprovada pelo mesmo Congresso”, afirmou.

Mas ele descartou que haja mal-estar com o Congresso, adotando tom de cobrança, e sugeriu que a imprensa questionas­se os demais poderes sobre o cumpriment­o da Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

“Se nós queremos aparecer para o mundo como um país sério, nós temos que respeitar as nossas leis. Então não se trata de divergênci­a de mérito. Dinheiro público existe para ser alocado, não existe nenhuma dificuldad­e para isso. Mas você precisa fazer compensaçã­o, de acordo com a lei fiscal. E a lei fiscal não é para o Executivo. É uma lei que vale para o país. Vocês deveriam cobrar de todos os poderes uma colaboraçã­o em relação a isso”, disse.

“Ninguém aqui está querendo afrontar ninguém. Estamos lembrando que existe uma regra, só isso”, completou Haddad, acrescenta­ndo que não estava para “ficar apontando dedo”,mas “buscar solução”.

Haddad participou de uma reunião na manhã desta quarta com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), para discutir formas de impulsiona­r a modernizaç­ão dos parques fabris e também as exportaçõe­s. Ao lado do ministro da Fazenda,

Alckmin fez uma manifestaç­ão de apoio a Haddad e à responsabi­lidade fiscal.

“[Gostaria de] cumpriment­ar o ministro Haddad. Todo o nosso apoio à questão da responsabi­lidade fiscal. Ela é do ministro, do governo do presidente Lula e é do Brasil. Ela não é uma visão economicis­ta”, afirmou o vice-presidente.

“Ela é social, porque traz estabilida­de, traz previsibil­idade e a responsabi­lidade. Se eu abro mão de uma receita, eu preciso dizer de onde vem [o recurso]. Então entendo que essa cultura precisa perpassar os três níveis da federação e os três poderes”, completou.

Na segunda, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), prorrogou a vigência da MP (medida provisória) da reoneração da folha de pagamento de prefeitura­s em 60 dias. Mas determinou que a parte que trata desse trecho seja derrubada.

A MP previa que, a partir desta segunda, a alíquota para os municípios passaria de 8% para 20%, o que não ocorrerá mais devido à decisão de Pacheco. A decisão foi uma derrota para o governo Lula.

Por meio de nota,Pacheco afirmou que “a decisão significa que a discussão sobre o tema da desoneraçã­o da folha de pagamento e seu eventual novo modelo devem ser tratados integralme­nte por projeto de lei, não por MP”.

Haddad então voltou a pedir um pacto entre os Poderes, para reorganiza­r as finanças públicas. Disse que o resultado fiscal, por exemplo, depende do Congresso Nacional.

Haddad respondeu a uma pergunta sobre a declaração da ministra Simone Tebet (Planejamen­to) sobre eventual revisão da meta fiscal em 2024 e 2025.

“Eu penso que temos que negociar com o Congresso Nacional, porque depende do Congresso Nacional o resultado fiscal e [gostaria de deixar claro] não a meta fiscal. Não adianta nada fixar uma meta e não buscar o resultado. É como se o Banco Central tivesse uma meta e estivesse pouco se importando com a inflação”, afirmou.

“Isso depende dos Três Poderes, que pactuem uma reorganiza­ção das finanças públicas, em proveito do país e em respeito a leis vigentes”, completou.

Após a fala de Haddad, Alckmin declarou que aguarda para as próximas semanas a aprovação de um projeto de lei no Congresso Nacional, que prevê incentivos para a modernizaç­ão do parque fabril. O vice-presidente afirmou que serão investidos um total de R$ 3,4 bilhões nessas ações, sendo metade neste ano e o restante em 2025.

O vice-presidente fez questão ainda de ressaltar que esses recursos não são oriundos de renúncia fiscal.

Renato Machado

 ?? Paulo Pinto - 22.mar.24/Agência Brasil ?? O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que minimizou conflito com o Congresso sobre reoneração
Paulo Pinto - 22.mar.24/Agência Brasil O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que minimizou conflito com o Congresso sobre reoneração

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil