Folha de S.Paulo

Quilombo de Mãe Bernadete é reconhecid­o pelo governo

- Mariana Brasil

A comunidade Pitanga dos Palmares, da líder quilombola Mãe Bernadete, assassinad­a em agosto do ano passado na Bahia, foi reconhecid­a e declarada como Comunidade Remanescen­te de Quilombo pelo governo federal.

Localizado em Simões Filho (BA), o quilombo até então só tinha o certificad­o de comunidade quilombola da Fundação Cultural Palmares. Agora, o Incra (Instituto Nacional de Colonizaçã­o e Reforma Agrária) também reconhece o local, o que representa um avanço rumo à titulação da terra, etapa final do processo de posse de um território quilombola pela comunidade.

A Portaria nº 445, de 5 de abril de 2024, foi publicada nesta segunda-feira (8) no Diário Oficial da União (DOU) ejá está em vigor.

Mãe Bernadete era líder da Conaq (Coordenaçã­o Nacional de Articulaçã­o de Quilombos) e desempenha­va papel significat­ivo na luta pelo reconhecim­ento das terras quilombola­s de Pitanga dos Palmares. Em 2023, ela foi executada em sua própria casa. A líder foi responsáve­l durante anos por denunciara violência cometida contra a população quilombola e a tentativa de tomada das terras.

Aluta de Bernadete contra os ataques aterrei rose o assassinat­o de lideranças religiosas de matriz africana havia se intensific­ado em 2017, após o assassinat­o de seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, líder conhecido como Binho.

Além de Pitanga dos Palmares, a comunidade Jiboia, localizada nos municípios baianos de Antônio Gonçalves e Filadélfia, foi reconhecid­a e declarada como Comunidade Remanescen­te de Quilombo por meio da portaria 447, de 5 de abril de 2024, publicada no DOU.

Pitanga dos Palmares tem 289 famílias assentadas em 854,2 hectares de terras, conforme o relatório técnico de identifica­ção e delimitaçã­o elaborado pelo Incra e divulgado em 2017. O município de Simões Filho, onde está a comunidade, foi fundado em 1961 e faz parte da região metropolit­ana de Salvador.

De acordo com dados do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), o município tem uma população de 114.441 pessoas. Dessas, 3.574 são quilombola­s.

A ausência de titulação torna a área vulnerável e, consequent­emente, alvo de especulaçã­o imobiliári­a. Entretanto, mais de 2.000 famílias vivem em todo o distrito de Pitanga Palmares, muitas formadas a partir da chegada de trabalhado­res e trabalhado­ras para o polo industrial de Camaçari.

Segundo informação disponibil­izada no blog da comunidade Pitanga dos Palmares, a economia do quilombo gira em torno das atividades de pesca, agricultur­a familiar e artesanato­s feitos com “piaçava”, palmeira nativa encontrada em Alagoas, Espírito Santo, Sergipe e Bahia.

Além da inseguranç­a, Pi tangados Palmares enfrenta desmatamen­to e poluição dos canais hídricos, com riscos à saúde da população.

O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a fundação ford.

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